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12/04/2008

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Carlos Vidal

Epígrafe estranha a deste post.
Retocar e retalhar agora um modelo de avaliação.
Estar disposta a substituí-lo já para o ano.
O que há aqui que cause a menor admiração?
A irresponsabilidade merece solidariedade?
Como é que se retalha e admite deitar fora uma coisa que é boa?
Eu não percebo, mas não quero polemizar sobre o assunto.
C. Vidal

Alexandre Pomar

Primeiro, tratou-se de afirmar um lugar político a partir do qual expresso opiniões políticas e de recusar que a crítica se confunda com a chicana politiqueira que preenche os telejornais. Segundo, não entendo o que quer dizer - censura uma posição dialogante e sempre aberta a negociações com princípios? defende o modelo na sua versão primeira? Não importa, não vale a pena polemizar aqui sobre o assunto. Terceiro: esbarrou na epígrafe?

Carlos Vidal

Caro Pomar
Com toda a consideração,
vamos a um breve comentário sobre a Ministra da Educação.
Creio sinceramente que aqui o populismo não é bom conselheiro. Não se pode acicatar o desdém sobre uma profissão para depois tentar-se reformar as modalidades em que ela se exerce. Eu presenciei, desde que esta ministra foi para o cargo, palavras inacreditáveis ditas sobre professores vindas de pessoas, algumas amigas minhas, que eu não esperava ouvir. Pessoas estimuladas pelo discurso em voga no governo.
Não me eram dirigidas tais palavras, porque onde lecciono o sistema de avaliação é apertadíssimo, e, além disso, as propostas de Maria de Lurdes Rodrigues não me dizem respeito.
Não se fazem reformas tentando primeiro uma adesão fácil das massas. É uma estratégia, mas é inviável. Porque supõe fazer reformas sobre humilhados. E isso é impossível. As pessoas, todas as pessoas têm integridade.
Portanto, o processo está inquinado desde o princípio. Dizia há pouco Adriano Moreira que há uma quebra de confiança irrecuperável entre as partes. Certo. Correctíssimo. Com a falta de educação e de respeito desta ministra não haverá qualquer reforma no ensino.
De resto, como o processo estava assente numa sentida humilhação, como sabe, qualquer que fosse o modelo de avaliação seria rejeitado. É sobretudo isto que move os professores, e não apenas a avaliação ou o modelo. Mas há algo aqui que é inconfessável. Ninguém o diz desta maneira. Mas, queira-se ou não, é desta maneira que as coisas são sentidas.
Todas as modificações ao modelo são a prova da sua incongruência.
Agora é tarde para Maria de Lurdes Rodrigues.

Quanto ao resto do post, e peço desculpa por o ter passado em claro, concordo inteiramente com a sua análise. Julgo que, como diz noutro post, é algo para esquecer; algo sem fundamento, nem político, nem científico.

Concordo com a sua ideia de uma agência agilizada de apoio a projectos já formulados e em vias de consolidação (exposições, ciclos temáticos, debates, etc).
Apesar de o conhecer bem, também já não suporto o jargão pós-colonial, que me parece uma forma acéfala de neocolonialismo, ou uma promoção de um politicamento correcto como a nova ideologia chique do capitalismo actual.

Cientificamente não prezo os conceitos desta onda, como o calão "hibridização", "negociação cultural", etc.

Creio que é mais interessante pensar-se que há história, realidades e conflitualidades. A arte lida com contradições e conflitos, não com "hibridações" moles e académicas. Além disso, tenho alergia à absolutização da ideia de "identidade".
Com toda a consideração. CV


Alexandre Pomar

Populismo ou adesão fácil das massas, desdém, humilhação... Não falamos da mesma pessoa. Noto também a fuga à análise quer do conteúdo ideológico dos processos de avaliação propostos (democraticamente impostos) quer das trincheiras corporativas de uma "classe" unida em torno da contraditória amálgama de frustrações e privilégios, que tem sido fácil instrumentalizar por quem faz a política do pior - mas a irresponsabilidade das oposições e a sua aliança objectiva vai pagar-se nas urnas e já se paga nas sondagens. A ideia falsa de que se trataria de uma profissão com responsabilidades e direitos especiais (militares, juízes, médicos, jornalistas, camionistas, agricultores, etc, etc, também são todos especiais aos seus próprios olhos) - são preconceitos antidemocráticos. A inaceitável separação entre avaliação e progressão nas carreiras... Também estou a assistir à distância, mas tentei ler e ver todas as entrevistas e debates - admirei sempre a firmeza e a capacidade de explicar e dialogar.
Felizmente estamos de acordo quanto a mais uma obra de fachada e à sua perversa fundamentação neocolonial.

