Os Museus dos Coches, da Arqueologia, da Marinha (e ainda o de Arte Popular) ao sabor do improviso.
O Público (entre muitas páginas de jornalismo repugnante, como passou a ser hábito) traz hoje alguma informação interessante sobre o episódio dos museus de Belém: Coches, Arqueologia e Marinha. A trapalhada é gigantesca. Se acrescentarmos o caso do Museu de Arte Popular, cujas obras deveriam ter estado concluídas em 2008 por questões de fundos comunitários (segundo se disse a certa altura), a situação de calamidade pública deveria ser declarada na zona. Salva-se o Museu Berardo no CCB.
Não me interessam particularmente as questões daqueles museus, mas choca-me a desertificação do Ministério da Cultura. Em tempos mais sérios havia um presidente do Instituto Português do Património Cultural - António Lamas -, que enunciava projectos e programas, explicava políticas e até dava entrevistas: sabia-se quem era e tinha autoridade (bateu com a porta quando a tutela perdeu a sua). Houve então, pelos finais dos anos 80, o estabelecimento de um vasto programa de recuperação e revitalização de monumentos que ainda hoje está em curso, com datas de conclusão sucessivamente adiadas (por exemplo, Évora e Coimbra). Era secretária de Estado Teresa Gouveia, que deixou boa impressão porque estava à época bem assessorada (na Gulbenkian tem andado desorientada).
Anos depois, para fazer apresentar as exposições da Europália'91, o Instituto Português de Museus foi autonomizado e dirigido durante vários anos por Simoneta Luz Afonso. O programa de obras continuou, com muitas demoras e outros problemas (Soares dos Reis, etc). A seguir, nos tempos de Carrilho, o lugar passou a ser ocupado por Raquel Henriques da Silva.
Continuou a haver quem desse a cara pela gestão do sector, quem defendesse pública e tecnicamente as opções políticas - e em especial quem as sustentasse com alguma competência profissional. Os responsáveis pelos lugares tinham personalidade própria, em termos profissionais e culturais. E falavam.
Chegámos depois aos tempos do anonimato. Em que estamos.
Alguém sabe o nome da secretária de Estado da Cultura? Alguém a ouviu? Alguém sabe que existe? Qual é o seu peso político? Parece que tem comparecido a algumas inaugurações com certa relevância e pouco eco mediático: a renovação de espaços no MNAA, a reabertura do Museu José Malhoa, que não entraram nos noticiários.
Alguém dá pela existência de um director do actual Instituto dos Museus e da Conservação? Alguém sabe quem é? As sucessivas tropelias da tutela são-lhe alheias ou desconhecidas? Mantem-se em silêncio como uma forma subtil (?) de manifestar discordância ou distância? Não seria imperioso que o responsável técnico e político (o lugar é de confiança) estivesse presente e também activo quando se discutem os Coches, a Arqueologia, a Arte Popular, a Cordoaria (que é um monumento, mesmo sem ter a sua tutela directa), etc? Pode dispensar-se a competência quando estão em causa decisões de longo alcance, irreversíveis mesmo?
Seria oportuno explorar ainda nos jornais a história dos projectos (caríssimos e de alto risco?) para a ampliação subterrânea do Museu de Arqueologia dentro do conjunto monumental dos Jerónimos.
E as características próprias da Cordoaria, com uma das maiores naves abertas da Europa (a 2ª?), deveriam também merecer atenção informativa, e projectos próprios de ocupação.
Caro Alexandre
Você não deve ter lido a inenarrável e surrealista entrevista do ministro (?) da cultura (?) ao Público. Se leu e não a comenta aqui, das duas ou três uma: ou acha bem (!!!) ou acha mal ou não acha. O que é que acha?
Posted by: J Ferro | 02/27/2009 at 19:49
Prefiro não achar nada, desculpe.
Posted by: ap | 03/05/2009 at 01:38