A exposição está a terminar - já amanhã, 29, e não reparei que a imprensa (?) a tenha referido como um acontecimento. A visita recomenda-se. Trata-se da colecção de Alberto Lacerda, confiada a Luís Amorim de Sousa e mostrada agora em parte na Fundação Mário Soares, que a acolheu temporariamente e tem tratado e classificado, - e também exposta no Museu Arpad e Vieira, noutro núcleo dedicado à relação com os dois artistas. Já em 1987 o CAM a tinha apresentado e agora ela regressa após a morte do poeta em 2007 - chegada em 2008 num grande camião que transportou um espólio de 16 toneladas.
Para além da importância, por vezes grande por si mesma outras vezes mais testemunhal, das obras mostradas, trata-se de uma colecção documental muito extensa e extremamente valiosa pela memória que transporta da vida cultural de Londres desde os anos 50 e da relação dos artistas e poetas portugueses com ela, ao longo de muitos exílios, formações, bolsas, viagens, etc.
David Hockney e Alberto Lacerda
Retrato de Paula Rego por Victor Willing, 1975, 55,8 x 40 cm, com a dedicatória: "18-07-78 For Alberto do Vic."
Sem título, Alan Davie, DEZ.1968, guache/papel, 27,8 x 38 cm
A exp. da Fundação Mário Soares é acompanhada pelo competente catálogo. Alfredo Caldeira dá informações sobre o espólio (21 461 livros, catálogos e publicações diversas; 787 obras de arte, etc) e Luís Amorim de Sousa fala do coleccionador. Outros textos.
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Legada a Luís Amorim de Sousa, poeta também, que viveu em Londres entre 1959 e 1976 (e outra vez mais tarde), a colecção de Alberto Lacerda acrescenta-se (à) e amplia muito a sua própria colecção, que mostrou em 2005 no Centro Cultural de Cascais: "Memorabilia", baseada no livro de relatos e memórias que se chama "Londres e Companhia", ed. Assírio & Alvim, 2004.
É certamente em Cascais que deverão vir a ser sediadas as duas colecções (de livros, catálogos, obras de arte, discos, fotografias, documentos pessoais, etc), que traçam os mapas culturais de Londres ao longo de várias décadas e também dos caminhos e interesses dos artistas e poetas que aí permaneceram ou permanecem. Com a Casa das Histórias e dos Desenhos Paula Rego a inaugurar dentro de meses, a instalação geograficamente próxima das duas colecções e bibliotecas seria uma ligação e uma rectaguarda particularmente enriquecedoras, estabelecendo um contacto mais documentado com o panorama de Londres com que a pintora se relacionou e com abertura a outras redes de referências artísticas e literárias mais alargadas.
Romeu e Julieta, Paula Rego, s/d, acrílico/tela, 35,5 x 45,5 cm (col. A. Lacerda)
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"Feijões, poesia e arte em St. George's Terrace", 1963, fotografia de João Cutileiro com disparador automática
«Memorabilia»
C. Cultural de Cascais
26-11-2005
Luís Amorim
de Sousa, poeta e autor do recente Londres e Companhia (ed. Assírio
& Alvim), sobre os anos de exílio de 1959 a 74 e os artistas e
escritores que foi conhecendo, apresenta obras de arte, cartazes,
convites e catálogos, revistas e livros de poesia, fotografias e outros
documentos de um muito rico espólio de memórias pessoais com interesse
já histórico. Incluem-se esculturas e retratos fotográficos de João
Cutileiro, obras de Menez (em especial um belo pano bordado a lã),
Bartolomeu dos Santos, Paula Rego, António Sena, Cesariny, João Vieira,
Jasmim, Maria Beatriz, etc., e também de Lourdes Castro e Costa
Pinheiro, vindos do continente, de Hockney, etc. E uma escultura de
Waldemar d’Orey, aluno e professor de St. Martin’s, discípulo de Antony
Caro, o primeiro a integrar-se no panorama britânico, até interromper
bruscamente o trabalho artístico. O livro é um relato tocante de
vivências e cumplicidades, quando Londres se tornava um decisivo pólo
de atracção para os artistas portugueses, e a mostra ilustra-o na mesma
escala intimista com um itinerário por obras e autores que representam
bem uma época. (Até 11 Dez.)
Estive na inauguração, gostei bastante e de facto é uma exposição a não perder!
Posted by: ali_se | 05/29/2009 at 17:45