EXPRESSO Revista de 15-11 - 1997
«A Ideia de Europa»
Encontros de Coimbra
Cartaz de 08 - Nov - 1997 (notícia)
"De Coimbra para a Europa"
Depois da volta a Portugal, com extensão às memórias do Império, os Encontros de Fotografia de Coimbra apontam à Europa. Às digressões paisagísticas das três últimas edições sucede-se uma mudança de direcção e o programa geral das exposições propõem-se agora abordar as transformações e os conflitos que marcam a construção da identidade europeia. O projecto é ambicioso e promete prolongar-se por três anos, até ao final do século, de modo a aprofundar, pela imagem, o inquérito a respeito dos «problemas da nova geo-política, da relação do indivíduo com o outro e com o Estado, da perspectiva de si mesmo, das expectativas, do imaginário e das utopias».
A exposição central dos Encontros de 97 intitula-se «Europa» e é apresentada por Gabriel Bauret, que já comissariara a exposição «Jardins do Paraíso». O Museu Antropológico acolhe uma colectiva internacional, com predominância francesa, em que participam Stéphane Duroy, Ferran Freixa, Thomas Kern, Eric Larrayadieu, Dolorès Marat, Walter Niedermayr, Cristina Nuñez, Mark Power, Paul Reas, Edith Roux, Yves Trémorin, Marc trivier, Massimo Vitali e um só nome português, Inês Gonçalves. O panorama é eclético, apresentando de modo sintético ensaios pessoais que incluem a observação da paisagem urbana e industrial, o retrato ou a reportagem, por exemplo sobre o Muro de Berlim ou a Bósnia.
Outras exposições poderão ver-se como o retomar e a abordagem ampliada de questões sumariadas nessa mostra colectiva. Será o caso da exposição com que Paulo Nozolino ocupará o Edifício das Caldeiras, intitulada «Tuga» (tristeza, numa das línguas faladas na ex-Jugoslávia) e resultante da observação das cicatrizes da guerra na Bósnia-Herzegovina. Das mesmas paragens vem «Balkans - Transit», de Klavdij Sluban, apresentada por François Maspero, enquanto as memórias e as sequelas da Segunda Guerra são recordadas em duas outras exposições: uma de Arno Fischer, repórter da sua cidade natal desde os bombardeamentos que puseram termo ao regime nazi até à queda do Muro; outra, dupla, reunindo um projecto de Stéphane Duroy intitulado «Auschwitz» e uma instalação do artista francês Christian Boltanski, «A Reserva dos Suiços Mortos».
Entretanto, a circulação por áreas da arte contemporânea que utiliza a fotografia aparece no programa de Coimbra noutras exposições. É o caso de Thomas Ruff, outro alemão, de quem se diz que «interroga as ambiguidades do medium fotográfico», e também de Carlos Vidal, que amplia uma série estreada recentemente na galeria Diferença, sob o título «A pintura e a política (Conversando com Gerhard Richter)». Outras presenças portuguesas nos Encontros são, ainda, as de José Maçãs de Carvalho («Tecnologias») e dos alunos do Centro de Estudos de Fotografia, numa colectiva a que se deu o nome «Grau 0.0».
Outras exposições individuais apresentam o italiano Federico Patellani, fotógrafo de cinema com Fellini, Rosselini e outros; o polaco Kasimir Zgorecki, antigo mineiro e fotógrafo popular (apresentado por Pierre DEvin); a espanhola Cristina Garcia Rodero, com a já clássica «Espanha Oculta», e também a francesa Dolores Marat (Rives, Ed. Marval, 1995). Por último três grandes figuras já históricas da fotografia europeia surgem na colectiva «O Espelho de Alice», no Museu Machado de Castro: o inglês Bill Brandt, nascido na Alemanha; o italiano Mario Giacomelli e o sueco Christer Stromholm.
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