Arquivo * EXPRESSO Revista de 18 Nov.-95
(ver adiante a notícia sobre o programa geral dos Encontros de 1995)
Norte, desnorte
Em Coimbra (15ºs Encontros de Fotografia): itinerários nortenhos de fotógrafos contemporâneos, o Douro monumental de Domingos Alvão, americanos ignorados e um japonês actual
Vale a pena ir a Coimbra. Há fotografias para ver, em muitos casos excelentes; as montagens são de bom nível e por vezes de grande efeito atractivo; a organização é eficaz e crescente a projecção mediática do acontecimento. No total, sete exposições inéditas, duas em reedição, mais duas preenchidas com a colecção do Centro de Estudos de Fotografia (CEF); três catálogos-livros editados, dois anunciados. Chegados à 15ª edição, com um intervalo único em 1991, os Encontros festejam a sua longevidade.
Mas é preciso considerar também as insuficiências da programação de Coimbra e o que significa a quase redução da «política para a fotografia» a este tipo de encontros anuais. Não se pretende estragar a festa, até porque as celebrações rituais ajudam a difundir o interesse pela fotografia, mas, perante o coro dos deslumbramentos fáceis e a desmedida ambição do seu director (que já sonha com apoios comunitários e a criação de um Centro Nacional da Fotografia...), há que tentar ver um pouco mais fundo. Um pouco para além da mera prova anual da resistência de uma iniciativa sempre periclitante, que parece consumir-se na voragem cada vez mais cara da sua promoção.
O Norte é o tema principal desta edição dos Encontros, mas, jogando com as palavras, o desnorte é patente na insuficiência encadernada das publicações, na incapacidade de promover, em especial no estrangeiro, a circulação posterior das poucas produções próprias, no recurso crescente às exposições alugadas a galerias estrangeiras, em vez do intercâmbio e co-produção com entidades afins, na carência de meios informativos sobre as obras expostas, na deterioração patente das provas da colecção CEF mostrada no Chiado e, em geral, na desproporção entre os investimentos realizados e as consequências asseguradas. Coimbra é um dos pólos das derrapagens da ex-SEC.
Vejam-se, passo a passo, as exposições.
Para o segundo capítulo de um anunciado projecto de levantamento fotográfico do país, iniciado pelas Beiras em 1994, os Encontros de Coimbra convidaram dez fotógrafos (sete estrangeiros e três portugueses) a visitar as «Terras do Norte». Entretanto, «O Douro de Alvão» é o confronto com um outro ensaio de documentação fotográfica, realizado nos anos 30-40 por encomenda do Instituto do Vinho do Porto. O mesmo tema geográfico continua com a reedição de uma exposição sobre a Alfândega do Porto e a zona ribeirinha, e, com sentido de oportunidade, com uma referência à questão de Foz Côa, através das fotografias de Duarte Belo mostradas em Conímbriga.
A ideia de levantamento fotográfico, talvez por efeito da própria presença emagadora do trabalho de Alvão, foi entretanto convenientemente relativizada: ela implica, ou deveria implicar, uma vocação documental e um espírito de «missão» pouco compatível com apressadas passagens por regiões desconhecidas. O que aqui se convoca, num tipo de encomendas que se tem multiplicado a propósito de celebrações locais e por razões de promoção regional, é mais a possibilidade do reconhecimento das qualidades autorais de cada fotógrafo do que o registo social ou topográfico como objectivo em si mesmo. Nos melhores casos, as duas vertentes conjugam-se; nos outros, se conseguidos, reafirma-se um estilo, um olhar individualizado. O balanço nortenho é positivo.
OLHARES EM DIÁLOGO
Mark Klett, apresentado há dois anos em «Jardins do Paraíso», trouxe a tradição fotográfica do oeste americano e a sua câmara panorâmica (processo Polaroid negativo/positivo) para seguir o curso do Douro. Na paisagem ampla, colecciona os sinais da intervenção humana e as marcas do tempo, atribuindo a indicações de escala ou aos objectos uma insólita densidade poética.
Larry Fink, um aluno de Lisette Model (do qual a Módulo expôs, em 1985, "Social Graces", olhares cruzados sobre cerimoniais mundanos e convivialidades pobres; e Braga, em 1991, mostrou uma série sobre o boxe), fotografa os trabalhos e rituais do vinho, da vindima à pisa, recortando no formato quadrado a coreografia das relações entre os corpos.
