CAMB é o Centro de Arte Manuel de Brito, em Algés (Palácio Anjos), onde se vai expondo a colecção reunida pelo fundador da Galeria 111 (e já continuada pelos seus herdeiros) em sucessivas mostras dedicadas aos artistas que aí expuseram ou expõem (até agora António Dacosta, Menez, Eduardo Luiz), e também antologias cronológicas e outras. Agora é Paula Rego que está em cartaz: a terminar hoje - domingo 18 - uma carreira iniciada a 4 de Outubro.
Paula Rego, Gato das Botas, 1978 (boneco de pano - pormenor) (Foto Rosa Pomar © http://aervilhacorderosa.com )
Não importa agora avaliar a representação da obra já muito extensa de Paula Rego, que aqui se ilustra em especial com pinturas anteriores à sua consagração inglesa, na primeira metade dos anos 80, prolongando-se depois em trabalhos sobre papel, desenhos ou obras gráficas. Consultando-se o site da Saatchie Gallery ( http://www.saatchi-gallery.co.uk/artists/paula_rego.htm ) pode alargar-se a informação sobre as etapas mais recentes.
Também não importará lamentar alguma falta de informação sobre as obras expostas, por exemplo referindo-as a séries como a das Óperas, no caso da Carmen e de Jenufa ( que o visitante não reconhecerá sem ajuda ), a trabalhos de ilustração ou a núcleos temáticos. Será também o caso das obras inéditas que aqui se mostram, 5 gravuras de grande formato de uma série sobre a mutilação genital feminina, que levam a vontade de intervenção social por parte da artista a um novo patamar, depois da série sobre o aborto, em imagens de uma rara violência e incomodidade.
E terá ainda de se deixar de lado, aqui também (o mal é demasiado frequente) a desenvolta obscuridade desmotivada do texto do catálogo, de João Miguel Fernandes Jorge, onde se esbarra logo na "escultórica e esmurrada "princesa" (que) delimita o tempo da fragmentação insinuante (e circunvolucionada) da pintura (...)". A seguir vêem-se os "bonecos".
O que de facto interessa é testemunhar a corrente de visitantes que acorre numa tarde de sábado e de sol, fazendo fila na bilheteira (€2, €1 e muitas isenções), acumulando-se na primeira sala, seguindo as explicações de um guia, etc. Sem números actualizados, chegara-se há algumas semanas ao número surpreendente para o nosso meio de 35 mil visitantes.
Pode preferir-se uma solitária tranquilidade, mas é a afluência, o interesse de um público alargado que justifica as galerias públicas. Em confronto com os espaços institucionais desérticos que se conhecem em Lisboa, com a decrepitude da Gulbenkian e o ensimesmamento autista da Culturgest, a multidão que acorre ao CAMB de Algés vem confirmar algumas necessidades de ruptura. O eixo Belém-Algés, se o Museu Berardo do CCB conseguir manter o êxito do seu primeiro ano, acabará por ter eficácia. Público existe, faltam programações adequadas a espaços públicos.
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Ver Paula Rego em acção no atelier de gravura: "Tate Shots was invited to observe Paula Rego and the team at The Curwen Studio in Cambridgeshire as they set about turning one of her drawings into an editioned print. Our film captures Rego at work and she tells us why drawing and printmaking is so important to her practice."
http://www.youtube.com/watch?v=vDZGh1O72uQ
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