Nunca se percebeu por que foi para a Unesco, até porque não se tratava de premiar serviços prestados nem de afastar uma figura incómoda (aquela ausência de senso político não tem emenda, e a derrota em Lisboa, a vaia do congresso são inesquecíveis). A falta de fundamento da nomeação só poderia comprovar o alegado desinteresse do primeiro ministro pela cultura - e ofereceu-se de mão beijada a oportunidade de explorar um tal equívoco. A carreira escolar e política foi feita mordendo a mão que a cada momento lhe estendiam, e tirando partido de tais piruetas junto de uma íntima clientela. Convém ver quem faz figuração no coro dos queixosos e de que cultura se fala.
Como pode pedir-se uma tutela sábia e diligente se este deixou de ser um campo de produção de saberes e de gostos? Falhadas sem apelo as ideias da democratização cultural, baralharam-se as antigas diferenças entre consumo de massas e a exigência de elites: ocupam-se os lazeres e, se possível, pagam-se ainda alguns vícios. Não há menos festivais, não há menos artistas nem menos obras - há, em geral, uma oferta banalizada, uma recepção menos qualificada, uma cultura menos crítica. E existem uns especialistas em administração de nichos.
Aceitou-se que o conhecimento e a inovação habitam outros terrenos - o que resta é de facto desinteressante.
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