Maria Lamas, Furadouro, 1948-50. Pág. 344 de "As Mulheres do meu País"
Maria Lamas vai ser apresentada pela primeira vez como fotógrafa em Paris, no âmbito de uma selecção de obras de mulheres fotógrafas do século XIX até ao presente que Jorge Calado vai expor no Centro Cultural Calouste Gulbenkian.
Escritora e jornalista, Maria Lamas (1893-1983) fez fotografias por necessidade e certamente apenas por pouco tempo, com o objectivo de ilustrar o livro AS MULHERES DO MEU PAÍS, editado em fascículos entre 1948 e 50. O volume, que constitui uma muito extensa reportagem sobre as condições de vida e de trabalho das mulheres camponesas, operárias, empregadas e domésticas de todo o país, reproduz trabalhos de inúmeros profissionais e amadores da primeira metade do séc. XX, de Alvão a Adelino Lyon de Castro, de Artur Pastor a um desconhecido Firmino Santos, mas as muitas dezenas de imagens da autoria da própria Maria Lamas obrigam a reconhecer-lhe um papel único no âmbito da produção documental do pós-guerra, que até agora era praticamente ignorado.
À epoca da publicação, no entanto, a imprensa deu destaque às fotografias da escritora: "A obtenção de fotografias foi uma das maiores dificuldades que encontrou, pois queria-as 'verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas'. Acabará por assumir-se como repórtes fotográfica, num trabalho pioneiro", escrevia-se numa entrevista publicada em O Primeiro de Janeiro, no Porto (pág. "Das Artes e das letras" de 28 de Abril de 1948). "Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa", Ler - Informação Bibliográfica, Publicações Europa-América, Maio-Junho 1948.
Trabalhadoras das minas de São Pedro da Cova, 1948-50. Pág. 375 de "As Mulheres do meu País"
As suas fotografias são quase sempre retratos, frontais e directos, em geral de corpo inteiro e realizados no exterior, ao sol. Retratos individuais ou de grupo, muitas vezes de mulheres que interrompem momentaneamente a faina, ou que carregam fardos e canastas, e por vezes os filhos, eles aliam a rigorosa dimensão documental a uma franca cumplicidade entre modelos e fotógrafa, que é também uma expressão de denúncia social e de esperança ideologicamente associada de um modo muito original ao movimento neo-realista.
A exposição vai intitular-se "Au Feminin" (No Feminino), será inaugurada a 23 de Junho, desconhecendo-se ainda se vem depois a Lisboa, e incluirá oito fotografias de Maria Lamas (em princípio, sete provas de época e uma reimpressão moderna), as quais constituirão a representação individual mais alargada desta antologia internacional. A seguir deverão estar Rebecca Lepkoff, activista da Photo League, e Tina Modoti, com quatro provas cada.
O livro AS MULHERES DO MEU PAÍS foi reeditado em facsimili em 2002 pela Editorial Caminho, recorrendo aos originais do espólio conservado pelos herdeiros de Maria Lamas, o que lhe assegurou uma qualidade de impressão muito superior à edição original. Está, entretanto, novamente esgotado.
Às vezes esqueço-me de passar por aqui, falta de tempo, de lembrança, seja o que for. E quando volto, fico sempre com a impressão que perdi qualquer coisa de muito bom. Obrigada.
Posted by: popelina | 03/20/2009 at 22:19