Capa do catálogo da exp. "Réplica e Rebeldia: artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique", 2006, sobre foto de Tomás Cumbana (n. Maputo, 1972)
Está-se sempre, em Portugal, a querer começar do princípio e é costume desbaratar-se antes o pouco que já se iniciara.
Em matéria de apresentação da arte africana contemporânea - que é agora a ambição do projecto África.Cont e onde se incluiria a generalidade das expressões culturais e todo o continente -, as etapas anteriores, mais ou menos perdidas, incluem – 1, o cancelamento em 2007 da itinerância por Lisboa e em outros países do Norte da exposição “Réplica e Rebeldia”, inaugurada em Maputo, 2006, e produzida pelo Instituto Camões; 2, a transferência do programa temporário (2001-2004) Artafrica criado pela Fundação Gulbenkian para a Faculdade de Letras de Lisboa, em 2006; 3, a não continuidade da afirmação de alguma identidade africana e brasileira da feira de arte de Lisboa, depois duma experiência em 2004; 4, o reforço do apoio do Instituto Camões ao Photofesta de Maputo, em 2004, que não teve sequência no local nem se projectou para Lisboa; 5, a interrupção em 2004 de uma vertente africana e brasileira assumida estrategicamente pela colecção de arte da CGD, desde 1999, e enquadrada numa lógica mais ampla de programação da Culturgest, que se interessara desde 1995, pelo menos, pelos diálogos interculturais.
Na área do espectáculo recorde-se o África Festival, promovido pela CML durante as Festas da Cidade, que não passou da 3ª edição em 2007, apesar de 2008 ter sido o Ano Internacional do Diálogo Intercultural, a decorrer com muito escassa visibilidade.
Por sinal, os projectos referidos em 1, 3 e 5 foram da responsabilidade de António Pinto Ribeiro, programador artístico da Culturgest desde 1992 a 2004, responsável pelo ciclo “multiculturalista” O Estado do Mundo, organizado pela Fundação Gulbenkian no contexto comemorativo dos seus 50 anos, coordenador dos programas Gulbenkian Criatividade e Criação Artística e Distância e Proximidade, este em 2008. A iniciativa referida em 2 foi dirigida por José António Braga Fernandes Dias, antropólogo e professor da Faculdade de Belas Artes, onde coordena o Mestrado em Estudos Curatoriais, comissário do Ciclo Ruy Duarte de Carvalho no CCB em 2008, além de consultor do Serviço de Belas Artes da Fundação Gulbenkian. A propósito do projecto África.Cont, da sua autoria, a imprensa apresentou-o como especialista de arte africana, o que não foi confirmado (a sua área de especialização como antopólogo foi a Amazónia, a que dedicou uma notável exposição em 1994, no Porto).
Segundo disse ao Jornal de Notícias, a propósito da acção do África.Cont, "os PALOP não serão privilegiados porque já há muitas entidades a trabalhar com esses países. O centro não será criado em torno dos países de influência portuguesa, mas sim todo o continente, desde o Mediterrâneo até ao Cabo", salientou." (Aquele diário não esclarece quais são aquelas possíveis entidades).
Há outros acontecimentos recentes, além de mostras individuais de artistas africanos ou de origem africana em várias galerias e Museus (Serralves e Chiado; Perve, 111 e 3+1, por exemplo), que podem ser referidos, fora da órbita do Estado e da Gulbenkian: 1 - a abertura e o encerramento da Livraria Mabooki (na Rua João Pereira da Rosa, 8, Bairro Alto, Lisboa (2004-05?), onde, entre outras actividades, como o ensino do kriolo caboverdiano, se apresentou uma exposição de pintura urbana do Congo da colecção de Bogumil Jewsiewi, com apresentação de um livro da sua autoria; 2 - a exposição “Lisboa – Luanda – Maputo”, comissariada por Victor Pinto da Fonseca no Terrão Norte da Cordoaria Nacional, em 2007; a abertura da galeria African Contemporary, na Rua da Rosa, onde foram expostas obras de Chéri Samba, Kivuthi Mbuno, George Lilanga e outros (entretanto prepara a abertura noutro local).
(continua)
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