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05/08/2009

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Gonçalo Pena

parece-me mais uma atabalhoada manipulação simbólica por parte dos governos que nos têm oprimido pela mediocridade desde há uns anos para cá. Se por um lado o bom tom obriga-os a afastarem-se do antigo regime, a própria tendência autoritária de tecnocratas de vistas curtas fá-los querer substituir símbolos passados que tiveram uma efectividade própria (concordo com a absoluta importância de se reconfigurarem leituras sobre esses testemunhos) por novas simbologias dubias de sentido, anacrónicas, desinteressantes e envergonhadamente submissas a um novo género de imperialismo em alguns aspectos mais miserável que o anterior. Se o imperialismo de quarenta corresponde a uma forma histórica que está encerrada no tempo e por isso poderá ser pensada sem riscos, o actual regime quer-se pôr também em bicos dos pés mas não vai para além das opções de marketing merceeiro (sem querer ofender os pequenos lojistas). Da arte popular das provincias para a cultura provinciana generalizada como encobrimento de novas formas de dominação.

Pedro dos Reis

A "logica" da decisao tomada em Conselho de Ministros parece claramente basear-se numa questao utilitaria e de reabilitacao daquela zona (privilegiada) de Lisboa. Os interesses que deveriam ser salvaguardados: tanto a Arte Popular e o momento historico-politico do nosso Passado recente; e por outro lado, a Lingua Portuguesa, que e' um patrimonio nosso e de todos os Paises que a falam; foram completamente atropelados neste processo.
Sao o motivo, mas ao mesmo tempo um acessorio politico, que quer mostrar obra feita, mas nao sabe como o fazer.
Nao interessa apenas mostrar que se quer fazer alguma coisa na 'area da Cultura. Interessa, sim, que se pensem os problemas e se encontrem solucoes.
E os problemas tambem nao se resolvem com o refugio facil do papel da vitima.

Penso que a pressao para haver um Museu da Lingua vem do facto do Brasil se ter antecipado nesse aspecto e de se fazer ma' figura nas cimeiras da CPLP.
Se os mesmos politicos se congratulam pela classificacao da Unesco sobre as estruturas militares e coloniais que oprimiam os povos onde Portugal teve presenca, porque nao fazer alguma coisa por manter a memoria de uma manifestacao cultural criada num momento da vida portuguesa, sob um regime ditaturial?
Usar uma logica de substituicao, esperando que a memoria desse passado, se esvaia na presenca da Lingua Portuguesa, e' um atentado cultural e que dificilmente sera' recuperado.

Defender a Cultura que temos e' equivalente a comprar submarinos - e' um assunto de Defesa para qualquer Nacao, que se preze. Caso contrario limitaremos-nos a consumidores culturais, sem capacidade de accao no Mundo; de Cidadaos a Espectadores, do Mundo.

Como poderemos dar valor ao que existe agora, se nao tivermos um termo de comparacao com o passado? Ao podermos ter acesso aos artefactos dessa altura e 'as formas de socializacao ou estruturacao da sociedade desse outro tempo, talvez possamos entender melhor porque e' que se quis Democracia.

Luisa

Lá teremos mais uma inauguração de arromba e, passados um par de anos, um museu sem trocos para substituir lâmpadas. O que interessa é fazer, não importa o quê nem onde. E o espólio (excelente) do MAP, onde se expõe? Onde é estudado? onde serve a pesquisa de investigadores?

ap

Olá Luisa. Neste caso do projecto da língua (com ou sem "Mar da Língua", como na versão de 2006), o museu seria virtual, multimédia e interactivo, como o de São Paulo na Estação da Luz: sem objectos, só lâmpadas. O espólio do MAP foi entretanto recolhido no Museu de Etnologia, que aliás chegou em tempos a ter a tutela daquele - mas de má vontade e sem consequências. Estará a ser ou já foi classificado. De 2006 a 2009 passaram 3 anos: agora estamos em eleições...

Luisa

virtual? mais pensarão que 'poupam'...

carlos b

É que já nem comento sequer a estupidez que é a "destruição" do MAP, uma das poucas memórias que sobrevivem da política cultural do Estado Novo, e que como tal deveria ser preservada e solidamente apoiada por uma correcta e isenta interpretação histórica e crítica da colecção, do período e das vontades que o construiram de maneira a, de uma vez por todas, se perderam os pruridos de falar sobre aquilo que na realidade, para o bem ou para o mal, foi meio século da nossa história.

Eu já só analiso isto segundo o espírito mercantilista segundo o qual se vê toda esta transformação da frente do Tejo/Belém e que arrasta os pobres dos museus portugueses atrás.

A cultura passou a ser vista segundo o ponto de vista do dinheiro que ela retorna à nação, e assim é vista esta reinvenção de Belém:
-ele há um espaço nobre da cidade que sobrevive sem contentores à frente do Tejo;
-uma linda vista do rio e do lado de lá com uma boa luz e um bom ar (embora as rajadas de vento de vez em quando sejam um pouco incomodativas);
-uns dois ou três monumentos dignos de cenário para a proverbial foto de grupo para melhor se recordar depois lá em Okinawa, Frankfurt ou Wiscosin;
-e uma concentração simpática de um conjunto diverso de acervos que quase cobrem todos os gostos: das pedras de Arqueologia às modernices das pinturas do comendador, passando pelos barcos da Marinha e pelos coches dos Coches, não esquecendo a CentralTejo para quem é tarado pela bricolage e a subida à Ajuda para ver como viviam os reis e as rainhas.
E entre as camionetas dos turistas a descarregá-los por ali em magotes ou os mais solitários que se metem à aventura, eles aparecem e gastam o bom do Euro, Llibra, Iéne ou Dólar entre as bilheteiras, as estupidamente compridas filas dos pastéis ou as manhosas lojas de souvenirs.

E daí o meu cada vez maior espanto com esta coisa do novo museu da língua no espaço do defunto MAP.
Quem é que são os parvos, quer no Ministério da Cultura propriamente dito, quer no da Economia (que actualmente manda em tudo, mesmo tudo) que ainda não se aperceberam que talvez os turistas (os tais do benvindo Iéne e Dólar) não se vão interessar muito por um bando de virtuais projectores interactivo-multimédiescos a debitar informação sobre uma língua que não é a deles mas que se passariam dos carretos a ver as tralhitas populares portuguesas, por muito que a verdadeira etnografia nos diga o quanto aquela visão é deturpada e manipulada, mas isso a eles não lhes interessa.
O que interessa é que depois da visita, a velhinha espanhola de leque em punho lá de Alicante iria comprar um lencinho de namorados; o jovem estudante polaco o galito de Barcelos para oferecer à mãe; e o americano gordo suado um tarro de cortiça para melhor guardar a bejeca. Não estou a ver nenhum destes (e são estes o grande volume do turismo) feliz e exultante a gastar o seu dinheirito no (já o estou a ver) magneto para o frigorífico com as "lágrimas de Portugal" do Pessoa; numa t-shirt estampada com a etimologia do termo bigode; ou numa reprodução da pala do Camões para o puto brincar no próximo hallowen.

Será assim tão difícil de ver?!

E depois, com o dinheiro que aí ganharem, façam lá o raio do Museu da Lingua Portuguesa noutro sítio qualquer e, tal como em São Paulo, despejem para o seu interior camionetas cheias de míudos das escolas que não pagam bilhetes e que bem precisam de ver/ler qualquer coisa sabendo que no final eles não irão gastar um cêntimo na loja porque precisam de os poupar para poder mandar mais sms aos amigos (talvez agora miraculosamente sem erros).

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