Quando o museu se apresentou à imprensa e abriu as portas ao público, não vi uma única fotografia que juntasse as duas senhoras protagonistas da Casa das Histórias (para além das que cobriram a inauguração oficial, como se vê no DN de 1 Nov.). Percebi que havia desentendimentos entre ambas, e foram-me confirmados. A ruptura chegou depressa.
O que é curioso (e guardo o que sei e imagino) é ver o que dizem os muitos comentadores da breve noticia do Público de hoje (Última Hora na página de 6ª, Cultura - dalila-rodrigues-abruptamente-afastada-do-novo-museu-de-paula-rego ) Quem não sabe especula, e quanto mais se desconhece mais longe se vai na especulação. Da especulação ao disparate, ao erro factual e de interpretação, a distância é curtíssima, e por aí se abre a pista para se falar logo de política da maneira mais habitual. A exemplo da generalidade dos analistas titulares, aliás. Está ali, naquela sucessão de 30 comentários (e crescerão ainda), uma amostra excelente do "comentadorismo" que percorre a internet, mas também um índice do interesse que desperta este caso, já que raramente as notícias ou críticas culturais são comentadas.
A Câmara de Cascais é PSD (António Capucho, inquestionável no lugar), mas o caso serve para visar o Governo, o PS, a política central de museus, etc. As câmaras todas e todos os políticos. Dalila Rodrigues move-se nas mesmas águas (PSD-CDS), mas aparece aqui como vítima política da Câmara, ou do Governo, das camarilhas culturais, da burocracia, etc. Ou é ela a intrusa e a má da fita, tanto faz. Alguns promovem-na ao lugar de Bairrão Oleiro (o IMC-IPM), corrigindo de uma vez todas as injustiças e todos os males. A ruptura terá sido entre a pintora Paula Rego (e a Marlborough) e a directora Dalila Rodrigues - não sei quem tem razão, mas a artista está (tem de estar) no centro das decisões sobre a sua Casa... O caso - surgido a pouco mais de um mês da inauguração, envolvendo quem envolve - é triste, e implica a cultura e a política cultural na habitual sombra das polémicas apenas acessíveis aos íntimos e dos episódios pouco edificantes para todos, estilo "Caras". É pena.
Entretanto, vou tentar perceber por que razão é que o Estado instituiu uma Fundação Paula Rego (Diário da República: Decreto-Lei n.º 213/2009, D.R. n.º 172, Série I de 2009-09-04), nas vésperas da inauguração, sendo seus fundadores a pintora, a Câmara de Cascais (a quem foram oferecidas as gravuras e os desenhos da artista, que constituem o acervo da Casa, completado por um depósito da artista, e agora por empréstimos da sua galeria de Londres; que custeou o edifício desenhado por Souto Moura, e cedeu o terreno; e que paga o funcionamento integral da Casa das Histórias), mais o Estado e um representante da Galeria Marlborough.
Dalila Rodrigues foi convidada a dirigir a Casa das Histórias por Paula Rego, depois de a artista ter convidado Souto Moura para fazer o projecto arquitectónico (Dalila trabalhara com Souto Moura na renovação do Museu Grão Vasco) - naturalmente com a aprovação da Câmara de Cascais. Nos catálogos que sairam na data da inauguração (18 de Setembro) Dalila é referida como Directora-geral. Concluída a instalação da Casa/Museu estão agora a ser aplicadas pela primeira vez as disposições dos Estatutos da Fundação Paula Rego, entretanto criada (com a intervenção do Estado e da Marlborough), disposições essas que determinam a designação do Director(a) por escolha do Conselho de Administração. É nesta fase de adaptação da orgânica administrativa (antes regulada por um acordo inicial entre a artista e a CMC) que não foi confirmada a confiança em Dalila Rodrigues.
Antes de falar convém colher informações. Dantes dizia-se que quem não faz inquéritos não tem direito à palavra (quem o dizia era o Pacheco Pereira, mas nunca ninguém encontrou a alegada fonte maoista; ele já "inventava" muito neessa altura)
E é preciso que as (e os) envolvidas(os) saiam bem do retrato - ou do desenho.
sobre a inauguração: paula-rego-cascais
Mas o silêncio foi geral, meu caro Alexandre. Acabo de incluir uma nota no meu blogue a esse respeito sob o título «Damnatio memoriae»: http://notascomentarios.blogspot.com/
Cordialmente
José d'Encarnação
Posted by: José d'Encarnação | 04/30/2010 at 12:31