Em dia de inaugurações simultâneas (o último com apoio financeiro da CML no formato em vigor há vários anos), escapei à rotina e fui ver um pintor diferente: o famoso Chéri Cherin, pintor de Kinshasa. Tratava-se também de fugir à ameaça do Público: "O mainstream começa a olhar para África"(**).
"Deadheads (Immigration Clandestine)". Oil on canvas, 140 x 355,5 cm, 2007. *
Chéri Cherin (Joseph Kinkonda, n. 1955) mostra-se na recém inaugurada Influx Contemporary Art, galeria que sucede à African Contemporary, que esteve instalada na Rua da Rosa e onde já tinham sido expostas obras de Chéri Samba, Kivuthi Mbuno, George Lilanga e outros, no âmbito de uma programação africana que seguiu de perto as pistas da colecção de Jean Pigozzi (e André Magnin) e da exposição "Africa Remix".
ver: http://www.influxcontemporary.com/exhibitions.htm
Chéri Cherin não é tão conhecido com Chéri Samba, que tem sido muito mostrado na Fondation Cartier de Paris, mas é um dos nomes marcantes de uma "escola" de pintores populares ou urbanos do Congo com tradições próprias de comentário da actualidade política internacional e local ou de alcance moralizador.
Chéri Chérin 'L´heure des Rebelles' 2008 - oil on canvas | 200 cm x 130 cm *
'Partage du Pouvoir' 2008 - oil on canvas | 130 cm x 160 cm *
* 3 pinturas em exp.
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Em 2007/08 5 pintores de Kinshasa faziam parte da mostra da Tate Modern, seguindo a boa tradição inglesa do interesse pela pintura narrativa:
‘Popular Painting’ from Kinshasa
Tate Modern - 24 March 2007 – 1 March 2008
In the mid 1970s the ‘School of Popular Painting’ was founded in Kinshasa by Chéri Samba (b.1956) who was joined by Moke (1950 – 2001), Chéri Chérin (b.1955), and Bodo (b.1953). Chéri Samba’s younger brother, Cheik Ledy (1962 – 1997), later became associated with the group. These five artists, three of whom continue to live and work in Kinshasa, are widely regarded as being among the leading contemporary African painters within sub-Saharan Africa.
The term ‘popular’ reflects the artists’ continuing interest in depicting themes and images that derive from popular culture and everyday life. Their work critically engages with the social and political situations of their local community, such as issues of international aid, conflict, sexuality, and cultural tourism. These are addressed using frank and symbolic imagery, seen for example in a large mural painting by Bodo called Monde en tourbillon! Où l’on va?, 2006. The experience of being an artist is also explored in several works including Untitled, 2001, by Moke, whose tongue-in-cheek painting depicts himself as the financially successful artist or dealer in the centre foreground.
Largely self-taught, the artists bring to painting expertise developed from a variety of backgrounds, from comic strip artistry as seen in the work of Chéri Samba, to billboard and sign painting. Their vibrant palettes and frequent inclusion of textual elements within the large canvases reflect these influences. While each artist has his own particular brand of reportage, all approach painting as a universal medium with the utopian potential to effect change. In some cases, political or social conflicts are portrayed as chaotic and all-consuming, and in others, personal impressions of these situations are treated ironically and satirically."
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sobre Chéri Cherin:
http://www.bahai-library.org/bafa/c/cherin.htm
http://members.telering.at/art4u/cherin.htm
http://www.sil.si.edu/silpublications... (Modern African Art : A Basic Reading List )
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Por cá falou-se dos pintores do Congo por ocasião da exposição:
Pintura Urbana do Congo
Livraria Mabooki (Expresso, Actual, Cartaz de Exposições de 16 Out. 2004)
Chéri Samba, que se impôs como uma vedeta do circuito internacional,
não está representado, mas a mostra permite situá-lo no contexto de uma
moderna tradição congolesa de pintura popular sobre tela (ou sacos de
farinha), onde se comentam, com maior ou menor conteúdo imaginário ou
moralizador, o quotidiano e as realidades políticas e sociais de hoje.
Parte da mostra é dedicada a pinturas que evocam a memória de Lumumba.
É uma produção que conta com um mercado próprio, local e internacional,
da autoria de artistas de rua ou com aprendizagem académica, em
trânsito da pintura de tabuletas e outros painéis comerciais. As obras
pertencem à colecção de Bogumil Jewsiewicki, professor de história
comparada da memória no Québec, autor de Mami Waata, La Peinture Urbaine au Congo,
ed. Gallimard, 2003, uma muito interessante abordagem a esta área
original da arte africana. É também a ocasião de conhecer uma nova
livraria dedicada a temas africanos, na R. João Pereira Rosa, 8, ao
Conservatório <desapareceu algum tempo depois>.
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(**) "O mainstream começa a olhar para África". Não sei bem o que querem dizer lá no Público, mas parece que acham que depois da moda do pós-colonial vem a modo do "afropolitan" (afropolitano?): trata-se sempre de vender novos produtos (como no "Continente"?).
("Mas só agora o "mainstream" começa a olhar para África; na literatura e nas artes tem, no entanto, existido alguma "expressão". "Antigamente tínhamos uma literatura pós-colonial, agora começa a existir uma literatura 'afropolitan'. O facto de existir um Presidente negro vai fazer avançar mais rapidamente o processo." - sic)
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