Está resolvido o equívoco da escolha do cineasta Pedro Costa para a Bienal de Veneza, confundida por um funcionário expedito com o festival de cinema do mesmo nome, segundo uma interpretação veiculada hoje pelo jornal Público a partir de um eloquente silêncio do director-geral das Artes. Segundo outras fontes, ou as mesmas, mas ainda não adiantadas pelo mesmo matutino, o Ministério da Cultura está agora a estudar com muita serenidade duas outras hipóteses, ou duas fugas para a frente que lhe permitam salvar a face, de modo a resolver o imbróglio em que se meteu. Uma delas passa por oferecer o pavilhão de Veneza a Diogo Infante, optando por uma representação de cariz performativo, de grande originalidade, com a vantagem de o MC se libertar assim, com a mesma cajadada, de outro equívoco anterior, a indigitação do actor para o papel de director artístico do Teatro Nacional D. Maria II. Uma outra possibilidade que encontra grande aceitação nos meios da arte mais bem informados seria a de seguir o exemplo da Bienal de São Paulo e manter o pavilhão totalmente vazio durante todo o evento. Depois da parede espelhada que foi levada por Portugal à Bienal de Arquitectura, esta segunda hipótese revelar-se-ía de um grande rigor conceptual, elevando o vazio de ideias a níveis pouco comuns.
Aspecto da área central da Bienal de São Paulo, acolhida como um grande êxito crítico
Antes deste episódio, que concedeu uma notoriedade raramente alcançada entre nós à obrigação de levar pelo menos um qualquer artista, de dois em dois anos, à Bienal de Veneza, o MC começara por ceder a múltiplas pressões que visavam impedir a designação da artista Joana Vasconcelos como representante oficial. Usou-se a alegação de que a escultora não é representada por qualquer galeria nacional, pelo que a sua escolha não seria lucrativa para o sector do mercado de arte (mas o mesmo acontecera com Pedro Cabrita Reis, e o argumento só pode ser entendido como reconhecimento da importância do itinerário internacional de J.V.). Também se pretendeu que sempre foi habitual designar em primeiro lugar um comissário, que por sua vez escolheria o artista oficial, o que este não iria verificar-se - o argumento é inteiramente falso, ao longo da última década, excepto quanto à representação patrocinada por José Sasportes, que designou para o cargo de seleccionador o director do Museu do Chiado, segundo uma lógica de inerência de funções. A independência da carreira da artista face às rotinas do poder institucional vigente e em relação a algumas autoridades críticas tidas como convincentes foi também considerada um mau exemplo, num sector sempre reverente e disciplinadamente silencioso. Ignora-se ainda, por outro lado, se Joana Vasconcelos virá a aceitar representar Portugal em Veneza, se tal lhe for solicitado.
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