até dia 6 na Gulbenkian
Ao Redor da Mesa, 1872, 160 x 225 cm, Musée d’Orsay [RMN (Musée d´Orsay) /Hervé Lewandowski] À esquerda, sentados, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud
As homenagens a Delacroix e a Manet ficaram em Paris, mas o retrato de grupo que esteve para homenagear Baudelaire está na sede da Fundação por mais uns dias, antes de seguir para Madrid - uma colaboração com o Museu Thyssen que coloca a Gulbenkian ao seu melhor nível e deixa a expectativa de outras futuras colaborações.
Com Fantin-Latour sai-se dos caminhos mais frequentados e descobre-se um pintor isolado, apesar de muito próximo de Manet e dos impressionistas, que ocupa um lugar irredutível às visões sintéticas. Pintor com presença regular no Salon, com mercado maioritariamente inglês, com uma ambição que se mede com o museu e que ao mesmo tempo interpreta o seu presente (em especial na relação com a música). Como com Corot e Puvis de Chavannes, a qualidade da pintura não se reconhece como negação ou revolta, e a invenção é especialmente reinvenção.
Nastúrcios Dobrados, 1880, 62,8 x 42,5 cm, The Victoria and Albert Museum
©V&A Images/Victoria and Albert Museum
A Lição de Desenho ou Retratos, 1879, 145 x 170 cm, Musées Royaux des Beaux-arts de Belgique, Bruxelas (Foto: Cussac)
Será certamente a mais importante exposição do ano - ou mesmo de vários anos, porque nos foram habituando a circulações muito rasteiras.
E também o catálogo, quase todo escrito pelo comissário Vincent Pomarède, é uma publicação excepcional - é para ler.
Por razões diversas só vi a exposição no passado domingo. Já tinha visto uma grande retrospectiva do F.-L. em Paris em finais de 70 ou princípios de 80, e por isso conhecia bem a obra, da qual os magníficos retratos me parecem não ter paralelo na pintura francesa do século XIX, em termos de qualidade e também de uma certa modernidade nas poses, na tentativa de abordar uma certa psicologia do modelo... O que me marcou mais nesta exposição, para além da montagem e de um certo conceito muito parisiense de apresentar a vida e obra do artista, foi a absoluta indiferença com que F.-L. encara o entusiasmo pela cor, pela luz e pelo ar-livre dos seus contemporâneos. Neste sentido, deve ser aproximado do nosso Columbano, que nunca quiz saber de ar livre e tem retratos excelentes, e de uma Aurélia de Souza, também uma apreciadora de cenas de leitura e vasos de flores. E tenho a certeza de que o seu reconhecimento extra-francês tem a ver com este afastamento, e que se procurássemos bem iríamos encontrar um pouco por todo o lado pintores da transição do século XIX para o século XX que estão nesta mesma linha de intimidade, introspecção e claro-escuro. A modernidade entra no Ocidente por mais do que uma porta, é o que apetece dizer...
Posted by: Luisa | 09/03/2009 at 16:16