ARQUIVO EXPRESSO 25.9.99
Nova direcção no Soares dos Reis:
Lúcia Almeida Matos
O Museu Soares dos Reis espera o arranque da fase final da sua renovação. (As obras tinham-se iniciado em 1992)
O MUSEU Soares dos Reis tem, desde ontem, uma nova direcção, com a tomada de posse de Lúcia Almeida-Matos, primeira classificada no concurso que recentemente teve lugar para aquele cargo. Após numerosos anos de apagada existência, que em parte coincidiram com a realização de obras de beneficiação ainda não concluídas, aguarda-se no Porto que o museu venha a retomar o lugar de primeiro plano que lhe deverá caber entre as instituições culturais da cidade.
Docente de História de Arte na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), Lúcia Almeida-Matos fez um mestrado na Universidade de Syracuse, em Nova Iorque, apresentando um estudo sobre Aurélia de Sousa («A.S., a Provincial Woman Artist of Portugal, 1866-1922»), e está a terminar uma tese de doutoramento sobre a escultura em Portugal no séc. XX. Nessa área de investigação, organizou, em 1997, o seminário internacional «A Figura Humana na Escultura do Século XX», que contou com a presença do historiador e crítico norte-americano Leo Steinberg, e uma exposição de âmbito nacional, na Alfândega do Porto, no ano seguinte. Desde 1989, foi membro dos Conselhos Pedagógico e Directivo da FBAUP e era directora do respectivo museu, cujo projecto relançou a partir de 1996.
A nova directora sucede a Mónica Baldaque, em funções desde 1986, depois de ter sido nomeada em 1982 directora do efémero Museu Nacional da Literatura. Conservadora dos quadros da Câmara do Porto e também pintora, Mónica Baldaque, que é filha de Agustina Bessa-Luís, fizera saber inicialmente que não pretendia recandidatar-se à direcção do museu, mas acabou por apresentar-se a concurso, ficando classificada em segundo lugar. Em consequência, apresentou um recurso interno que foi indeferido pelo ministro da Cultura e viria em seguida a recorrer para o Tribunal Administrativo, sob a alegação de ilegalidade formal da admissão a concurso da candidata vencedora, tendo também solicitado judicialmente a suspensão da respectiva nomeação, o que foi recusado pelo tribunal, antes de se pronunciar sobre a matéria de fundo. Em causa está o facto de Lúcia Almeida-Matos ser assistente contratada (embora com 11 anos de actividade), o que, segundo uma interpretação muito restritiva da lei, não permitiria considerá-la como funcionária pública. Entretanto, no currículo científico de Mónica Baldaque, conta-se o insólito prefácio à retrospectiva de Silva Porto, em 1993, onde lamentava que o pintor tivesse partido como bolseiro para Paris («Antes se tivesse ficado pelas pequenas tábuas esboçadas, de figuras e paisagens familiares e sentidas!»).
A presente nomeação insere-se no processo de renovação das direcções dos museus nacionais resultante da aplicação da lei 49/99, que exige o preenchimento, por concurso, de todos os cargos de chefia na função pública. Nos últimos meses registaram-se as nomeações como directores de Paulo Henriques para o Museu do Azulejo e Pedro Lapa para o Museu do Chiado, onde eram anteriormente directores interinos, e de Adília Alarcão para o Museu Machado de Castro, em Coimbra, vinda do Museu de Conímbriga, no qual foi substituída por Vergílio Ferreira, técnico do mesmo Museu. No Museu Alberto Sampaio, de Guimarães, foi nomeada Isabel Fernandes, que transitou do Museu da Olaria, de Barcelos; no Museu Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, Ana Margarida Ferreira, vinda do Museu da Figueira da Foz; no Museu da Música, Helena Trindade, responsável pela anterior fase de instalação; e no Museu Malhoa, das Caldas da Rainha, Matilde Couto.
Os concursos têm-se realizado à medida que cessam as anteriores comissões, estando previstos para os próximos meses a sua efectivação nos Museus dos Coches, de Arqueologia, Cerâmica (Caldas), Grão Vasco (Viseu), Abade de Baçal (Bragança), etc. De acordo com a lei actual, as novas nomeações realizam-se pelo prazo de três anos, podendo ser renovadas ou dar lugar à abertura de novos concursos.
Entretanto, o Museu Soares dos Reis manteve encerrada, nos últimos meses, a sua exposição permanente, devido a problemas decorrentes do estado de conservação do telhado, reabrindo no final de Outubro para apresentar uma mostra integrada nas comemorações do centenário de Almeida Garrett, sobre o Romantismo nas artes plásticas nacionais, a cargo da respectiva equipa técnica. Mais tarde, deverá ser reinstalada no primeiro piso do museu a colecção de pintura, prolongada até às primeiras décadas no século XX. Prevê-se também que, em articulação com o horizonte cronológico adoptado pelo Museu de Serralves, que justificou a alienação de obras que antes lhe foram atribuídas, venha a verificar-se um alargamento do período histórico contemplado pelo Soares dos Reis até às décadas de 50 e 60. Por outro lado, vai ser lançado em breve o concurso para a execução da fase final do projecto de renovação do museu, elaborado por Fernando Távora, aguardando-se que as obras estejam concluídas em 2001, a tempo da Capital Cultural, com a abertura do segundo andar, destinado à colecção de artes decorativas, e de uma sala de exposições temporárias e um auditório a construir nos jardins, permitindo então a instalação no piso térreo da colecção de arte antiga e, nomeadamente, do acervo de escultura medieval.
Delineado em 1989, no quadro do vasto programa de obras definido por Teresa Gouveia e António Lamas, o processo de renovação do Palácio das Carrancas acabou por prolongar-se por mais de uma década, com uma lentidão que compromete sucessivos governos. Iniciada uma primeira fase de obras em 1992, verificou-se a abertura de uma ala de exposições e de novas áreas de circulação no ano seguinte, por ocasião da exposição Silva Porto, enquanto a instalação da colecção de pintura e escultura, com a abertura da sala dedicada a Soares dos Reis, ocorreu em 1996. Recentemente, entrou em funcionamento um edifício anexo, adaptado para acolher os serviços administrativos, a biblioteca e pequena uma área de reservas.
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