No programa chamado Câmara Clara, ao domingo na RT2, da Paula Moura Pinheiro, o próximo tema parecem ser os museus e, pelo menos como aparente pretexto, o África.Cont. Estava a pensar que a coisa tinha desaparecido com a digestão do jantar oficial no Pavilhão, e que era só eu que me interessava pelo assunto. Afinal:
Vai-se analisar "de forma implacável"... A publicidade é soberana.
Por acaso, fiquei a saber por uma pesquisa internética que o Museu José Malhoa, nas Caldas vai reabrir a 17 de Dezembro (ADIADO), e que o Museu de Aveiro abrirá a 18 (ADIADO), depois de longos encerramentos. O José Malhoa teve projecto de reabilitação do Arq. João Santa Rita, e o de Aveiro é de Alcino Soutinho. A 16, abrirá o andar nobre do MNAA depois de obras de requalificação, com uma pequena mostra de Rembrandt (VER NOTA). Se se confirmar, temos acontecimentos a festejar.
Também o do Douro, que é outra história, está marcado para 20 (já adiado desde dia 15). Vamos ter <não tivemos> uma roda-viva museológica que já devia estar a ser "mediatizada".
E diz-se que serão reinaugurados em 2009 o de Évora (Hestnes Ferreira) e o de Machado de Castro de Coimbra (Gonçalo Byrne), que anda em obras desde 1991, pelo menos, com outro arquitecto até 1997. (ver "Pelos museus em 2000") Ainda bem que há eleições.
A propósito tenho imensas reservas quanto ao predomínio da assinatura dos arquitectos sobre os os programas dos museus e o uso a dar aos edifícios e às colecções.
O caso do Soares dos Reis (Fernando Távora), que foi de 1992 a 2001, é lamentável, com uma pesadíssima intervenção que a pretexto de "renovar o discurso expositivo" criou uma estrutura muito rígida para a colecção, que na pintura começa pelas 1ªs academias do séc. XIX, fazendo desaparecer os dois quadros de Jean Clouet que são do mais importante que lá há ou havia, pertencentes às Colecções da CMP. Um deles será o retrato de Margarida de Vallois que veio para Portugal para se negociar o casamento de D. Sebastião, mas o menino ainda era muito nov e a história e a Reine Margot ainda dariam muitas voltas.
Não sei agora se é este retrato - não é: este pertence ao Musée Condé, Chantilly - ou outro parecido (houve vários, para vender a rapariga em várias cortes: à época a arte não era felizmente "autónoma").
Mas como é que a Drª Raquel, quando foi directora dos Museus, admitiu que esta obra não fosse uma das mais destacadas do "itinerário expositivo"? Como é possível que continuem desaparecidas os dois retratos de Clouet? E o mais que por lá existe?
A última vez que vi essa colecção foi em 2006. Á data não havia espaço para mais do que isto:
Galeria do Palácio, Porto, até 3 de Setembro
Expresso Actual 26-08-2006
COM a renovação do Palácio dos Carrancas (1992-2001), o itinerário da colecção de pintura prescindiu das peças mais antigas do acervo para se iniciar num século XIX já romântico. Esta exposição da iniciativa da Câmara, sem apoio informativo, espacialmente improvisada e demasiado fugaz, recorda o antigo espólio do Museu Municipal colocado em depósito no Museu Nacional (1942) e permite descobrir ou reencontrar importantes peças não expostas em permanência. Com destaque para duas obras emblemáticas de Vieira Portuense e Domingos Sequeira (Fuga de Margarida de Anjou e Junot Protegendo a Cidade de Lisboa), ou para os retratos franceses pintados por François Clouet do rei Henrique II e da sua filha Margarida de Valois. Por essa altura (1561) teria uns oito anos e era noiva prometida do «nosso» D. Sebastião - o seu retrato (este?) foi enviado pela mãe Catarina de Médicis e muito apreciado pela corte, mas viriam a ser outros o destino nacional e o da futura «Reine Margot» (ele rei virgem, ela dita ninfómana). Um pequeno núcleo de pintura flamenga, mais duas Santas (Catarina e Luzia) de Vasco Fernandes e outras obras, para além de núcleos de escultura e cerâmica, comprovam o valor do espólio, em grande parte oriundo da antiga colecção de João Allen.
Outro caso inacreditável é o Museu Abade de Baçal em Bragança, que fez desaparecer as colecções etnográficas constituintes do seu património histórico. Não sei nem vou ver quem foi o arq., mas faltou ali alguma informação sobre o "subalternisno", a corrente paralela ao poscolonialismo que valoriza em especial os objectos culturais das classes mais "baixas". Ficou todo o museu para os objectos das elites provinciais, coisas de Igreja, panejamentos e pratas, ferragens, adereços e coleccionismos dos poderosos, com uma pequena colecção de pintura. Quase sempre uma chatice em cenário de luxo, com uma estatégia de design modernaço por onde se perdeu grande parte do espaço disponível. Felizmente, quando lá fui 2006 tinha uma exposição sobre máscaras apresentada por Benjamim Pereira (vem a propósito dizer hoje que foi o único não Prémio Pessoa que sempre lamentarei.)
Talvez a Drª Raquel e o antropólogo Pais de Brito tivessem alguma coisa a dizer sobre isso.
Exemplo contrário de sucesso foi o Museu Grão Vasco de Viseu, reaberto em 2004 com projecto de Souto Moura. Mas aí, onde a museologia se equilibrou com o estilismo arquitectónico dos outros casos, havia uma directora com vontade própria, a Dalila Rodrigues. Sabe-se como essa determinação lhe trouxe depois grandes dissabores em Arte Antiga, por efeito de vergonhosas movimentações corporativas - já em 2007! **
E talvez fosse agora o momento de começar a transferir a gestão e a tutela de vários museus de âmbito local ou regional para as cidades ou regiões.
Se houver oportunidade outras questões associadas ficam para depois. E uma gripe deu tempo para revisitar arquivos...
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** Consultar "Dalila Rodrigues" ou categoria Museus
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