De facto, pensando melhor, acho que os dois/quatro dias que faltam para os chamados Dia e Noite dos Museus (16 - 18 de Maio) ainda chegam para mobilizar disposições públicas em torno do Museu de Arte Popular. Claro que o pessoal dos diferentes museus estará ocupado a animar iniciativas nas suas próprias instituições/repartições. Claro que o pessoal das festas vai estar mais atento aos programas delas e quer é reinar. Claro que há as questões dos Coches, da Arqueologia, da Cordoaria, etc. Claro que há por aí agitações pouco claras (e pouco simpáticas) em torno de agendas, agências, plataformas, seminários e estratégias por onde (MC e CML...) desfilam muitos que vivem encostados ao poder e os que gostariam de encostar-se, com os calendários eleitorais a marcar o ritmo. Mas...
foto disponível em http://www.ippar.pt/
Mas talvez seja possível chamar a atenção para o caso do Museu de Arte Popular agora e como pólo de reflexão neste Dia dos Museus: É um pequeno caso que não envolve grandes meios nem grandes interesses mediático-financeiros-políticos como os Coches e a Arqueologia. É um episódio particularmente equívoco, em que a reviravolta da posição do ministro mostra a fragilidade dos argumentos, tal como a desistência de juntar o Mar e a Língua em novas navegações colonizadoras, tal como o já antigo devaneio do Hermitage. É uma situação emblemática de como se decide - no caso da Cultura - sem fundamentação técnica, sem pareceres de especialistas ou contra eles.
As questões da arte popular - até porque o museu deveria ser um pólo de outras iniciativas e animações, como foi em tempos do Mercado da Primavera e do Mercado do Povo, à sua volta - têm a ver com ofícios e artesanatos, com tradições artísticas e artes menores, e têm estado em foco, a propósito da economia real e do emprego. Bordalo Pinheiro e as cerâmicas das Caldas, a Secla, não andam por longe. E o Museu de Arte Popular tinha muitos admiradores e era/podia ser um êxito turístico.
Atrás indicou-se o blog http://museuartepopular.blogspot.com/ onde há mais informação sobre esta história, que tem muitos outros elementos controversos e pouco claros. O Museu ainda existe como instituição legal (não foi extinto), embora já corram por aí umas empresas amigas a congeminar "conteúdos" para vender à tutela. Andam aí precipitações eleitorais? Promiscuidades e tráficos pouco dignos? Estamos a recolher elementos.
O edifício do Museu revisto por Jorge Segurado em 1947-48, depois da Exposição de 1940, continuou a ser uma obra de arquitectura efémera, sempre com grandes dificuldades e custos de conservação - julgo que por isso não chegou a ser classificado como monumento nacional. Como é que se pretende agora instalar o novo museu (?) num edifício precário e instável, envelhecido e frágil, com todos os custos de uma "reabilitação" sempre problemática? Ou se arrasa e faz de raiz ou se deixa estar e melhora-se o que existia.
E sendo o edifício marcado por uma fortíssima presença interior e exterior de obras de arte - arte pública, grande decoração, pinturas murais e baixos-relevos - como é possível que o Ministério da Cultura dê o exemplo de desfigurar essa componente indispensável do monumento construído, ocultando-a atrás de ecrãs e painéis de plasma?
Se ficarem expostos são um contra-senso em relação ao novo programa, são a memória de um modernismo folclorizante e nacionalista que é elegante e de boa qualidade formal mas apenas compreensível no contexto do programa original, dedicado às artes e às tradições populares regionais (originais ou ficcionadas). Se se taparem é um escândalo gritante. Um pouco mais lá em cima fica a vivenda moderna onde se tentam preservar os azulejos do Almada, que são particulares; aqui atacam-se os murais do Carlos Botelho, do Tom, da Estrela Faria...
Foto de Arnaldo Madureira, 1961, Arquivo Fotográfico de Lisboa
Parabéns!!! Que bom ter companheiros de luta de tanta qualiddae
Posted by: Raquel Henriques da Silva | 05/15/2009 at 00:26
Obrigado (mas não exagere). Desta vez estamos outra vez do mesmo lado, o que é bom. Noutros casos fomos divergindo (Chiado, CCB/Berardo, Africa.cont). Este é, de facto, um caso da mais ampla unidade. Temos de nos encontrar todos lá à porta.
Posted by: ap | 05/15/2009 at 00:47
Obrigado e parabens
Alguem me explica qual a razão desta cobiça pelo MUSEU DE ARTE POPULAR?
Já alguem sugeriu o pavilão de Portugal na EXPO, edíficio fechado de paredes cegas, pronto para receber todos os plasmas necessários ao novo projecto?
Não aprendemos nada com os erros do passado .Continuamos alegremente a delapidar o património agora,pela mão de quem esperavamos que o defendesse.
Posted by: Maria f.garcia | 05/15/2009 at 17:33
Por acaso... o Pavilhão de Portugal dava um bom Museu da Língua Portuguesa...
Bem visto!
Talvez se o museu homónimo do Brasil tivesse sido feito em Brasília, alguém aqui se teria lembrado dele... ou não...
Posted by: Pedro dos Reis | 05/16/2009 at 00:40