Qualquer vestígio de responsabilidade política esvai-se no vale tudo final. O suposto historiador mostra que não aprendeu nada com a história do século XX e o professor de economia "atira" à figura. Não existe um só objectivo de política, como se vê, ainda com escândalo; o que conta é ajudar a derrotar a esquerda e procurar, depois, apanhar alguma coisa entre os cacos, ou no lixo. Não resta qualquer intenção estratégica, mas sobra eleitoralismo. Com uma táctica desesperada, despudorada, e obviamente errada face às promessas antes esboçadas.
Com estes dirigentes vindos do pré-25 de Abril e da antiga guerra de trincheiras entre grupúsculos universitários, agora reunidos, o BE é incapaz de qualquer frescura política, de qualquer compreensão das mudanças globais do presente, e repete os piores jogos da política pelo poder. Felizmente não haverá tentações por parte do PS (nem necessidade, nem possibilidade - e aqui acertei, 28 Set) de qualquer coligação.
Ao longo da campanha foi-se tornando mais nítido o vício de fazer política para os títulos dos jornais e os comentadores dos canais por cabo, ganhando sempre mais importância relativa os temas da maioria absoluta (nós é a que a tiramos...) e da recusa de uma coligação (eles queriam mas nós não...) para se alargar por fim - face ao caso das escutas - à questão da demissão ou recandidatura deste PR, transferindo o debate para as próximas presidenciais (outra vez o Alegre?). É cada vez mais a "macro-política" e o jogo ou relação de forças entre partidos: o eleitoralismo e a aritmética parlamentar, mais o jogo jornalístico dos casos em vez das causas económicas, sociais e culturais que poderiam abrir alternativas de luta.
Como diz afinal um dos seus votantes, hoje mesmo, "a política que faz falta é a que se faz à margem dos partidos e do Estado" (ZN, em Cinco Dias), certamente abrindo outros terrenos de acção, criando outros poderes (micro-poderes, primeiro) e imaginando outras políticas; em vez disso, temos a obsessão de estar entre os cinco grandes partidos , de ganhar mais lugares no arco dos cinco, colocando todo o protagonismo na política partidária e parlamentar e no protagonismo do líder - note-se como se concentra a notoriedade e a representação, a palavra e a imagem, nos eternos candidatos eleitorais, os sócios proprietários da sociedade por cotas que é o bloco (mais o FR em 4º, presidencial!), e em especial no líder (o candidato a primeiro ministro, no discurso já delirante do próprio), em vez de impor a visibilidade dos candidatos distritais e de distribuir a palavra pelos activistas com iniciativa na sociedade. A opção - extinta a opção revolucionária - é concorrer no mesmo plano dos partidos tradicionais e tentar impor a figura do chefe carismático e grande organizador da luta contra os inimigos parlamentares (a simetria com os tiques do PP é flagrante). Mas, uma vez desaparecidos os amanhãs que cantam, ganham mais importância, já hoje, os lugares de resistência, as situações de vida e as construções da existência individual, de grupo, local, colectiva, etc. A invenção de novos poderes possíveis, de novas políticas, portanto. Não a caricatura do que se tem conhecido.
Não será alheia a esta prática a quebra das expectativas eleitorais do BE ao longo das sondagens da campanha <tornou-se evidente na noite de 27...>. Para ser mais do mesmo há outros mais convincentes. E é noutro espaço da esquerda, mais amplo, mais aberto, mais plural, mais forte, que têm residido com verosimilhança e eficácia, com as tensões próprias que resultam do exercício determinado do poder político, as dinâmicas de mudança.
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