Flor Garduño, mexicana, acentua uma das direcções do trabalho do seu mestre Álvarez Bravo, em naturezas mortas e retratos encenados que simbolizam sempre a presença continuada de um sagrado ancestral. Georges Dussaud, francês, visitante assíduo de «mundos rurais miraculosamente intactos» e leitor de Miguel Torga, reune trabalhos realizados entre 1980 e 1992, alguns conhecidos do livro Trás-os-Montes.
No Museu Antropológico, expõem também Hugues de Wurstemberger (o Porto, as feiras), Frédéric Bellay (as praias, à noite) e Paulo Nozolino («ao correr do acaso» — imagens de quaisquer lugares, como que recusando uma herança ou origem). São três presenças fortes, a que se junta ainda o Porto de Gabriele Basilico, cujo excepcional rigor topográfico e arquitectónico melhor se verá na colectiva sobre a Alfândega.
Por fim, Luís Palma apresenta um projecto sobre as alterações da cidade construída, entre terrenos vagos, empenas, desconcertos urbanísticos, mostrado como uma montagem de pequenos formatos e quatro provas ampliadas, sugerindo a hesitação própria de um trabalho ainda em curso; Daniel Blaufuks usa o argumento de uma homenagem a Ilse Losa, refugiada alemã, para fazer um «remake» pobre e portuense da fórmula autobiográfica dos "London Diaries".
A exposição, comissariada por Tereza Siza, deu lugar à edição de um album homónimo e encadernado, onde algumas imagens de cada fotógrafo são acompanhadas por escritos de alguns autores (Nozolino, Blaufuks, Dussaud) e também por textos avulsos de Orlando Ribeiro, Torga, Mário Cláudio e outros. Faltam os títulos das fotografias, nenhum ensaio analisa ou comenta as imagens mostradas, quase todos os extractos antologiados não são mais do que uma inútil caução literata e a edição, por não ser bilingue, fica condenada ao escasso mercado interno, certamente para ofertas. Entretanto, se não se entende o sentido editorial do volume, percebe-se que faltou aos Encontros a possibilidade de assegurar os direitos de autor, exigíveis para a circulação internacional que a qualidade do material exposto justificaria.
Em «Alfândega Nova, o Sítio e o Signo», exposição associada a um programa de reutilização do edifício portuense como Museu dos Transportes e Comunicações, destacam-se as visitas aos seus espaços interiores feitas por Paul den Hollander e José Manuel Rodrigues (os universos concentracionários da burocracia), enquanto Basilico e Humberto Rivas fotografam as margens do Douro; e, em paralelo, Debbie Fleming Caffery e Jorge Molder constroiem derivas ficcionadas, no último caso de improvável integração no projecto. Neste caso existem perspectivas de circulação internacional.
ALVÃO MONUMENTAL
Aos olhares fugazes sobre o Norte do País contrapõe-se o trabalho monumental de Alvão sobre a região do Douro, que se poderá ver como um verdadeiro inventário documental do trabalho do vinho, antes de se reconhecer a excelência do fotógrafo e também o complexo conteúdo ideológico que a sua obra veicula. Encomendado em 1933, no início da actividade do Instituto do Vinho do Porto como organismo de tutela do sector, a um Domingos Alvão (1872-1946) no auge da sua carreira (ou melhor, ao estúdio Alvão e Cª), é um registo exaustivo da região demarcada do Douro e das actividades de produção e comercialização do vinho. As provas, magníficas, conservam-se no Instituto na forma de 15 álbuns (um deles dado como perdido), organizados ainda nos anos 40 e, num caso, com imagens feitas até 1951.
A enumeração dos seus títulos é, por si só, significativa da vastidão do programa: I, Plantação da vinha na região duriense; II, Evolução e tratamento das vinhas; III, Quintas e vinhas em produção. Lugares e vinhas abandonadas; IV, Vistas da região duriense; V, Trechos panorâmicos; VI, Uvas. Flora duriense; VII, Vindimas e vinificação; VIII, Transporte de Vinho do Porto; IX. Monumentos, obras de arte. Construções típicas; X. Marcos pombalinos. Documentação histórica e iconográfica; XI, Armazéns e garrafeiras; XII, Vistas da Cidade do Porto, etc. E ainda couberam nos albuns o Mosteiro dos Jerónimos e uma estátua de Salazar...
Quanto à exposição, ela percorre em seis dezenas de imagens o itinerário que vai da preparação dos socalcos até ao embarque das caixas para exportação nos armazéns de Gaia, numa selecção que comprova tanto o carácter metódico da documentação como a sua dimensão estética, testemunhando como, neste caso, se conjugaram a encomenda comercial e o trabalho artístico.
