Carlos Fragateiro, há tempos afastado do Teatro Nacional em obscuras circunstâncias, deixou registado no Público de hoje o que seriam alguns dos seus planos e projectos de cooperação previstos para a temporada que já deveria ter aberto (alguns certamente dependentes de orçamentos adiados e de outras parcerias condicionadas). Com eles se deveriam ampliar circulações que dessem sentido a um projecto público de teatro centrado no Rossio e aberto a outros destinos, um projecto nacional e internacional.
Colocando de parte o resto das considerações, é útil ficar com nota do que se interrompe, mais uma vez com suspensão de eixos estratégicos apenas esboçados. O espectáculo Tanto Amor Desperdiçado, encenado por
Demarcy-Mota, tinha sido uma das aliciantes experiências da temporada 2007/08 (porque
para os nossos consagrados e sempre muito queixosos personagens
teatrais já dei, e nunca mais...).
"Enquanto isto, e numa altura em que se pretende afirmar Lisboa e Portugal como uma plataforma internacional no domínio do encontro e cruzamento de culturas, deixaram-se cair:
- a participação do Dona Maria nas comemorações dos 200 anos da chegada da corte ao Brasil;
- a participação de criadores portugueses na produção do texto que ganhou o concurso de dramaturgia António José da Silva que acabou de estrear no Brasil;
- o projecto Nação Crioula, de José Eduardo Agualusa, que cruzaria criadores do Brasil, Angola e Portugal;
- a montagem, com o grupo Gungu de Moçambique, do texto "Viagens", de Mia Couto;
- a continuação da colaboração com os Fidalgos da Guiné-Bissau;
- a criação de um grande fresco sobre a guerra colonial, da autoria do escritor Carlos Vale Ferraz, encenada pelo António Pedro Vasconcelos;
- a continuação da carreira de "Tanto Amor Desperdiçado", de Shakespeare, produção luso-francesa que, depois da ida ao Festival de Nápoles, foi convidada para ir a Moscovo em 2010, e a integração numa rede europeia que inclui parcerias de cidades como Madrid, Paris, Nápoles, Manchester e Sibiú;
- a co-produção com a companhia da encenadora luso-canadiana Paula Vasconcelos, sobre "O Idiota", de Dostoievski, a estrear em Montreal, em Novembro de 2009.
(...) quando se fecham teatros como o Villaret, uma sala para as dramaturgias contemporâneas, e a Politécnica, para os novos criadores e para os projectos mais experimentais, ou quando no primeiro dia de ensaios se anula a produção do Libertino, de Eric-Emmanuel Schmidt, com encenação de Fonseca e Costa."
Sabe-se pouco ou nada das intenções da srª professora e o actor Infante
já por lá estará, promovido do Maria Matos ao Dona Maria II numa má
cena de reality show, enquanto o Jorge teria começado a ensaiar
Pirandelo. É tudo muito confidencial e não se sabe quem dirige o quê (virão esclarecimentos no Diário da República?). Não importa: as manobras para que tudo fique sempre na mesma, sob a alta inspiração de uns magnos criadores ditos independentes e os seus assessores muito dependentes, voltaram a ter uma vitória. A oportunidade parecia propícia a outras lutas, mas teremos mais do mesmo. Esta área foi abandonada aos seus tiques e à sua "tralha" (como diz o Público no título das escolhas do anos de 2008).
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