Arquivo * Expresso Cartaz de ? Junho/Julho ? 1994
?
PAULO NOZOLINO apresenta actualmente no Centro Georges Pompidou, em Paris, uma série de fotografias realizadas na Polónia, no âmbito de uma exposição sobre a realidade em mudança do mundo rural nos países da Europa de Leste. Trata-se de uma encomenda conjunta da Bibliothèque Publique d'Information (BPI), do Centro Beaubourg, e do Ministério francês da Agricultura e da Pesca feita a seis «fotógrafos-autores» de várias nacionalidades, na sequência de um primeiro projecto dedicado aos países ocidentais, que já foi parcialmente apresentado nos Encontros de Fotografia de Coimbra de 1992 («Europa Rural 1993 — Primeiros Trabalhos»).
Na exposição «D'Est en Ouest, chemins de terre et d'Europe» participam também a mexicana Graciela Iturbide, Stéphane Duroy, Yvon Lambert, Klavdij Sluban e Anthony Suau.
Antes de viajar até à Polónia, Paulo Nozolino percorrera já este ano a Síria, o Líbano e a Jordânia, onde viveu durante um mês com os beduínos no deserto, tendo actualmente em desenvolvimento um projecto pessoal de grande dimensão sobre os países árabes. A uma primeira estadia em Marrocos, em 1983, sucederam-se outras viagens a África e ao Próximo Oriente, nomeadamente à Mauritânia em 1990 e ao Egipto em 1992, definindo-se a partir de então a ideia de um trabalho sistemático que o vai levar ainda ao Iémen, à Arábia Saudita e aos Emiratos.
Entretanto, Nozolino, que está radicado em Paris desde 1989 e trabalha como «free-lance», sendo as suas fotografias distribuídas pela Agência VU, foi já este ano distinguido com um importante galardão oficial francês, o prémio Villa Medicis («hors les murs» — que não implica a tradicional instalação em Roma), e um portfolio de fotografias realizadas no Cairo foi recentemente adquirido pelo Fond National d'Art Contemporain, de Paris. Por outro lado, a revista «Vis à Vis International» publicou uma selecção das suas fotografias do livro Para Sempre, de 1982, num número intitulado «L'Intime» (n.º 14, Hiver 1993).
Já no final do ano passado, Nozolino publicara Regard sur le Musée Fenaille, em edição do Museu do mesmo nome, de Rodez (Aveyron, Midi-Pyrenées), por ocasião de uma exposição dos mesmos trabalhos, realizados antes de o referido edifício sofrer obras de renovação patrimonial.
Outra publicação de fotografias de Nozolino foi feita em Madrid, também em fins de 1993, pela Fundación Cultural Banesto, num luxuoso álbum intitulado Miradas Fin de Siglo — Madrid visto por...(2), em que participam igualmente Gabrielle Basilico, Martine Frank, Harry Gruyaert e Ferdinando Scianna — o qual foi objecto de uma exposição apresentada já em 1994. Trata-se, neste caso, de um segundo álbum de imagens da capital espanhola, encomendadas a fotógrafos de grande nomeada, depois da edição, em 1992, de um primeiro volume com trabalhos de Leonard Freed, Inge Morath, Eli Reed, Alex Webb e Miguel Rio-Branco.
«O que me interessa nas minhas viagens é captar a luz e a alma dos habitantes e do país», diz Paulo Nozolino, numa entrevista a propósito da Polónia. Quanto à cidade de Madrid, as suas 13 imagens preto-e-branco contam-se certamente entre as melhores deste livro. Aparentemente livres de um propósito documental, pela indistinção de um qualquer tópico informativo preciso, pela recusa do acontecimento (do excepcional ou do imprevisto), estas fotografias invadidas por negros profundos e estruturantes constroem-se como uma oscilação fatal entre aparição e desaparição, como que fechando os olhos para ver melhor. Da revelação de uma dimensão de perda que está inscrita em todas as imagens, na ocultação parcial da sua superfície, sem que tal se torne uma afirmação de nostalgia por uma qualquer plenitude desaparecida, nasce a demarcação de zonas de invisibilidade e de mistério que são sempre a recusa de qualquer ingenuidade sobre a «captura» do real. Extremamente diversas nos motivos que fixam — aspectos de rua, fragmentos de uma estátua ou da cruz de uma igreja, Velázquez em As Meninas, interiores de bares, imagens da noite, sempre recortadas por contrastes absolutos da luz —, é um itinerário pessoal que elas registam, uma descoberta e um enamoramento do fotógrafo pela capa das aparências, em imagens instáveis onde o que se mostra é sempre o acto de ver. O que faz da sua intimidade radical um lugar de comunicação, um itinerário partilhável.
Comments
You can follow this conversation by subscribing to the comment feed for this post.