Há várias provas e edições fotográficas com importância a leiloar no próximo leilão da P4, dia 7 de Maio, mas o catálogo - já consultável na net - reúne outros motivos de interesse, explorando diferentes áreas de mercado que têm sido menos trabalhadas com profissionalismo. Áreas de mercado, de coleccionismo, e de investigação.
É o caso do cartaz, que aqui aparece representado por algumas peças marcantes: uma de Almada Negreiros,
desenhada para A Canção de Lisboa, de Cottinelli Telmo com Beatriz Costa, em 1933, com um gosto muito mais Art Déco que o próprio filme, enquanto o grande cartaz publicitário do limpa-metais Coração, de 1930/40? e de autor desconhecido, alia a elegância anos 30 a um kitsch muito nacional. E há mais cartazes no catálogo que se folheia em www.p4liveauctions.com graças às proezas de issuu.com/
Adiante passa-se a algumas edições preciosas da história do surrealismo em português, e em especial, pela sua raridade (Nº 46), a um exemplar da revista Mele que o poeta romeno Stefan Baciu (1918-1993) publicava em Honululu, na Unversidade do Havai, USA. Em Março de 1981, numa edição copiografada (mimeograph ed.). Mário Cesariny foi o Guest Editor e o autor da capa desta "Carta internacional de poesia"/"International poetry letter", Portuguese Poets Surrealists, queconsta de uma antologia dos "Poetas do Surrealismo" (e não de "poesia surrealista", esclarece o antologiador) precedida por uma enumeração justificada daqueles a quem é atribuído tal título.
A lista dos que "são ou foram Poetas do Surrealismo em português" é mais uma vez uma versão sintética da história oficiosa e imaginária do movimento, e esta começa aqui com Arpad Szenes e Vieira da Silva. Antes de passar a Cândido Costa Pinto, Cesariny acrescentou com a sua caligrafia Júlio, Mário Eloy, Jaime (o do Miguel Bombarda), sic. Os mais recentemente aparecidos eram José Sebag, António Barahona da Fonseca, Manuel S. Lourenço, Miguel de Castro Henriques, Nicolau Saião, Hermínio Monteiro, António Quadros, Raul Perez, Inácio Matsinhe, Mário Botas e Ernesto Sampaio (estava de Sousa, por lapso, desculpa Isabel) por esta ordem indicados. Muitos deles comparecem na antologia, alguns com então inéditos.
A edição não aparece referenciada em nenhuma das bibliotecas com acesso na net (e faz falta). Ao contrário do que sucede com a mais conhecida mas rara (Nº 47) edição comemorativa Contribuição ao Registo de Nascimento, Existência e Extinção do Grupo Surrealista de Lisboa (de 1974), por ocasião dos 50 anos do 1º Manifesto de Breton - as datas: 1924 / 1947-48 / 1974. Publicam-se em folhas separadas 12 cartas que fizeram a grande e a pequena história do referido evento nacional. Edição de 300 exemplares: e este é o nº 159 com dedicatória do editor (de parceria com Cruzeiro Seixas) ao autor desta notícia (!!). Tal como sucede, aliás, mas em 200 exemplares (Nº 48) , com uma intrigante folha impressa por um autoproclamado "Surrealist Bureau" sito em Lisboa em Fev. 84, onde se reproduz parte de um texto sem título (uma carta?) em inglês (de 1979?) da autoria do editor e livreiro John Lyle, que fez parte do Grupo Surrealista britânico. Continuava então em debate, com actualizações de ordem científica e política, o que devia ser "the Chateau of Surreality".
Os Nºs 46 e 47 vêem-se abaixo, precedidos por um exemplar de Lisboa, Cidade Triste e Alegre, de Costa Martins e Victor Palla, em 1959.
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Uma "caixa de arte" (Nº 49) e um muito especial catálogo (ou livro de artistas?, obra de grupo) aparecem nas seguintes páginas virtuais, com a acidental coincidência de serem aqui ilustradas com serigrafias de Pedro Calapez. A 1ª é um envelope onde se conservam contribuições artísticas de variados "operadores estéticos", como dizia Ernesto de Sousa, homenageado pela inicitiva no Inverno de 1985, na cooperativa Diferença. A lista é extensa, envolve maiores e menores notoriedades, com obras originais ou múltiplos assinados (ou não), sempre mais ou menos variáveis em cada uma das "caixas de arte". Seriam 130 as previstas, mas a produção ter-se-á ficado por 40 exemplares, segundo informa Maria Estela Guedes (coordenadora do projecto com Fernando Camecelha).
A pequena obra de Helena Almeida (a colagem original "A Casa"), à direita,
é acompanhada por contribuições de Julião Sarmento & Fernando Calhau, Ernesto de Sousa, João Vieira, Pedro Proença, António Palolo, Alberto Carneiro, José Barrias, Irene Buarque, António Inverno, Fernando Aguiar, Xana, Noémia Seixas, Túlia Saldanha, Carlos Nogueira, Cerveira Pinto, Telectu, ETC. Fica aí representado uma mudança de tempos, que são já os de "Depois do Modernismo" (1983), mas mantêm memórias de vanguardas e relacionamentos pessoais vindos da década anterior e do círculo de Ernesto de Sousa, e se prolongam já na mais nova "geração" dos Homeostéticos.
Editado pela Galeria Metrópole, que existia em 1983 num andar elevado da Rua Barata Salgueiro, o Nº 51 é uma publicação (de arte) que é mais do que um catálogo e acompanhou a exposição intitulada "Instalação" do grupo então formado por Pedro Calapez, Pedro Cabrita Reis, Ana Léon, Rosa Carvalho e José Pedro Croft - os quais viriam a fazer a mostra "Arquipélago" (com Rui Sanches), na SNBA em 1985. Cinco serigrafias foram impressas por António Inverno em cartolinas desdobráveis (frente e verso), mais uma capa.
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