As provas, viradas a sépia ou montadas em trechos panorâmicos, verdadeiras «vintage» (ao contrário de outros casos de generalização abusiva do termo), revelam como a admirável qualidade da impressão prolonga os recursos do olhar, sempre sobre uma particular conjunção «verista/pictorialista» (A. Sena) que se constroi ambiguamente com um rigor etnográfico «naturalista» revisto pelo domínio dos efeitos da luz e pela amabilidade das encenações de figurantes que o fotógrafo aprendeu com a fotografia pictorial. Alvão era reconhecido como mestre de uma «nobre e airosa lição de nacionalismo», segundo dizia a «Illustração Portuguesa» em 1914. Uma lição de objectividade oitocentista, vinda de Emílio Biel e Marques Abreu, modernizada como «arte photographica», que atravessou a República e caracterizou o bucolismo autoritário do Estado Novo.
Os documentos são também «quadros» de um pictorialismo que não utiliza a intervenção sobre os negativos e positivos, mas manipula subtilmente os personagens e o seu olhar, num idealizado tardo-naturalismo próximo de muita pintura do tempo, que evita a pobreza das aldeias e canta as alegrias do trabalho. «Ninguém calcula o esforço enorme, esgotante, arrasador que eu tenho de realizar para conseguir um cliché interessante. São horas que se gastam para uma só fotografia» (Alvão, 1914; cit. por Joaquim Vieira, «Colóquio», nº 51, ver também Uma História da Fotografia, A. Sena, 1991, que continua a servir de fonte insubstituível).
Notar-se-á que a visão documental de Alvão e dos seus operadores fotográficos (Álvaro de Azevedo e outros) conserva, sempre que os motivos o permitem, todas as características dos estudos de paisagens, figuras e costumes que constituiam também a temática preferencial da sua obra de «artista photographo» — uma «galeria de tipos do Norte e de costumes genuinamente portugueses» (Alvão) em que a mesma «Illustração» reconhecia «verdadeiros quadros de género, pela felicíssima distribuição da luz, (com) as figuras rústicas abraçadas no delicado ambiente das paisagens»...
Em vez de um catálogo que servisse para ampliar a informação sobre o fotógrafo e desse reimpressão condigna às suas obras, temos direito a um album encadernado com um trabalho gráfico deficiente e um extenso texto de Gaspar Martins Pereira (autor de O Douro e o Vinho do Porto de Pombal a João franco, ed. Afrontamento, 1991) que tem o mérito de traçar o quadro histórico do Douro fotografado por Alvão, mas sem que o trabalho e o estilo deste sejam o objecto condutor do estudo. Uma nota final de Tereza Siza é também insuficiente e por vezes incompreensível, por exemplo quando diz que as fotografias de D.A. «não fogem à onda do pictorialismo que cabia numa mentalidade que fazia do positivismo uma regra de vida e de poder». Nenhuma bibliografia se indica, nenhum quadro biográfico.
O estúdio de Alvão conservou-se intacto até à década de 80, tendo o seu espólio sido comprado em 1982 pelo IPPC. Encontra-se depositado no Arquivo Nacional de Fotografia/IPM, o único local onde existem condições de tratamento e conservação dos perto de cem mil negativos existentes, aguardando-se que venha a merecer o estudo e divulgação que merece. Como a exposição confirma.
Entretanto, uma outra mostra com fotografias da Palestina e Médio Oriente realizadas na primeira década do século («Itinerários Bíblicos», com produção do Centro Nord Pas-de-Calais, no Mosteiro de Celas) dá conta de um outro inventário paisagístico, humano e patrimonial, realizado em condições de amadorismo fotográfico e recuperado com actual rigor metodológico. Sem documentação complementar, será pouco mais do que uma curiosidade.
AMÉRICA OCULTA
Duas outras direcções ocupam a programação dos Encontros: a história da fotografia internacional e a criação contemporânea, revelando autores de grande projecção, como os gémeos Mike & Douglas Starn, americanos, e o japonês Araki.
Lisette Model (Viena, 1906 — N.I., 1983) é mostrada no Museu Machado de Castro, graças a três dezenas de provas vindas da Pace MacGill Gallery, de Nova Iorque, que formam um conjunto representativo da sua obra, desde 1933, com os primeiros retratos feitos em Paris e em Nice, na Promenade des Anglais, até às séries sobre espectáculos dos anos 50, últimos trabalhos para a «Harper's Baazar» (41-53), quando já começara na New School for Social Research uma actividade pedagógica de longas consequências: foi professora de Diane Arbus, Eva Rubinstein, Bruce Weber, etc.
