Eduardo Portugal, 1940: A entrada monumental da Secção da Vida Popular da Exposição do Mundo Português - identificado na legenda da foto como "Pavilhão das Artes e das Indústrias", Arquivo Fotográfico da CML (em baixo, Etnografia e E. Portugal)
O Inventário do Património classificado ou em vias de classificação que é mantido pelo ex-IPPAR (agora Igespar) inclui desde há dias uma segunda revisão da Ficha do Edifício do Museu de Arte Popular, integrando rectificações que aqui foram propostas. A adopção da designação Edifício do Museu de Arte Popular e a referência aos projectos de reabilitação em curso desde 2000 são as alterações mais significativas. Noutros casos, a Ficha abandona as informações erradas da Ficha do Inventário mantido pela ex-DGEM.
TRANSCREVE-SE A SEGUIR O NOVO TEXTO INTEGRAL (http://www.ippar.pt ) DA FICHA RELATIVA AO MAP (com indicação de algumas notas a adicionar como comentário à história do edifício e do MAP - ver notas sintéticas no final da transcrição da Ficha)
Pesquisa de Património - Detalhe
Identificação
Designação: Edifício do Museu de Arte Popular
Outras Designações -
Categoria / Tipologia: Arquitectura Civil / Museu
Arquitectura Civil / Pavilhão
Arquitectura Civil / Edifício
Inventário Temático -
Localização
Divisão Administrativa: Lisboa / Lisboa / Santa Maria de Belém
Endereço / Local: Avenida Brasília, Lisboa, 1400 Lisboa
Protecção
Situação Actual: Em Vias de Classificação
Categoria de Protecção: Em Vias de Classificação (com Despacho de Abertura)
Decreto: Desp. 15-7-2009 do Director do IGESPAR, I.P. reabre o processo (em vias desde 3-08-09); Parecer de 15-7-2009 do CC do IGESPAR, I.P. propõe reabertura; Desp. de 28-11-2007 do Director do IGESPAR, I.P. revoga o desp.; Desp. abertura 12-12-1991
ZEP -
Zona "non aedificandi" -
Abrangido em ZEP ou ZP: Mosteiro de Santa Maria de Belém / Mosteiro dos Jerónimos
Património Mundial -
Descrições
Nota Histórico-Artistica: O edifício do Museu de Arte Popular, em Belém, resulta da adaptação de alguns dos antigos Pavilhões da Vida Popular, projectados entre 1938 e 1940 pelos arquitectos António Maria Veloso Reis Camelo (1) e João Simões, integrados no conjunto construído para a Exposição do Mundo Português de 1940. Na altura, o Pavilhão recebeu decoração de carácter efémero, ainda que assinada por alguns grandes nomes do panorama artístico nacional, como os pintores e decoradores D. Tomaz de Mello (Tom), Fred Kradolfer, Carlos Botelho, Bernardo Marques, Emmérico Nunes, José Rocha, Estrela Faria, Paulo Ferreira e Eduardo Anahory, e os escultores Barata Feyo e Henrique Moreira.
O edifício, de tipologia "chã", possui uma gramática arquitectónica muito simples, acentuada pelos materiais construtivos utilizados, adequados a um pavilhão expositivo pensado para ser efémero. O conjunto foi construído em alvenaria rebocada e pintada, sobre estrutura de metal e armações de madeira e estuque, com detalhes em cantaria de calcário e ferro forjado. É constituído por diversos corpos rectangulares escalonados, com fachadas simétricas, apresentando jogos de texturas e decorações remetendo para a arte popular, a arquitectura vernácula e os matérias tradicionais - caso da telha, da cerâmica, ou da madeira, numa abordagem a um tempo modernista, e de cariz historicista (2). A sua implantação, junto do Espelho de Água de Belém e na vizinhança do Padrão dos Descobrimentos, obras coevas, acrescenta o interesse historiográfico e cenográfico da construção.
