Dia 21, 5ª inaugura-se o MUDE, o que, embora não pareça, quer dizer Museu do Design e da Moda (devia ser MUDEM, ou MuDeM, mas não é), e o título ainda continua com "Colecção Francisco Capelo", que é o nome de quem comprou, prometeu que doava, hipotecou e depois vendeu a colecção à CML. Foi ele o iniciador das colecções (Design e Moda), mas não será certamente o único coleccionado no futuro (e já não o será mesmo no presente, porque outras compras se fizeram).
Não, não se inaugura o MUDE(M) mas uma "Antevisão" do mesmo, ou melhor, uma ante-estreia: "Ante-Estreia – Flashes do MUDE"
(Mais adiante fala-se de episódios algo obscuros)
Há que dizer que o MUDE(M) - que tem como directora Bárbara Coutinho - tem sido bem promovido: 1 - tem um site dinâmico - http://www.mude.pt ; 2 - fez sair um catálogo/livro já na 2ª feira dia 18, que se vende por toda a parte a €5.
Tem o design de uma luxuosa revista de moda, de muito grande formato, e é pouco prático para consultar, folhear, guardar, etc, ao contrário do livro-catálogo editado há dez anos pelo CCB. A "Concepção e Coordenação" é de Francisco Capelo (!) e Bárbara Coutinho.
e 3 - foi antecipado por exposições sectoriais mais discretas no "espaço" Sala do Risco desde Abril de 2007,
depois de ter sido destinado ao Palácio Verride, em Santa Catarina, ao Adamastor, que não teria condições para tal. A actual direcção da CML recusou a anterior localização e encontrou outra:
O edifício ocupa na totalidade o quarteirão delimitado pelas R. Augusta e R. da Prata, respectivamente a poente e nascente, e cortado pela Rua do Comércio e Rua de S. Julião, a sul e a norte. O edifício, antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, posteriormente transferido para o património da Caixa Geral de Depósitos, sofreu sucessivas campanhas de obras, destacando-se as realizadas entre 1951 e 1967, da autoria do Arqt. Cristino da Silva. O quarteirão foi então unificado num único edifício, com uma implantação de c. de 1900 m2 - distribui-se por 8 pisos, sendo um deles em cave, e possui no total uma área bruta de construção de 13.345 m2.
"A sua adaptação a museu integra-se na vontade da CML de dotar a cidade de novos equipamentos culturais, transformando-os em espaços vitais para o desenvolvimento económico, cultural e turístico da capital."
À data da aprovação da compra, Nov. de 2008, falou-se na instalação do Museu da Moda e do Design e de uma Loja do Cidadão no edifício da Rua Augusta que albergou a sede do BNU. A proposta, apresentada pelo vereador do Pelouro das Finanças, foi aprovada por maioria, com os votos contra do PSD (3) e as abstenções dos vereadores da lista Lisboa Com Carmona (2) e Cidadãos Por Lisboa (2). Oa concretização do negócio (no valor de 15,5 milhões €) foi depois viabilizada na Assembleia Municipal de 10 de Março de 2009 pela abstenção dos deputados sociais-democratas, em maioria, e contou tb com a abstenção do PEV e os votos favoráveis do PS, PCP, BE e CDS-PP.
As obras definitivas far-se-ão com projecto de Manuel Reis e do arq. Alberto Caetano. Ver notícia de 19 de Maio em http://dn.sapo.pt (Paula Lobo)
e "Uma história de resistência com final feliz (será?)", por Vanessa Rato (Público) em aculturarte.webnode.com
ENTRETANTO, por mais que dê voltas ao catálogo não percebo se o MUDE já existe de facto ou se é só o anúncio de uma intenção. O presidente António Costa diz que “O MUDE será um verdadeiro choque vitamínico para a Baixa”, mas não me esclarece essa questão. A incómoda revista-catálogo (edição da CML) apresenta Francisco Capelo como "Presidente do Conselho de Gestão" - mas não se percebe que entidade é essa. A notícia do site da CML - http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=42463 - diz com municipal ingenuidade: "Visivelmente satisfeito com o espaço, Francisco Capelo fez as honras da casa e mostrou algumas das mais emblemáticas peças que fazem a História do Design e da Moda desde os anos 30 do século XX." A notícia da RTP parece estar mais correcta ao referir "o coleccionador Francisco Capelo, que vendeu a colecção à autarquia em 2002 e continua a acompanhar o projecto" ...
