O aparecimento de um mercado de provas fotográficas - tal como hoje o conhecemos - é uma coisa recente, que acontece pelo fim dos anos 60 e tem importantes desenvolvimentos já nos finais dos anos 80, com a presença da fotografia nas feiras de arte e os primeiros leilões especializados em fotografia - a 1ª feira de fotografia Paris-Photo realizou-se em 1997. Parte desse mercado foi integrado ou absorvido no mercado mais amplo da arte em geral (o mercado do ready-made, do objecto, da imagem em geral) sem se extinguir o mercado próprio da fotografia e sem se estabelecerem fronteiras definidas e permanentes entre esses dois mercados só em parte coincidentes (de fotografia e de arte contemporânea).
O tema, numa sintética abordagem cronológica* e incluindo as suas implicações de ordem legal (nºs de tiragens e classificações), é abordado num extenso artigo publicado por
Nathalie Moureau et Dominique Sagot-Duvauroux, « La construction du marché des tirages photographiques », no último nº da revista "Études photographiques", nº 22 de setembro 2008, disponível no site: http://etudesphotographiques.revues.org/index1005.html
Trata-se da revista da Sociedade Francesa de Fotografia (Société française de photographie) - uma velhíssima instituição que recuperou nos últimos anos um razoável dinamismo e onde coexistem sem atrito visível os 170 anos da fotografia e a fotografia como arte contemporânea. É presidida por Michel Poivert: http://www.sfp.photographie.com/
Vite Vu é o nome do blog mantido pela SFP (a não perder a pior fotografia de todos os tempos, assinada pela Annie Leibowitz para o calendário Lavazza 2009 )
* Quanto à formação do mercado da fotografia, que é essencial para se conhecer a história da recepção e da circulação da fotografia, o artigo citado é incipiente e mal orientado - é por vezes anacrónico e tende a fazer depender o crescimento do mercado específico da fotografia da valorização das produções fotográficas dos artistas plásticos ("ce n’est qu’à partir des années 1960 que s’amorce l’essor d’un marché qui ne s’épanouira réellement que dans les années 1990. Pour ce faire, la photographie adopte les conventions du marché de l’art: qu’il s’agisse des réseaux de diffusion ou des critères de qualité.")
O registo de algumas datas é útil, embora incompleto:
Aux États-Unis,la galerie Lee Witkin , qui ouvre en 1969, est considérée comme la première expérience viable d’une galerie spécialisée dans la photographie, suivie par Tennyson Schad qui inaugure la Light Gallery en 1971 ou encore la Siembab Gallery à Boston et la Focus Gallery à San Francisco. L’Américain Harry Lunn, d’abord spécialiste du marché de l’estampe, joue un rôle clé dans le développement d’un marché organisé et international, d’abord comme collectionneur et expert, puis comme marchand.
En Europe, la galerie Il Diafframa ouvre dès 1967 à Milan. La Photographers’ Gallery voit le jour à Londres en 1971. S’ouvre ensuite en 1972, à Cologne, la galerie Wilde, parallèlement à la première exposition de photographie à la Documenta de Kassel. À Paris, la galerie Agathe Gaillard fait office de pionnière avec son ouverture en 1975 suivie de près par la galerie Octant (Alain Paviot) en 1977. Au Japon, la Zeit Gallery de Tokyo est créée en 1978.
Dans le même temps, les galeries d’art contemporain commencent à s’intéresser à la photographie, dont le rôle dans l’innovation artistique s’affirme de plus en plus à travers des mouvements comme l’art conceptuel, le land art ou le pop art. Aux États-Unis, dès 1971, le célèbre marchand Leo Castelli accueille des photographes dans sa galerie, suivi entre autres par la Malborough Gallery’s ou la Sonnabend Gallery. En France, la galerie Yvon Lambert figure parmi les premières à promouvoir la photographie contemporaine. Cet exemple sera ensuite abondamment imité dans les années 1980 (Galerie de France, Baudoin Lebon, Durand Dessert…)."
**Alfred Stieglitz:
1905, Little Galleries of the Photo-Secession > 295... até 1917;
1925, Intimate Gallery...
1929, an American Place... até à morte em 1946
Julien Levy (1906-81):
1930, expõe Atget na New York Weyhe Gallery, onde trabalha no regresso de Paris (a livraria de Erhard Weyhe e a galeria dirigida por Carl Zigrosser)
1931, abre a sua galeria 602, Madison Avenue com uma retrospectiva da fotog. americana
...terá mais três sucessivas moradas até 1949
e tb, desde 1929, os Delphic Studios, gal. dirigida por Alma Reed, onde Edward Weston expôs em 1930 e em 31 se fez a 1ª exp. de Moholy-Nagy.
