Arquivo, Diário de Notícias, 18 Outubro 1982
"Centro de Artesanato vai erguer-se em Belém" - dez museus deverão dinamizar formação de artesãosMais uma peça para a história do Museu de Arte Popular e da àrea envolvente em Belém, era Lucas Pires ministro e Gomes de Pinho secretário de Estado.
O MAP, encerrado durante alguns anos após o 25 de Abril, estava reaberto e o Mercado do Povo, que sucedera ao Mercado da Primavera, tinha já desaparecido. (O Museu de Etnologia ficara encerrado desde a inauguração).
Existia um Conselho Interministerial para o Artesanato, sob a tutela tripartida do Emprego, Cultura e Turismo, e anunciava-se então a criação do Centro Nacional de Artesanato em Belém, nos locais onde existira a Galeria de Arte Moderna e instalações anexas. Tratava-se de adoptar um projecto de política integrada para o artesanato e de propor alguma articulação entre áreas em geral estanques: os museus (de arte Popular, Etnologia, Traje, etc) e a produção dita artesanal.Mais tarde, por 1990-91, atribuiu-se essa área a um previsto Museu da Criança e ao mesmo tempo voltou a falar-se de novos equipamentos destinados a um Centro de Formação Profissional em Artes Tradicionais e a uma extensão do Museu de Arte Popular ( ver link ). Santana Lopes em 1990: "Também para a zona ribeirinha anunciou-se a criação de um centro de exposições temporárias das artes e ofícios tradicionais e a instalação de uma livraria de artes e espectáculos, aberta 24 horas por dia (!), na zona envolvente do Museu de Arte Popular."
O projecto de edificação em cerca de seis meses de um Centro Nacional de Artesanato na área de Belém, nos terrenos anexos ao Museu de Arte Popular, foi apresentado pelo secretário de Estado da Cultura, dr. Gomes de Pinho, durante uma reunião com o Conselho Interministerial para o Artesanato, naquele Museu.
Foi igualmente sugerida a criação de formas de articulação entre dez museus de vários pontos do País e as estruturas que apoiam e enquadram o sector do artesanato. O Museu do Traje, também visitado, foi apontado como exemplo do possível entrosamento entre a actividade museológica, a animação cultural e a formação de artesãos, designadamente no sector da tecelagem, restauro, rendas e trabalho do couro, em oficinas cuja instalação pode vir a ser rapidamente dinamizada.No centro previsto para Belém, que já se encontrava entre os projectos do Conselho Interministerial, embora a mais longo prazo, deverão ficar instalados um espaço para exposições, uma zona de animação dotada de um auditório, oficinas de artesanato destinadas à divulgação de técnicas tradicionais e também à formação, uma área para os serviços de apoio e investigação e ainda uma área para a venda ao público, além de um restaurante situado diante do rio. No total, seriam ocupados cerca de quatro mil metros quadrados, numa zona que compreende a antiga Galeria de Arte Moderna e o desaparecido Mercado do Povo.
Este Museu, inaugurado em 1948 e em grande parte herdeiro da Exposição do Mundo Português (1940) e de exposições de arte popular lançadas por António Ferro, tem sofrido graves carências nos domínios da conservação das instalações e património, do pessoal e de verbas, que lhe permitam quer a organização de exposições temporárias quer o lançamento de programas de dinamização. Chegou a estar encerrado durante alguns anos e só desde 1980 está totalmente aberto ao público, apesar de se continuarem a aguardar obras de ampliação e beneficiação.
A proximidade das duas entidades, o actual Museu (cuja ligação com o novo Museu de Etnologia, que aliás se encontra encerrado ao público desde a sua inauguração, deverá ser estreitada) e o Centro Nacional de Artesanato, permitirá facultar à primeira - na perspectiva da SEC - os espaços de exposições temporárias e as oficinas onde desenvolver actividades de formação profissional de artesãos e de divulgação, ao mesmo tempo que lhe deverá atribuir responsabilidades no domínio da garantia da qualidade e autenticidade da produção artesanal apresentada pelo centro a construir.
De qualquer modo, Gomes de Pinho preconizou que o projecto a edificar em Belém venha a constituir «a cúpula do conjunto de estruturas de formação e apoio no sector do artesanato»), presentemente em estudo. Trata-se, simultaneamente, do ponto de vista que propôs, de fazer interligar estreitamente os vários museus onde o artesanato está recolhido com as actividades de formação profissional de artesãos e de divulgação escolar.
Segundo afirmou, com base em dez museus distribuídos pelo País, será possível «criar uma primeira rede, rigorosa e de qualidade, que ofereça apoio a outras acções mais alargadas». Seriam, disse, «dez pólos de formação e de transmissão de técnicas artesanais, cuja acção teria como prioridades evitar o desaparecimento das formas tradicionais do artesanato e fazer com que os museus não sejam apenas depósitos de material e documentos».
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O Conselho Interministerial para o Artesanato, funcionava na dependência do Ministério do Trabalho, e era regulado pelo Decreto-Lei 154 / 81 de 5 de Junho (sem referências ao MAP). Ver tb o DL 246/82 sobre o símbolo do artesanato português.
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