notas: 1) uma exposição no MAP em 1996
O VERMELHO E O NEGRO, Museu de Arte Popular - EXPRESSO Cartaz de 07 Set. 96
«O vermelho e o negro — percursos da olaria tradicional» é uma pequena exposição, coordenada por Elisabeth Cabral, que vem animar, com a economia de meios correspondente às restrições financeiras por que passa todo o sector dos museus, uma instituição de problemática origem e destino.
O tema é apresentado sinteticamente num espaço recentemente adaptado a exposições temporárias e, a seguir, dá origem a algumas remontagens do espólio permanente do museu.
Partindo das alfaias agrícolas de uso e fabrico tradicional e local, presentes na sua condição de testemunhos patrimoniais e objectos escultóricos, esta exposição apresenta a agricultura e o espaço rural português na transformação que ocorreu ao longo das últimas quatro décadas, enquanto a população agrícola diminui de 48 por cento para (ainda) dez por cento, entre 1950 e 1990, e a riqueza produzida pela agricultura desce de 25 para cinco por cento. Às «tecnologias tradicionais portadoras de maiores arcaismos» (sinopse da exp.) sucedem-se as primeiras formas de mecanização, incluídas na mostra no interior de uma construção desmontável anexa à galeria principal do Museu.
A coordenação da exp. é de Joaquim Pais de Brito e Benjamim Pereira, com os mesmos e Fernando Oliveira Baptista na direcção científica do projecto e do catálogo, um extenso livro (13 500$00) que excede a oportunidade da mostra temporária para ser um repositório de trabalhos de investigação ou de síntese, em especial na secção «Retratos localizados de mudança». Depois da publicação de Alfaia Agrícola Portuguesa, de Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira (INIC, 1983, 2ª edição), estudo da alfaia tradicional no limiar do seu desaparecimento à mercê da «tecnologia invasora», «O Voo do Arado» reequaciona a anterior lição de Jorge Dias para apresentar a etnografia do mundo rural no quadro de uma actualizada reflexão sobre «um futuro em que a retracção da agricultura libertará a terra/natureza/paisagem para novas relações do homem com o território».
LOUÇA PRETA, Museu de Etnologia - EXPRESSO Cartaz de 28-02-98
A seguir, outro núcleo estabelece as referências históricas e geográficas da louça preta, enquanto o último espaço foca os diferentes significados queforam sendo investidos nesta louça, desde os usos domésticos tradicionais, de armazenamento e confecção de alimentos, até às criações recentes como peças de autor.
Passando pela exploração turística e, em especial, por uma produção de «arte popular» de conteúdo historicista e nacionalista, mostrada num grande móvel-vitrina de estilo rústico com peças que imitam faianças e vidros ou miniaturizam referências barrocas, segundo uma outra tradição que vem do fim do século XIX à «portugalidade» do Estado Novo (Até 29 Mar.)
Os Ratinhos, Museu do Azulejo - EXPRESSO Cartaz de 31-1-98
Peça de faiança «ratinha», no Museu do Azulejo. Nome dado ao trabalhadores rurais que se deslocavam sazonalmente das Beiras para o Alentejo, com emprego já em Gil Vicente, a palavra «ratinho» veio a adquirir também o sentido geral de rústico e plebeu, como sinónimo de grosseiro e ordinário. Será essa a origem da designação como louça «grossa ou ratinha», em oposição a «fina ou Vandelli», atribuída a uma produção popular das fábrica de faiança de Coimbra que teve curso desde
o segundo terço do século XIX até às primeiras décadas do presente. Objecto de atenção só em décadas mais recentes, coleccionada por José Régio e Júlio Reis Pereira, a faiança ratinha é agora tema de exposição e investigação pioneira, que arrostou com uma quase completa ausência de bibliografia. Em «Os Ratinhos. Faiança Popular de Coimbra» apresentam-se 113 peças, geralmente pratos e palanganas (por vezes «pré-ratinhos»), com a sua característica decoração pintada a esponja e pincel, onde é possível sistematizar a presença de 11 grupos temáticos: figuras humanas, animais ou, mais raramente, fantásticas, ramos de flores e penas de pavão, entre outros motivos. A investigação tenta ainda elucidar possíveis influências colhidas da arte persa popular, sobrevivências da mais antiga cerâmica coimbrã designada Brioso (abandonando a coloração azul pelo predomínio do verde) ou afinidades espanholas, nomeadamente com as rajolas catalãs. Seja como for, com a sua «ingenuidade» popular, entretanto extinta, a louça ratinha ocupa de pleno direito o espaço erudito do Museu. Duas outras exposições ligam as tradições da cerâmica à actualidade, autonomizando-se a sua função como objecto de decoração luxuosa: apresenta-se a artista Maria Bofill, nascida em Barcelona, autora de taças e «labirintos», e, através de cinco ex-alunos, «3 Anos de Cerâmica no Ar.Co». (Até Abril)
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