"30 anos" era o título proposto, alargando de duas a três décadas as memórias comemoracionistas. "Serralves desfigurou a ideia de Museu" não é, no entanto, uma má opção.
O que se queria era um Museu (com caixa alta) e outra gente quis outra coisa, ajudada pelas dificuldades do lugar. Um Museu não é o mesmo que um Centro de Arte. O nome Museu cria responsabilidades. O Museu de Serralves não é o mesmo que o CGAC de Santiago, por exemplo, com uma colecção raramente e exiguamente exposta. Num Museu a colecção é o centro, e o resto são jogos de palavras, habilidades ou tropelias.
Esté é o depoimento publicado na revista L+Arte, nº 61, de Junho - e seguem-se outras considerações - 1 e 2
1º O inquérito e a resposta a seguir
De que forma o Projecto Serralves mudou o panorama artístico e museológico no Porto e no País?
O que, na sua opinião, permitiu o seu sucesso?
Qual foi o contributo de Vicente Todolí à frente do Museu na consolidação do projecto?
Serralves é hoje igual a Serralves da “Era Todolí”?
30 ANOS DEPOIS
Serralves é uma ilha ou uma bolha, no Porto e no país. A somar a outras bolhas como o São João e a Casa da Música, que formam uma cúpula cultural a pairar longe do chão e levam o Porto a pensar-se como um deserto cultural com alguns oásis. Incluindo ou não a capital cultural de 2001 e a Miguel Bombarda, conforme os dias. O Estádio, os caminhos da Ribeira a Matosinhos e a qualidade de vida estão acima dessas inquietações.
Serralves só muito lentamente, e ao longo de três décadas, se tornou uma história de sucesso: foi em 1979 que Helder Macedo publicou o decreto que anunciava a criação no Porto do Museu então Nacional e então de Arte Moderna. Passaram 20 anos até à abertura com Todolí. Lembre-se que o plano de um centro cultural e de congressos em Serralves foi anunciado em 1990, com projecto já atribuído a Siza Vieira e inauguração prevista para 92. O primeiro contrato com o arquitecto foi assinado em Março de 91 e, depois de anos de anteprojectos, alterações e adiamentos, Cavaco Silva aprovou a última maquete já em Julho de 1995.
A militância de Fernando Pernes, desde o 25 de Abril, primeiro no Soares dos Reis, e a impossibilidade de reformar os museus estatais destinaram ao Porto a arte actual e o ensaio das parcerias público-privado, centro-periferia. Depois, inúmeras razões locais e a multiplicidade das atracções reunidas sob o mesmo nome sustentaram esse destino: o Parque, o antigo palacete Art Déco, uma ou outra exposição capaz de atrair públicos, o estilo Siza, o director vindo do estrangeiro, a Casa de Chá, os administradores-empresários, o restaurante e os gadjets da marca Serralves, a Sonae e o BPI, etc, etc.
O bairrismo do Porto, que atravessa diferenças de classes e de gostos, casou sem dificuldade a fachada esquerdista-chic do “Circa 68” com as bençãos do grande capital, num jogo de enganos onde se satisfazem interesses afinal complementares. Tudo se dilui na ideia vaga de estranheza e diversão, de moda e turismo, acessível como breve intervalo na rotina comum.
Vindo do IVAM, de Valência, que teve por origem um homem da craveira de Tomás Llorens, e partido para a Tate Modern, onde impera a figura única de Nicholas Serota, Vicente Todolí soube colocar Serralves no mapa internacional. Esse mapa do mundo da arte (o artworld) não é o mapa-mundo da vida real mas apenas e cada vez mais o dos profissionais das artes, um nicho especializado. Ele deu-me uma das alegrias da carreira de crítico, quando na entrevista final me apontou a mim e à chuva do Porto como as maiores contrariedades que por cá suportou.
João Fernandes almofadou a “era Todolí”, ligou o personagem ao Porto. A era João Fernandes, eficaz gestor de equilíbrios, já tinha começado com Todolí."
Outras considerações:
Talvez tenham trocado por acidente uma citação que se pretenderiam fazer -
2. Fica por agora por comentar a nota "Falsificações - Ser ou não ser Bertholo". Mas eu não "alertei" a L + Arte para existência de mais três obras "duvidosas" - interroguei a directora da revista sobre o facto (estranho) de serem falsas 3 (ou só duas?) das 13 obras incluídas na secção "Bolsa" do nº 52 da revista. Foi um pedido de explicações - aprendi que tinham por critério reproduzir imagens de catálogos de leilões, mas esperar-se-ia que soubessem separar o trigo do joio (as pequenas imagens fotográficas não ajuda).
Veja-se então mais atrás as imagens em causa: http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2009/05/ren%C3%A9-bertholo-3.html#more . No caso da pintura intitulada Ouverture II de ou atribuida a René Bertholo não avancei nenhuma pista ou hipótese quanto à possível proveniência (apenas às outras três pinturas de data mais recente). Por isso, o director da leiloeira não refuta. o que não se disse. Só uma peritagem mediante observação presencial pode neste caso ser definitiva.
Cada vez éw mais necessário que as obras a leiloar (ou a vender, em geral) devem ser acompanhadas de um certificado de autenticidade, como o b.I. dos cidadãos, emitido pelo artista ou por um especialista acreditado.
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