Pelo meio ficam os seus «Reflexos», iniciados em 1939-40 («um caleidoscópio de peões, montras e lojas e tráfego urbano», segundo Ann Thomas — ver artigo de Jorge Calado, «Revista» de 4-V-1991), a corpulenta Banhista de Coney Island, as «Pernas a correr» (40-1), os retratos implacáveis dos peões da 5ª Avenida e do Lower East Side que são o outro lado do «glamour» de Hollywood e a demonstração de um interesse caloroso e desapiedado pelas pessoas.
Foi só tardiamente que a obra profundamente original de L. Model alcançou a devida consideração, com uma primeira retrospectiva em 1976 (chegada a Madrid em 1988), em provas impressas sob a sua direcção por Gerhard Sander, neto de August Sander, e uma outra em 1991, acompanhada pela exaustiva biografia crítica de Ann Thomas. Em Coimbra, está anunciada a publicação de um catálogo e uma conferência de T. Siza (dia 26).
«Street Level — Nova Iorque em meados do século», no Edifício Chiado, estabelece um oportuno diálogo com a exposição de Lisette Model, partilhando o mesmo olher «ao nível da rua» que faz dos anos do segundo pós-guerra e de Nova Iorque um campo de observação desencantada sobre o quotidiano urbano, e igualmente de ruptura com as normas da fotografia «bem feita», muito diverso da tradição do humanismo europeu e do idealizado optimismo que Steichen sintetizou na exposição «The Family of Man», de 1955. Mais conhecidos, Robert Frank (chegado em 1947 a N.I), William Klein ou Diane Arbus são, de facto, precedidos e acompanhados por outros fotógrafos de carreira mais discreta, em muitos casos silenciados pelos processos do McCarthysmo e ocultados pelo novo americanismo dos tempos de Eisenhower.
Vinda da Howard Greenberg Gallery, «Street Level» reune onze fotógrafos de muito diferente notoriedade, desde Weegee até William Klein, passando por autores, como Ted Croner, Harry Lapow, Saul Leiter e Frank Paulin, de que se não encontra rasto nas correntes histórias da fotografia, mesmo americanas. Entretanto, em Coimbra, o desamparo informativo é completo, com quatro linhas de promoção: «...Fotografia social pelo seu tema e pelo compromisso, num estilo directo e a preto e branco, fixou o retrato de uma época e o nosso imaginário da América».
Sid Grossman (1913-1955) e Dan Weiner (1919-1959) são, respectivamente, um fundador e um militante da Photo League, dissolvida em 1951, sob o fogo da caça às bruxas. Criada em 1936, no ano do arranque da «Life» e pouco depois de Roy Stryker recrutar a famosa equipa de fotógrafos para a Farm Security Administration (activa até 43), a Photo League começou por reunir um grupo mais politizado de fotógrafos empenhados na documentação realista da vida das classes populares; no pós-guerra assumiu o carácter de uma grande organização corporativa, acolheu Ansel Adams e Richard Avedom, por exemplo, conciliando os trabalhos de pesquisa pessoal e a continuidade dos ideais de testemunho social.
Dois outros, Arthur Lavine e Leon Levinstein figuraram na exposição «The Family of Man» e Levinstein (1913-1978), discípulo de Grossman e apreciado por Lisette Model, era um dos fotógrafos bem representados na Colecção SEC, nomeadamente com quatro fotografias da Nazaré realizadas por volta de 1960 que se contam entre as peças roubadas ao acervo.
Weegee (Arthur Felling; Polónia, 1899 — NI, 1968), exposto pela Photo League em 44 e autor de Naked City, em 45, é um pioneiro da crueza do olhar do repórter sobre a violência da cidade. Louis Faurer (n. 1916), presente com três fotografias de 47-50, será talvez o maior desses fotógrafos da rua, à altura de Robert Frank, de quem foi amigo e que retratou em 1947 de fato às riscas (ver col. «Photo Poche»). Os rostos dos anónimos quotidianos, as sombras da noite entre os reflexos das montras e dos automóveis, o ritmo frenético da cidade têm na sua obra uma expressão de angustiante dureza, de que não está ausente a inocência de uma possibilidade de esperança. O mundo da fotografia de moda acabaria por absorvê-lo, até regressar, em 77, à reimpressão dos seus primeiros trabalhos pessoais.
Outro é já o mundo dos Twins Starn (n. 1961), que surgem em Coimbra com duas únicas caixas de luz de pequena dimensão. Insuficientes para apresentar uma obra, elas indicam uma direcção dominante de trabalho sobre a memória, o tempo e a história da arte, amalgamando referências, processos fotográficos e materiais plásticos, em objectos que podem surpreender também pela sua rudeza, à distância das elegâncias formais que passam por ser trabalho conceptual. E ao contrário, aliás, de um Araki, que tinha outra dimensão fotográfica nas suas imagens de Tóquio e em anteriores excessos pornográficos, recentemente entrado no regime «soft» das conveniências galerísticas.
