É talvez a presença mais surpreendente da exposição do CAM dedicada à década de 70, no balanço entre o que se espera ver e o que se vê como descoberta ou memória forte. Duas telas logo à entrada na galeria principal, mas desviadas para o fundo à esquerda, isoladas de tudo o que as envolve. O espaço inicial diz-se devotado a "paisagens", e a inclusão não é errada (paisagens no sentido mais lato, fragmentadas e reconstruídas como puzzle, devolvidas por um espelho em pedaços, fabricadas como exercício da ilusão, agregando sinais quase sempre irreconhecíveis, "abstractos"). Ou já "espaços utópicos", segundo a ordem do catálogo, entre outras formas brincadas, ficcionais, as de Henrique Ruivo, Bertholo, Costa Pinheiro, mas mais obviamente inventadas - invenções fabricadas em pintura, pela pintura.
Pintura 2, 1974, a/t 90x100cm (col. part.)
O cogumelo desfalecido, 1973, a/t, 110 x 130,5cm (col. CAM)
Gostaria que na exp. Anos 70, estas duas pinturas se tivessem aproximado das duas de Manuel Baptista (outras obras maiores da mostra, e é uma delas que terá sugerido o seu subtítulo, "Atravessar fronteiras"), com que têm proximidades várias e subtis - e também do núcleo onde este figura relacionado com corte e costura, o recorte literal das formas, os tecidos e texturas, tapeçarias artesanais (Helena Lapas) ou já esculturas têxteis (Isabel Laginhas) que estiveram em voga na época - faltando aqui a representação do patchwork que investigaram e produziram Fátima Vaz e Helena Lapas (ver catálogo "50 Anos de arte portuguesa", relatório de investigação sobre objectos e práticas artesanais) e que teve exposição conjunta na Altamira, 1983. Mas a proximidade com Ruivo (com quem expôs em 1987)e a Bertholo também tem sentidos a explorar - e poderia aproximar-se de Batarda e de um Ruy Leitão, infelizmente ausente. (12/11)
E aí - no catálogo Anos 50 - se reproduz mais uma boa pintura que aqui se junta (e no título reaparece aliás a ideia do espelho em pedaços, onde o visível se faz irreconhecível, criação imaginária):
Espelho partido, 1974, a/t, 110x129,cm (col. CAM)
E ainda..., porque me tem apetecido "coleccionar" os quadros de Fátima Vaz, que resistem muito melhor ao tempo que as obras dos artistas chamados canónicos dos anos 70:
Bota de anão habitada, 1971, óleo (?)/t., 100x90cm (col. 111)
Fátima Vaz (1946-1990) (erradamente 1992 em algumas fontes)
A Fátima faleceu antes de 91, ou mesmo antes de 90. Depois te explicarei como sei.
Posted by: Luisa | 11/12/2009 at 00:32
mas até posso explicar aqui. Quando em 90 fui secretariar um famoso dicionário de artes plásticas que acabou por nunca ser editado, entrei em contacto com os pais dela (depois de falar com o M. Baptista, que foi casado com ela - era bom que estas relações familiares não ficassem caladas, e fazes bem em acentuar essa proximidade) que muito emotiva e simpaticamente me facultaram dados sobre a sua biografia. Não posso jurar, mas acho que na altura ela já tinha falecido há um ou dois anos.
Posted by: Luisa | 11/12/2009 at 00:37
lindos, sim!
Posted by: www.facebook.com/profile.php?id=1414866109 | 11/12/2009 at 18:43