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Carlos Botelho, pinturas murais da Sala das Beiras, no Museu de Arte Popular, 1948.
Como refere a dissertação de Luís Filipe Raposo Pereira (U. Lusófona, 2008), a decoração mural reúne e sintetiza os motivos principais da região, desde as lendas de Monsanto (em baixo à direita) até às tricanas de Coimbra e à faina dos moliceiros (em cima à esquerda)
Na banco de imagens do IMC: Cenas da vida rural, Século XX (c.1940) - sic
Fotógrafo:José Pessoa, 2008. Copyright:© IMC / MC
http://www.matrizpix.imc-ip.pt
Foto de Armando Serôdio, 1966, Arquivo Fotográfico de Lisboa (acrescentam-se os candieiros)
Foto de 1940, Panorama nº 35. Foto de Castelo Branco
Duas fotos de Maria Luísa Abreu Nunes durante a transferência da colecção do MAP para etnologia.
Estudos para as pinturas murais publicados no Panorama nº 35, 1948.
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Ao contrário de Paulo Ferreira e de Tomás de Mello (Tom), que são pintores-decoradores, Carlos Botelho (1899-1982) tem uma das obras de pintura mais significativa entre os artistas da sua geração. E é mesmo um personagem particularmente complexo apesar da "simplicidade" e de algum ingenuismo da sua pintura - a diversidade das facetas do artista e do personagem é muito curiosa.
Além de pintor de quadros (e especialmente de vistas de Lisboa, vida fora), foi também um desenhador de humor, mantendo por várias décadas (22 anos e meio, de 1928 a 1950 - cerca de 8000 desenhos editados diz J.A.F., CAM-FCG 1989) a publicação dos Ecos da Semana no semanário Sempre Fixe, onde acompanhou a actualidade com amável senso crítico (e um ou outro ligeiro problema com a Censura).
E foi artista gráfico e depois decorador desde 1930 (1ª Exposição Nacional do Trigo e Exp. Colonial Internacional de Paris; a seguir Paris 1937, quando se forma a famosa equipa de decoradores do SPN, e Nova Iorque e S. Francisco em 1939, etc. Decorações para a Pousada de Serém em 1942. Cenógrafo para o Verde Gaio em 1941 e 42, director de cena em 43. Dessa actividade profissional, vivida sempre como empregado do SPN/SNI, não se valorizam obras nem o próprio se interessava por conservar informações. Colaborador directo das actividades de cultura e propaganda do regime, era tb uma figura respeitada como "independente" e até próxima de círculos desafectos à "Situação". As contradições que por aqui passam ilustram a figura do pintor e as ambiguidades do regime. Mas, de facto, até meados dos anos 60, ninguém vive apenas da pintura (o ensino, a publicidade, a decoração, a ilustração são as profissões dos pintores).
As duas pinturas murais a fresco do MAP deverão ser exemplos raros da arte pública, da pintura ilustrativa e decorativa, aqui displicentemente anedótica, que Botelho praticou em paralelo com a sua produção doméstica e intimista de paisagens de Lisboa. Não são a descoberta de pinturas de grande valor mas têm interesse pelo que representam numa carreira dividida e pela sua participação qualificada no projecto de discurso museológico-ideológico integrador que o MAP representava nos anos 40.
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