Após a exposição, e por decisão de António Ferro, director do SNI (3), foi aí instalado o MAP (inaugurado em 1948), com a adaptação do espaço entregue ao arquitecto Jorge Segurado, que já colaborara na Exposição (como arquitecto das Aldeias Portuguesas). Segurado elaborou um projecto de museologia inovador, não apenas para o país, mas igualmente a nível internacional, garantindo as melhores condições expositivas para o excelente acervo de arte popular então reunido. O projecto agrega a arquitectura, a escultura e a pintura num programa global modernista de boa qualidade, que se apresenta sobretudo como um dos últimos testemunhos da Exposição de 1940, bem como da ideologia que presidiu à sua criação. Sob a coordenação do Secretariado da Propaganda Nacional, o conjunto de pavilhões da Exposição reflectia a visão do Estado Novo de uma ruralidade mítica e muito folclórica, imbuída de um forte historicismo paternalista, mas igualmente o interesse que desde o início da centúria se fazia sentir na Europa pelo tema do campo, da aldeia, e das tradições populares. (4)
O espaço museológico, onde se agrupam por regiões várias colecções de arte popular resultantes de diversas recolhas de peças feitas para anteriores exposições, ou expressamente para o MAP, é animado pela transparência de algumas paredes, que possibilitam a visão dos pátios e espaços ajardinados do exterior e a sua integração no olhar do visitante. As salas originais representavam as regiões de Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beiras, Estremadura, Alentejo, Ribatejo e Algarve. Artistas que já haviam participado na empreitada de 1940 foram igualmente chamados para dar forma ao Museu, nomeadamente D. Tomaz de Mello, que dirigiu a campanha pictórica, Carlos Botelho, Estrela Faria, Paulo Ferreira, Barata Feyo e Henrique Moreira, aos quais se somam os nomes do pintor Manuel Lapa e do escultor Júlio de Sousa. No exterior foram mantidos os elementos escultóricos de Barata Feyo e Henrique Moreira, realizados para o pavilhão de 1940. (5)
O conjunto sofreu diversas intervenções ao longo das décadas, incluindo a demolição de uma parte. A partir de 2000 foi realizado, de forma faseada, um projecto de reabilitação do Museu, não inteiramente concluído.
Sílvia Leite / DIDA- IGESPAR, I.P. /2009
Imagens
Entrada prinicpal - Ver Imagem
Baixos-relevos - Ver Imagem
Baixos-relevos - Ver Imagem
Bibliografia
ALMEIDA, Pedro Vieira de, Arquitectura no Estado Novo: uma leitura crítica, Lisboa 2002
COSTA, Teresa de Jesus (da) A Exposição do Mundo Português (1940) e as suas arquitecturas (tese de mestrado), Lisboa, Universidade Lusíada 1999
GALVÃO, Andreia Aires de Carvalho, Jorge Segurado (1889-1990), o arquitecto, o seu tempo e a sua obra, in Arquitectos, nº 189, Mar/Abr. 1999, Lisboa
SERRA, Cláudia, Mário Novais - Exposição do Mundo Português 1940, Lisboa 1998
FERNANDES, José Manuel A Arquitectura Modernista em Portugal, Lisboa 1993
FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XX, Lisboa 1991
#
#
em síntese:
1: Veloso Reis é o autor das alterações das fachadas do MAP.
2: A "abordagem" não é modernista e historicista, mas sim modernista e vernacular.
3: A adaptação dos pavilhões a Museu de Arte Popular começa a ser feita em 1941/42 no âmbito do plano de obras para a Praça do Império e zona de Belém determinado por Duarte Pacheco (obviamente em contacto com António Ferro) e é dada por concluída (a adaptação do edifício, com projectos assinados por Veloso Reis, e coordenados por Cottinelli Telmo) em 1944, seguindo-se a instalação do museu em que intervém Jorge Segurado.
Comments