#
Os Encontros de Fotografia de Coimbra chegam à 15ª edição, que não é exactamente a do 15º aniversário porque 1990, também para os Encontros, foi um ano negro.
A programação é comemorativa, ou, pelo menos, anuncia alguns encontros privilegiados, num total de 10-11 exposições, distribuidas por 11 lugares, alguns deles inéditos, com a habitual extensão a Conímbriga. Catálogos, desta vez, serão cinco.
Na sequência do projecto de levantamento fotográfico do país iniciado pelas Beiras no ano anterior, percorre-se agora o Minho, Trás-os-Montes e o Douro na exposição «Terras do Norte». Ela assinala a volta de Paulo Nozolino a Coimbra e conta, entre regressos e primeiras visitas, com nomes de inquestinável referência como Mark Klett, Larry Fimk e Flor Garduño, ao lado de Gabriele Basilico, Hugues de Wurstemberger, Georges Dussaud, Frédéric Bellay, Luis Palma e Daniel Blaufuks. Ver-se-á se é apenas do encontro encomendado dos estilos pessoais, quando existem, com os lugares que se trata, ou se a fórmula do levantamento ganha, num caso ou noutro, validade topográfica e humana a par de qualidade fotográfica.
Seguro é o encontro com «O Douro de Alvão», que permitirá ver reunida a produção encomendada em 1933 pelo Instituto do Vinho do Porto, ou o seu antepassado, a Domingos Alvão. As panorâmicas da região duriense são grandiosas e outros documentos ilustram o trabalho do vinho, os processos de cultivo e fabrico, a dignidade e o esforço dos homens, os rigores da terra.
O Norte está presente em mais duas exposições: «Alfândega Nova, o Sítio e o Signo», que já se pôde ver no Porto e é um levantamento em torno da antiga Alfândega, produzido por Teresa Siza. Destacou-se em tempos o trabalho de José Manuel Rodrigues e Paul Den Hollander, de Humberto Rivas e Gabriele Basilico, a que se juntam as propostas com dimensão mais literária de Debbie Fleming Caffery e Jorge Molder. Foz Côa ver-se-á em Conímbriga, naturalmente, através de fotografias de Duarte Belo, edição revista do trabalho que já apresentou no Museu de Arqueologia.
Três exposições dedicadas à América são outro vector forte dos Encontros, que assim evitam monotonias paisagísticas e regressam à função de apresentar obras históricas ou contemporâneas de primeira importância.
Lisette Model é uma grande fotógrafa insuficientemente vista e uma professora de acção notável, uma europeia que fez muito pela fotografia americana e deixou uma visão crua e inovadora da Nova Ioque dos anos 40 — espere-se que as provas, vindas da Pace MacGill Gallery, tenham a qualidade necessária e, entretanto, procure-se o artigo de Jorge Calado, «Lisette Model: o palco do mundo», publicado em 4 de Maio de 1991, na «Revista».
Da Howard Greenberg Gallery, outra casa de prestígio firmado, vem «Street Level» (ao nível da sua) ou «Nova Iorque em meados do século», uma colectiva em que se reunem fotografias de William Klein (Ver «Revista, pág. 116) e também Weegee, Louis Faurer, Sid Grossman, Harry Lapow, Ted Croner, Arthur Lavine, Saul Leiet, Leon Levinstein, Frank Paulin e Dan Weiner.
Por último, as vedtas Mike & Doug Starn, os Star Twins, com duas caixas de luz sobre «O Livro dos Mortos» do Antigo Egipto. A exposição vem também da Pace MacGill.
Outra das atracções anunciadas por Coimbra é, indubitavelmente, o japonês Nobuyoshi Araki, com o seu «Diário Índimo» vindo da galeria Chantal Crousel, depois de ter sido mostrado na Fundação Cartier. O erotismo, a perturbação dos critérios de verdade e mentira, o investimento autobiográfico, a provocação e o fascínio hipnótico são recomendações de que vem acompanhado Araki.
Mais uma exposição: «Itinerários Bíblicos», apresentada em colaboração com o Centro Regional Nord Pas-de-Calais, com trabalhos vindos de Jerusalém.
Por fim, propõe-se nova visita, em dois núcleos, à colecção do próprio Centro de Estdos Fotográficos, por onde foram ficando muitas das imagens mostradas nas edições anteriores.
.
Comments