Em Paris, no início dos anos 30 expõem-se fotog. na galeria livraria La Pléiade, na galeria Le Chasseur d'Images (Claude Nori, 2008)
(a a presentação de fotografias é minoritária na actividade destas galerias, tb dedicadas às artes plásticas)
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Entretanto, no Guardian de hoje (2 Jan.) antecipam-se no artigo "Snappy new year: photography books for 2009", de Liz Jobey, os livros de fotógrafos anunciados para 2009, a começar com mais um Robert Frank, na sequência das comemorações da edição de The Americans, 1958 em França, 1959 nos Estados Unidos.
http://www.guardian.co.uk/artanddesign/2009/jan/01/robert-frank-photography-books
Também não será Paul Graham a despertar grande expectativa, e a notícia continua com Jim Goldberg, prémio Cartier-Bresson de 2007. Com Danny Lyon, com duas importantes reedições de Robert Adams, com o primeiro livro a cores de Chris Killip, e com mais uma achega à história do photobook (o Japão dos anos 60 e 70, na Aperture. Mas é mais uma vez pela mão de Martin Parr que alguma coisa diferente se pode descobre: "In February, Martin Parr continues his own list of commissioned titles for the Nazraeli Press with the Dutch photographer Raimond Wouda's School ($60), a study of the communal areas in which schoolchildren meet and interact."
Raimond Wouda é mais um interessante fotógrafo holandês (n. Amsterdam, 1964) : http://www.raimondwouda.com
Pode associar-se à sólida tradição documental nacional, usando a câmara de grande formato para fotografar, em projectos temáticos e de longa duração, a paisagem natural e humana, lugares públicos e comportamentos sociais e de grupo, com um sentido excepcional das relações de escala e de espaço, nomeadamente a partir de perspectivas elevadas.
Raimond Wooda, Pallas Athene College, Ede, 2005 - foto do livro "Schools", realizado em estabelecimentos do ensino secundário
“Within contemporary photographic practice there is much work being done with the 5/4 camera. The resulting large and beautiful prints can be both seductive and highly detailed. It is also possible to see many brilliant explorations of institutions or particular places usually done with a medium or small format camera. I cannot think of any other project where you get both of these ideas running together so seamlessly. This is part of Wouda’s great achievement in these pictures.” — from the Introduction by Martin Parr.
Por aí ( http://www.nazraeli.com ) se chega a uma editora de Portland com um catálogo aliciante, onde abundam as edições muito limitadas e de luxo.
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Apesar da importância da fotografia de exposição, que é favorecida pelas impressões de grande formato (o quadro fotográfico, neo-picturialista ou não) e proporcionou o alargamento do coleccionismo fotográfico em igualdade de condições com outros suportes e objectos da arte contemporânea, a relação com o livro (e em especial com a lógica do photobook como "livro de artista") continua a ser um elemento muito significativo - que se prolonga ou não na imprensa como reportagem ou portfolio. A presença habitual de um sentido documental, associando a ideia de um projecto de observação à noção de série, a existência de um significado social implícito ou explícito como observação ou crítica do mundo, marcam grande parte do trabalho dos fotógrafos. As questões sobre a natureza e a autonomia do medium, sobre os seus limites e possibilidades, que caracterizam o binómio discursivo do formalismo-essencialismo próprio da lógica que se institucionalizou como modernismo tardo-vanguardista e depois como pós-modernismo, substituindo a utopia pela ironia, dão lugar, na prática dos fotógrafos-artistas e na circulação das suas imagens, a uma dinâmica permanente de actualização das intenções e dos processos documentais - mantendo uma linha difusa mas muito viva de continuidade com a pluralidade das práticas associadas ao documento, ao testemunho e ao arquivo.
São fotografias e podem ser arte contemporânea quando cooptadas pelos seus espaços e discursos próprios - por vezes depois de adaptadas às condições práticas requeridas pela moda: a moldura ou caixa de luz, a projecção, o muito grande formato, etc. Mas a inversa não é verdadeira e não tem qualquer sentido designar ou coleccionar ou premiar como fotografias obras de arte contemporânea só pelo facto de usarem suportes ou processos fotográficos.
(contemporary and vintage fine art photography / contemporary photo-based art)
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