É um bom slogan e uma ideia duplamente justa, pela Europa e pelo Vital Moreira.
Disse antes que ía ponderar o meu voto (mais um, menos um...), em função daquilo que conheço melhor, que é a área da Cultura e em especial dos Museus. Mas, pensando melhor, esta eleição tem uma dinâmica e uma importância específicas, e temos tempo para rever mais tarde as posições a tomar quanto às duas eleições seguintes, ambas de índole local.
Sem discutir a Europa, porque a questão é aqui simples (sim ou não), trata-se de votar na Europa. E discutindo Vital Moreira (isto é, considerando que, para além do PS, ele impôs uma identidade própria), trata-se de votar no cabeça de lista. Pelo menos nele, mas também no Correia de Campos, que foi um bom ministro e é um ex-ministro com grande dignidade (o que é raro, vejam-se a Isabel e o Manuel Maria). O slogan, aliás, só o vi no Marquês de Pombal, pareceu-me que o PS fez um prudente ou tímido uso da fórmula.
Ao contrário de muita gente que conheço, que está sempre pronta a instalar-se na confortável situação de ser contra (mas vão sendo a favor de várias pequenas redes de interesses), gostei da escolha do Vital Moreira, que fui acompanhando como um dos poucos cronistas e autores de blogs respeitáveis. Disserem alguns que estava sempre colado às posições do Governo, o que é factualmente falso. Acontece que ele nunca se quis adaptar à facilidade dos que são sempre contra - e parece ser essa posição que vende segundo os suicidários critérios jornalísticos em vigor (o exemplo extremo, já ao nível da degradação intelectual, moral, pessoal, etc, é o Vasco Pulido Valente; mas o trilho é seguido por outros que gerem a hostilidade e a indiferença ou a distância como marca de "independência" ou superioridade, e estou a pensar em grande parte do António Barreto - gostei muito da sua série sobre Portugal e aguardo os trabalhos sobre o Douro). De facto, aquela frase anarco-jornalística muito citada do "há poder, sou contra" sempre justificou os maiores oportunismos.
A boa escolha tornou-se uma boa campanha, crescendo de eficácia, sentido da oportunidade e talento político. Já sei que há opiniões contrárias no seu/nosso espaço (e eu mantive uma atenção pouco militante), mas percebe-se que há sempre quem queira diminuir a importância do parceiro do lado ou de cima.
A defesa, primeiro, do centramento da campanha em questões europeias, e a seguir a entrada sonora nas questões internas resultaram em pleno. A demonstração da capacidade da veemência e mesmo violência verbal foi outro êxito - espantando e cilindrando os adversários. A evidente orientação pessoal do discurso, afirmando posições próprias (o que é pp de qq candidato e mais ainda de um candidato independente), é mais um trunfo poderoso - deixando uma imprensa estúpida a especular sobre "divisões internas", talvez habituados à facilidade da cassette e à dicotomia primária entre obediência cega e intriga. Não vi tudo, mas não vi uma falha.
Julgo, de facto, que parte substancial do êxito da campanha fica a dever-se a Vital Moreira, o que preocupará círculos reverentes e os que preferem fazer o deserto à volta. A esquerda tem deixado abater os seus nomes, e emerge agora uma personalidade política com autoridade própria.
O resto, por mais pesado ou obscuro que seja, não está por agora em jogo. Votar nas margens para penalizar o Governo é uma ilusão, um desperdício, um erro político que se paga caro, abrindo caminho para o regresso do mesmo. Em especial, não é indo atrás das excelentes rábulas do Miguel Portas que se avança alguma coisa (o excesso de prática retórica parece convicção, mas as promessas estão demasiado oleadas e deixam bem à vista como o equilíbrio entre as velhas academias partidárias e a "esquerda festiva" é uma precária construção com muitos vícios, atracções e facilidades e de facto sem horizontes).
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