Carlos Vidal

A frase "perdi os professores, ganhei a opinião pública" (ela foi dita, não sei se exactamente assim) é uma opção - que a rua adira às minhas medidas; depois, posso aplicá-las.
O problema não é ideológico, nem apenas político (contra interesses instalados, direitos adquiridos, facilitismo na progressão de carreiras...). Poderíamos discutir isto indefinidamente, sem acordo. O problema é o da predominância de uma "ciência" esquisita, a Pedagogia (coisa que o secretário Valter Lemos julga decisiva, pois é a sua especialização), um factor que o meu caro não viu ser o novo politicamente correcto no experimentalismo educativo, a predominância dessa "ciência" sobre o saber. Em circunstância alguma eu aceitaria esse predomínio da "ciência pedagógica" sobre o saber.
Nas Belas-Artes, aquando de uma reforma de cursos, fui dos que me bati (fiz coro com superiores hierárquicos) pelos saberes "inúteis", como os 2 anos 2 de Geometria Descritiva, uma coisa imóvel e "inútil". Por mim, sempre que eu possa fazer alguma coisa, não ganhará espaço o utilitarismo, o pragmatismo, o cientifismo burocrático-avaliativo de Valter Lemos, pelo menos se não o posso impedir que triunfe na minha escola, posso impedir que triunfe na minha casa, ou na minha mesa de trabalho.

Quanto ao pós-colonialismo como "ciência" e domínio de saberes e "cruzamentos", vejo-o até aparentado ao cientifismo pedagógico que acima assinalei. São duas coisas chiques pós-moderneiras (como diz um colega meu) que se vão impondo: o meu caro Pomar rejeita o chique "pós-colonial" (e bem), mas aceita o chique "pedagogico-científico" (mal, na minha opinião). Concordamos numa rejeição, não concordamos na outra rejeição. Eu rejeito o "pós-colonialismo" e a "nova ciência pedagógica" (feita de relatórios e mais relatórios e mais relatórios com muitas reuniões e planificações à mistura). O meu caro critica e bem o primeiro cliché, mas aceita o segundo. Para mim são dois clichés de fachada.
Conversa infinita mas, para já e na minha modesta opinião, proveitosa.

Alexandre Pomar

Terminemos: distingo totalmente o que é a opinião pública a que a ministra se dirige (projecto de razão democrática) e a rua (a que "descem" professores que pouco se reconhecem como tal).
Julgo que a Pedagogia que se propõe agora vem substituir Pedagogias que tiveram curso anterior, mais experimentalistas antes, e com deficientes provas dadas. Agradeço a colaboração

Roteia.

Chego atrasado a este debate mas não resisto. Sobre o Africa Cont tem razão o Alexandre, sem dúvida. Já quanto à Ministra da Educação revejo-me nos comentários de Carlos Vidal. Gostaria aliás de acrescentar que, a meu ver, um dos principais problemas do actual estado do ensino básico e secundário em Portugal reside na formação ministrada pelas Escolas Superiores de Educação, que investem nas pedagogias em detrimento da especialização académica-científica, substituindo-se assim às verdadeiras práticas universitárias. Isto faz-me lembrar os conselhos de uma ilustre pedagoga de uma ESE, enviada há anos atrás à minha Escola pelo ME, que advogava que cada professor em todas as aulas devia preencher fichas individuais de avaliação de todos os alunos da turma. E justificava com a necessidade de os professores a qualquer momento poderem defender-se de eventuais queixas ou recursos dos pais dos alunos. Até parece mentira, mas é este tipo de mentalidade "avaliatória", doentia e desnecessariamente complexa, defendida por gente anda há muito desfasada das práticas docentes no terreno, que a Ministra pretende agora fazer passar como necessária para avaliar o desempenho dos professores.

Alexandre Pomar

Obrigado pela intervenção sobre o tema; quanto ao resto, parece-me que "os professores" (estranho colectiva, estranha corporação) ainda não perceberam que se foram tornando algo/muito/demasiado insistentes, sem conseguirem convencer "os outros" de que uma amálgama de queixas e insatisfações é uma justa luta. A certa altura nota-se que está dum lado uma ordem democrática que importa defender e do outro uma "agitação" onde espanta que possa haver causas comuns - não há certamente. Esperemos que entendam que não "os" entendemos, e que já nem "os" ouvimos.

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