Anteriores episódios algo obscuros
A Colecção de Francisco Capelo esteve exposta no CCB de 1999 a 2006 - e foi subita e inesperadamente vendida em Dezembro de 2002 à CML - sendo seu presidente Pedro Santana Lopes - por cerca de dez (?) milhões de euros (estando à data hipotecada ou dada como garantia a Joe Berardo...) Ficou depois depositada em armazém, quando no CCB se instalou o Museu Colecção Berardo. E chegou a falar-se já em 2007 (Helena Roseta) de a destinar ao Pavilhão de Portugal.
Por acaso, foi no Expresso que dei notícia pela 1ª vez da existência da Colecção de Design de Francisco Capelo, num contexto em que se tratava de pressionar a cedência da Gare Marítima de Alcântara para o efeito, depois de se ter abandonado a ideia de aí sediar uma extensão do Museu do Chiado. Estava-se em Junho de 1997 (MC, M.M. Carrilho) e o acordo entre o Porto de Lisboa e o IPM (Simoneta Luz Afonso) vinha já de 1995 - com inauguração prevista para 1996... (afinal, nem Chiado, nem Colecção FLAD com a qual se assinou um protocolo, nem Design)
A notícia feita então em 1ª mão com as declarações interessadas do coleccionador está em
(1997_francisco_.html) EXPRESSO/Revista, de 20 Junho 1997, p. 84-92
"Um museu para o Design"
A
colecção está reunida e o edifício já foi adaptado a um destino
museológico que não se concretizou. Francisco Capelo propõe inaugurar
antes da Expo
a que se seguiu em 1999 a notícia da inauguração do Museu do Design, não na Gare de Alcântara, mas no CCB
«Luxo, Pop e Cool»
EXPRESSO/Cartaz de 17-04-1999 ( 1999_ccb_museu_.html#more )
Recorde-se uma passagem relevante:
"Inicialmente proposto para a Gare Marítima de Alcântara, o projecto veio a ser orientado para o CCB, em negociações com o ministro da Cultura que conduziram à definição de um modelo original de Museu de colecção privada e dupla tutela. Um acordo por dez anos, automaticamente renovável, foi firmado em Outubro de 98 entre o coleccionador (através da Associação Design Moda) e a Fundação das Descobertas, ficando expressa a intenção de uma futura doação ao Estado."
Ou seja, da intenção de doação passou-se à venda, e o acordo para dez anos durou apenas 4, mas o coleccionador Capelo manteve sempre a (dupla) tutela sobre o destino da Colecção. O texto que F. Capelo escreve a iniciar o Livro/Catálogo do MUDE omite obviamente esses e outros pormenores ("depois de muitas histórias para outra história", diz ele com justificada ironia).
A colecção da Moda tem uma outra saga: justificou a mudança do nome do Museu do Traje acrescentando-se e da Moda; teve a ambição de ser acolhida no Palácio Foz, etc. Mas faltam dados para rever esses episódios galantes.
Caro Alexandre Pomar,
Tem toda a razão: a colecção de Moda é, de facto, um outro episódio nesta telenovela do pseudo museu de design - envolve uma outra equipa de trabalho qualificada que literalmente foi 'corrida' por razões políticas para que se arranjassem 'jobs for the boy and girl', envolve uma programação museológica séria e rigorosa abandonada pela actual 'directora' e envolve uma total alienação de deveres por parte da câmara na figura do 'presidente/gestor/dono' deste espólio.
De galante não tem, de facto, nada. Mas também nada que interesse em época de campanha autárquica.
Posted by: (alguém curioso ...) | 05/21/2009 at 19:09