Arquivo, EXPRESSO, Cartaz de 06-09 -1997 (nota sem título)
JORGE ALMEIDA LIMA
Museu do Chiado
A exposição surge em circunstâncias que parecem corresponder à iminência de mudanças decisivas (decapitação?, desmantelamento?) numa entidade que nunca existiu mas que deixa obra feita. Mistérios da política e da orgânica do aparelho de Estado que aguardam melhor oportunidade para serem esclarecidos. Diga-se apenas que é a quarta exposição promovida pelo Arquivo Nacional de Fotografia (Instituto Português de Museus), depois das que apresentaram Frederick Flower, pioneiro e calotipista, o retratista lisboeta San Payo e João Martins («Os Putos»).
«Jorge Almeida Lima - Fotógrafo Amador» revela um autor praticamente desconhecido (1817-1934) que é um curiosíssimo exemplo de um período da história da fotografia em que esta é em grande parte entendida como um «bello ramo de sport». Além do «sport photographico», próprio de elegantes amadores, J.A.L. cultivou rosas, grangeando com a produção hortícola mais medalhas do que como fotógrafo, e também a caça, a esgrima, a gastronomia, ao mesmo tempo que foi dinâmico empresário agrícola e industrial. Como fotógrafo, terá estado activo entre 1887 e o início dos anos 20, apresentando-se agora uma produção tematicamente muito diversificada e marcada pela experimentação sucessiva dos progressos técnicos, caracterizada em geral pela apetência documental e o gosto do registo realista sem particular ambição estizante. À prática da paisagem e da observação de figuras populares soma-se alguns registos da vida social do tempo, mas também uma série dedicada a retratos de mendigos e alguns levantamentos de embarcações, a par da prática da reportagem, que viria a ter publicação na imprensa.
Mas a exposição tem o interesse maior de contar com um número apreciável de provas de época que, para além da eventual importância documental, colocam o espectador perante as características próprias das impressões do tempo. Entre muitas fotografias originais de grande qualidade, um Castelo de Almoural tonalizado a azul, Santa Margarida, Pinheiros, num cianotipo recortado em círculo, um Grupo na Praia em prova aguarelada ainda resistente ao tempo, destacam-se como objectos fotográficos que são irredutíveis às reimpressões actuais, mesmo quando o ANF produz excepcionais réplicas de antigas viragens a sépia e selénio.
O mesmo sucede com a apresentação de imagens estereoscópicas (com dois dispositivos de observação), datadas de 1900 a 1913, e com os autocromos, de 116? (Até 28)
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