Depois de Paulo Ferreira (Estremadura), Tomás de Mello (Tom) e Manuel Lapa (Minho), Carlos Botelho (Beiras) e Estrela Faria (Alentejo), a visita virtual ao Museu de Arte Popular continua com Eduardo Anahory e Trás-os-Montes. Peça a peça, vou ficando mais convencido que a classificação do edifício que foi pedida ao ministro da Cultura a 28 de Maio (data simbólica, mas ocasional, e de facto António Ferro é menos um efectivo ideólogo ou intérprete do regime do que alguém que o tentou ser e acabou por sair derrotado no seu projecto de dar à ditadura um programa estético modernista - de um modernismo que no final dos anos 30 já trocara a ambição futurista pela busca de raízes ingenuamente/"genuinamente" (?) portuguesas, populares e folcloristas, mais ou menos refabricadas para o efeito), deve avançar até ao reconhecimento de que se trata de um óbvio monumento nacional. Não há aqui obras de primeira grandeza - ou de segunda grandeza, como são as do Almada nas Gares -, mas este conjunto de pinturas murais subsiste como uma representação única e insubstituível de uma época em que o que se chamou depois arte pública tinha uma grande ambição programática e ideológica (por vezes também uma ambição de qualidade artística).
No caso da sala dedicada a Trás-os-Montes persistem dificuldades de atribuição, não sendo possível seguir apenas a dissertação de Luís Raposo Pereira (de 2008): aí se refere uma pintura mural de Tomás de Melo e Manuel Lapa, associada à frase "Trás-os-Montes cruzeiro de Portugal, granito e céu", e uma segunda decoração mural de Eduardo Anahory reunindo algumas das figuras características de região, entre as quais os chocarreiros de Mogadouro e os pauliteiros de Miranda. Acontece que a frase e as figuras coincidem na 1ª pintura
enquanto a 2ª aqui reproduzida é referente ao Douro e ao vinho.
As fotografias 36067 TC (1) e 36079 DIG-digital (2) não estão identificadas na base de dados do IMC (MatrizPix) e também não estão medidas - apenas se indica o local e o nome do fotógrafo e a data do registo (José Pessoa 2008 - © IMC / MC). Note-se que se trata de um precioso registo dos serviços de fotografia do IMC realizado quando já se anunciara que o edifício seria sacrificado ou vandalizado para outros fins.
A pintura 1 será de Eduardo Anahory e a 2 da dupla Tom e Manuel Lapa, tal como sucede com a representação alegórica do Minho mas num estilo gráfico radicalmente diferente.
Foto de Armando Serôdio, 1959 (em cima), e de António Castelo Branco, 1948. Arquivo Fotográfico de Lisboa / CML
À direita, na galeria superior, o mapa da região do Douro publicado em 1848 pelo Barão de Forrester, a que se segue a pintura decorativa 2 e uma série de representações de barcos e de locais do Douro
sem qualquer dúvida a atribuição da pintura 1 a eduardo anahory e a 2 a tom e manuel lapa segundo o Itinerário do Museu de Arte Popular publicado na sua inauguração a 15 de julho de 1948. obrigada pela informação, alexandre.
Posted by: Catarina Portas | 06/17/2009 at 02:06
A legenda "Trás-os-Montes - Cruzeiro de Portugal, granito e céu", que é como as outras legendas da autoria de António Ferro, encontra-se visível sob a pintura de Eduardo Anahory, com os chocarreiros e pauliteiros. A outra pintura mural, que é a 1ª no itinerário por esta sala, situa-se no piso elevado (varanda, mezanine?) e corresponderá à legenda "Douro, vinho de oiro". Quanto às numerosas pinturas em geral monócromas associadas ao mapa de Joseph James Forrester, vinicultor, cartógrafo e fotógrafo, não há indicação no roteiro de 1948, reeditado em vol. único trilingue em 1963, com fotografias (a de A. Serôdio encontra-se nessa 2ª edição). Obrigado Catarina.
Posted by: ap | 06/18/2009 at 18:54