Ricardo Rangel morreu na quinta-feira em Maputo - com 84/85 anos, as informações variam - e o funeral decorre segunda-feira, dia 15, com honras de Estado, antecedido de um velório nos Paços do Município de Maputo. Segundo o diário Notícias , as exéquias estão a cargo do Estado moçambicano, através do Ministério da Educação e Cultura e do Conselho Municipal da Cidade de Maputo.
Ignora-se ainda se e como o governo português se fará representar na homenagem àquele que foi o decano dos jornalistas e fotojornalistas moçambicanos, bem como o formador das novas gerações de fotógrafos do país após 1975, além de ter sido também um grande profissional da imprensa dita portuguesa ou um grande fotógrafo do tempo colonial, uma testemunha incómoda da discriminação racial e da exploração social no período anterior à independência. (Será isso que justifica o silêncio da actual imprensa portuguesa? Ou é apenas falta de memória e ignorância? - O Público acaba de corrigir isso em últimas notícias, graças ao Sérgio Gomes: http://ultimahora.publico.clix.pt )
"Marca de gado em jovem pastor. Aconteceu como punição por ter perdido uma rês". Changalane, 1972
Auto-retrato 1972 (será por acaso que este é o auto-retrato mais conhecido (ou único?) e que seja da mesma data da foto acima?)
Rangel continuava a dirigir o Centro de Documentação e Formação Fotográfica, de Maputo, sempre apoiado pela cooperação internacional, e manteve-se até ao fim uma personalidade independente e até irreverente: em 2005 realizara o sonho de abrir um clube de jazz, o Chez Rangel,na Estação dos Caminhos de Ferro, e em 2002 publicara "Foto-Jornalismo ou Foto-Confusionismo" (Maputo, Imprensa Universitária, U. Eduardo Mondlane), um panfleto contra os maus usos da fotografia na imprensa, tratados nos capítulos “Foto-Aberrantismo”, “Foto-Copulismo”, “Foto-Ilusionismo”, “Foto-Ilogismo”, “Foto-Repetitismo”, “Foto-Anti Jornalismo”, “Foto-Esbanjismo”.
O seu itinerário sem paralelo começou a ser mais conhecido no exterior a partir do 1º e 2º Encontros de Fotografia de Bamako, em 1994 e 1996, um festival de iniciativa francesa no Mali, e em 1996 integrou a colectiva " In/sight : African Photographers, 1940 to the Present " no Guggenheim Museum de Nova Iorque, organizada por Okwui Enwezor. Em 2001 participou na mostra " The Short Century Independence and Liberation Movements in Africa 1945 - 1994 ", tb organizada por Okwui Enwezor (Munique, Berlim, Chicago e PS1-MoMA - itinerância)
Quanto a Portugal há referência a uma individual em 1992 (em Lisboa, ver ed. Findakly, Paris, 1994), não confirmada e abandonada na bibliografia posterior; uma individual no Arquivo de Lisboa em 1998 - sem catálogo; a presença em colectivas regista-se em "Outras Plasticidades", Instituto Camões, 1999 (teria sido então anunciada, ou já em 98, uma condecoração com a Ordem do Infante, mas o registo perde-se); "Iluminando Vidas" na Culturgest Porto e "Mais a Sul" (colecção CGD/Culturgest) em Lisboa, ambas em 2004; e em 2008 enviou 3 provas à feira Arte Lisboa (com o grupo Muvart).
Ricardo Aquiles Rangel tinha ascendência africana, grega e chinesa. Filho de um comerciante grego, começou por viver com a família materna nos bairros pobres da periferia de Lourenço Marques. Certamente por isso as fotografias de crianças ocupam um lugar tão grande na sua obra.
Ver Artafrica / Iluminando Vidas
A ver cronologia mais recente (com FOTOS) em http://www.afronova.com
E uma das fotos que mais tem circulado (até em sites de Maputos) é esta de 11 Setembro de 2007: http://www.flickr.com/photos/luisa
O Centro Cultural Franco-Moçambicano dedicou-lhe uma última mostra antológica em 2008 e a mais recente homenagem terá vindo daquele que parece ser o mais importante festival asiático, através de um prémio de carreira que se segue ao que foi antes atribuído a Peter Magubane (o grande fotógrafo sul-africano que começou a sua carreira ao mesmo tempo, na revista Drum, em 1954)
http://www.chobimela.org/lifetime.php
Lifetime Achievement Award: The lifetime achievement awards were introduced in 2004. So far they have been given largely to Bangladeshis. In the year 2006, the award went to the South African photographer Peter Magubane. The other awards have gone to: Golam Kasem Daddy, Manzoor Alam Beg, Shamsul Islam Almaji, Amanul Haque, Rashid Talukder.
The award does not include anything more than the trophy, but with each award, a scholarship is given to a needy rural photographer to study for a year at Pathshala, The South Asian Institute of Photography in Bangladesh.
Chobi Mela V 2009 Winner
The Lifetime Achievement Award for Chobi Mela V in 2009 goes to Ricardo Rangel of Maputo, Mozambique. A scholarship to a rural photographer will again be given this year, in the name of Ricardo Rangel.
As head of the photographic department and chief photographer ‘Tempo’ the country’s first newsmagazine, he explored and extended the possibilities of photojournalism as a form of active political dissent and recorded the dramatic events that led to the end of Portuguese rule and the birth of independent Mozambique in 1975. In 1977, after the exodus of most of the country's press photographers, he was appointed chief photographer of 'Notícias' and charged with directing and training a new generation of photo-journalists.
Since 1983, Rangel has directed the Centro de Documentação e Formação Fotográfica (CDFF), an educational and documentary centre that is unique in Africa, in Mozambique's capital of Maputo. He has had a seminal influence on the younger generation of photographers through his life and work as a photographer, journalist and teacher."
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