"A esperteza rafeira é a última palavra da inteligência política", ou mais um exemplo da indigência colunística em curso:
"As entrevistas que Sócrates concedeu aos partidos, a semana passada, foram um ponto alto de hipocrisia. Sócrates pediu o que não queria, convidou todos para o Governo. Os partidos não perceberam a armadilha e responderam negativamente. Quando todos deveriam ter dito que estavam prontos. Em condições a negociar, pois claro. Mas não. Elevaram a sua covardia ao estatuto de dignidade. Vão agora ouvir, meses a fio, o primeiro-ministro recordar-lhes que foram convidados e recusaram. Este jogo da cabra-cega foi considerado um golpe de génio de estratégia política. A esperteza rafeira é a última palavra da inteligência política." in "O Governo menor", por António Barreto, Público de 24 de Outubro
O sr. tem ou teve qualidades - a carreira não pode atribuir-se apenas a esperteza saloia. Aguardo ainda com ansiedade o filme e a série sobre o Douro, depois de ter apreciado "Portugal - um retrato social", prod. RTP e realização de Joana Pontes, 2007. Houve outros momentos positivos: já convivemos e trabalhámos juntos. Foi ministro da Agricultura do I Governo Constucional, em 1976-78, autor da Lei Barreto, cuja primeira aplicação acompanhei no terreno, numa incursão quase clandestina por terras do "inimigo". Foi deputado do PS e, se bem lembro, "reformador" da Aliança Democrática, em 79, entre outras derivas. Passou depois a sobrevoar a política e, em geral, a alinhar num estilo deletério de colunismo que ora diz ora desdiz, à direita e à esquerda, com displicência e sobranceria, sem compromissos nem préstimo social (1). Sua Ex.cia sabe tudo, os outros são todos hipócritas, covardes, trapaceiros, idiotas e agora rafeiros.
Não cheguei a ler a prosa toda, que é intelectualmente preguiçosa, civicamente inútil e, no fundo, antidemocrática (leio pouco o Público, desde que o JMF foi fazendo cristalizar um jornalismo perigoso). Este estilo de comentário político - de António Barreto e cúmplices, os dois Vascos em especial - teve há pouco uma derrota implacável. Julgo que já não vende jornais e comprova uma decadência que me penaliza.
(1) O professor doutor é desde 2009 Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, por nomeação do PR. Não sei qual é o lugar do cargo na hierarquia do Estado, mas certamente impõe algum decoro ao homónimo cronista.
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