Um convite inesperado e um tema desconhecido: as tapeçarias de Portalegre. Um texto para o catálogo da exposição que hoje se inaugura no Palácio de Belém ("NÓS NA ARTE – Tapeçarias de Portalegre e Arte Contemporânea") proporcionou-me algumas leituras curiosas.
Diana, de João Tavares, 1947. A 1ª tapeçaria tecida na fábrica de Portalegre
Por exemplo, um texto de Mário Dionísio de que se desconhece a data exacta e onde dá conta de exaltações próprias do pós-guerra, a propósito da grande exposição de tapeçarias que o Museu de Arte Moderna de Paris realizou no Verão de 1946 (“Tapeçaria moderna”, artigo do suplemento “Cultura e Arte” de O Comércio do Porto recolhido em “Estrada Larga”, vol. II, Porto Editora, s.d., pp. 198-203):
Em 1949, os méritos da tapeçaria eram disputados quase em simultâneo pela IV Exposição Geral de Artes Plásticas, na SNBA, onde pela primeira vez se mostraram tapeçarias executadas em Portalegre, segundo cartões de Maria Keil, Júlio Pomar, Lima de Freitas, mais um cartão do próprio Mário Dionísio, por atraso da execução, e por António Ferro, que então promovia o seu primeiro Salão Nacional de Artes Decorativas, no SNI, e aí se apresentaram cinco tapeçarias de Almada, Manuel Lapa, Jorge Barradas, João Tavares e Ventura Porfírio. José Régio, então professor em Portalegre, tinha sido o elemento de ligação a alguns destes artistas (nomeadamente a João Tavares).
Jean Lurçat era então um artista internacional de primeira linha e um exemplo seguido. A defesa da grande decoração (a pintura mural, a tapeçaria, os fotomurais de Corbusier ou de Lola Alvarez Bravo, etc) acompanhava a crítica do quadro (destinado aos interiores burgueses), a ambição da arte pública e a ideia modernista da “integração das três artes”.
O contexto político não era favorável a tais veleidades, e só nos anos 60 os artistas modernos viriam a ter possibilidades de explorar mais amplamente os recursos da tapeçaria. O arquitecto Conceição Silva, que tinha um papel capital na modernização arquitectónica de Lisboa (as lojas dos anos 50) e na resposta às novas estratégias do turismo e da hotelaria (o Hotel do Mar, o Hotel da Balaia, etc) veio a desempenhar um papel muito significativo com a criação deo Centro Português de Tapeçaria e da galeria Interior, inaugurada em 1964. Chamaram-lhe (depreciativamente!) a primeira galeria comercial.
A história continua, com outras dificuldades...
"NÓS NA ARTE – Tapeçarias de Portalegre e Arte Contemporânea"
exposição do Museu da Presidência da República
29 DE ABRIL / 31 DE JULHO
Palácio de Belém; Ter a Sex: 14h30-17h30 Sáb e Dom: 10h-17h30
Caro Alexandre Pomar
Gostei muito deste pequeno texto que escreveu sobre as tapeçarias de Portalegre. Acrescenta um carácter histórico e alguma informação ideológica que me faltaram (por falta de espaço e até por desconhecimento) no texto que escrevi para a Time Out. Gostaria que o lesse, já está no meu blog www.folhadesala.blogspot.com
Cumprimentos
Miguel Matos
Posted by: Miguel Matos | 04/29/2009 at 00:14
Obrigado pelo comentário. Para mim foi tb uma surpresa o contexto histórico e ideológico em que arranca a produção da tapeçaria contemporânea em Portugal, no pós-guerra de 1945, bem sintonizada com o contexto internacional: Lurçat-Corbusier e o modernismo humanista/progressista da "integração das artes". A coisa não podia ir longe (a tapeçaria do regime só podia ser Camarinha, Almada e Botelho - e eram muito razoáveis, como se vê no Ritz e no Tivoli, por exemplo...). Foi preciso esperar pelo desenvolvimento económico dos anos 60 e pela sua nova arquitectura, que era então a de Conceição Silva, um homem pouco lembrado, talvez por ser mais pragmático que ideológico.
Por acaso, já tinha achado bem curioso o seu interesse pelas Tapeçarias de Portalegre, no artigo que publicou.
Posted by: ap | 04/29/2009 at 00:40