Houve por três anos o África Festival, em 2005, 2006 e 2007; em 2008 desapareceu, porque o vereador José Amaral Lopes (PSD) assim o quis e depois por falta de meios e/ou de vontade da CML-PS. Em 2009 veio a surgir num buraco do Terreiro do Paço, entre tapumes de obras, o programa das três exposições três de apresentação de colecções de arte africana de Eduardo Nery, José de Guimarães e Joe Berardo, cujo capítulo final (?) ainda decorre, sob o inspirador título "Alma Africana". Não é exactamente um buraco mas uma galeria precariamente instalada pelas arcadas interiores dos ministérios, penso que descoberta em 2006 para a 3ª edição do Anteciparte e reaberta em 2008 para rever-se o Terramoto e reprojectar a Baixa Pombalina. Num espaço alugado pela autarquia ao Estado central e dotado este ano de uns 200 mil euros para a climatização (num orçamento de 500 mil) que deram bastante que falar à custa dos chamados Cidadãos por Lisboa (Cidadãs, aliás) - ver adiante.
O África Festival decorreu em Monsanto (05 e 06) e em Belém junto à Torre com extensão ao São Jorge (07), alargando-se da música e da dança ao cinema. Organizado pela EGEAC e integrado nas Festas da Cidade, foi um êxito crescente e palco vivo do encontro real de culturas de que se passaram a ocupar teoricamente os discursos políticos. Passando, curiosamente, das artes performativas e do encontro bem físico das artes e dos públicos para o culto reverencial (fetichista) das relíquias africanas, as máscaras, ídolos e manipanços da mais mítica "arte negra". Do carácter popular ao cunho elitista. O recuo (civilizacional e político) é patente, apesar da mudança partidária.
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http://attambur.com/Noticias/2005
http://www.attambur.com/Noticias/2006
http://attambur.com/Noticias/2007
http://www.egeac.pt......pdf"O África Festival faz falta" - http://www.esquerda.net
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O África Festival foi sacrificado por alegadas razões financeiras (ou pela rotação partidária das vereações?), no ano proclamado do diálogo intercultural europeu, exactamente entre a cimeira africana de Lisboa, 8-9 Dezembro de 2007, e o anúncio pomposo, um ano depois, da implantação futura do chamado África.Cont. Anunciado como um centro de cultura africana contemporânea a criar até 2012 (!) numa praça aberta na Av. 24 de Julho, reunindo as Tercenas do Marquês ao Palácio Pombal das Janelas Verdes, como existiam no séc. XVIII ao tempo do comércio negreiro de José António Pereira, mas com elegantes adaptações e prolongamentos a desenhar pelo britânico de ascendência ganesa David Adjaye. Seria o que chama um elefante preto.
quando-as-catedrais-eram-brancas.blogspot
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Páteo da Galé 2009, "Lisboa, Encruzilhada de Mundos", encruzilhada de políticas:
1 - Cidadãos por Lisboa / Lusa / 29-04-2009
“O `Lisboa, encruzilhada de mundos’ nasceu para cruzar experiências de residentes em Lisboa que vêm de outras culturas com as experiências dos lisboetas que cá nasceram e que são cada vez menos”, disse à Lusa a vereadora da Câmara de Lisboa Manuela Júdice.
A vereadora dos Cidadãos por Lisboa é desde Setembro (2008) a responsável pelo projecto de promoção da interculturalidade “Lisboa, encruzilhada de Mundos” (LEM), no âmbito do acordo que o movimento de cidadãos estabeleceu com o presidente da Câmara, António Costa (PS).
Até ao final do ano estão já a decorrer e previstas diversas intervenções culturais, que culminarão na “caminhada de culturas”, uma festa que terá lugar no Martim Moniz, de 10 a 13 de Setembro.
Quando aceitou o projecto, Manuela Júdice disse logo ao presidente da Câmara que não contasse consigo para a animar o Terreiro do Paço. “O Terreiro do Paço não tem residentes, não é onde se viva ou comercie. As coisas não se cruzam no Terreiro do Paço, as pessoas vão lá e depois vão-se se embora”, explicou.
Lugar de cruzamentos por excelência, com o comércio mais internacional da capital, o Martim Moniz foi o local escolhido. "
2 - Cidadãos por Lisboa / Lusa / 20-05-2009
"As vereadoras do movimento Cidadãos por Lisboa Helena Roseta e Manuela Júdice assumiram na quarta-feira a divergência sobre a realização de duas exposições de arte africana, orçamentadas em 500 mil euros. Helena Roseta votará contra a realização das exposições das colecções de arte africana de José de Guimarães e Joe Berardo, no âmbito do projecto "Lisboa, Encruzilhada de Mundos" (LEM), da responsabilidade de Manuela Júdice.
“Os Cidadãos por Lisboa não aprovarão a realização destas exposições por motivos políticos”, justificou Helena Roseta aos jornalistas, sublinhando entender que o montante envolvido “não é razoável” e a iniciativa “não é prioritária”.
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Manuela Júdice afirmou que durante a reunião do executivo municipal explicou as “razões técnicas do orçamento” das exposições, que necessitam de especiais condições de climatização. O presidente da Câmara, António Costa (PS), também tinha referido que cerca de 200 mil euros se destinam à adaptação do Pátio da Galé à condição de sala de exposições temporárias.
O montante em causa resulta das contrapartidas do Casino de Lisboa e tem de ser gasto em animação no Terreiro do Paço, sublinharam tanto António Costa como Manuela Júdice.Confrontada com a proveniência dos 500 mil euros, Helena Roseta respondeu que “as verbas do Casino não foram discutidas em Câmara”. “Houve uma lista apresentada pelo senhor presidente. O senhor presidente pôs e dispôs das verbas do Casino e continua a pôr e dispor das verbas do Casino”, argumentou."
3 - CML / informação / 27/10/2009
"Esta exposição surge na sequência de outras duas que estiveram patentes ao longo do ano nesta Galeria Páteo da Galé - as dos artistas plásticos Eduardo Néry e José Guimarães. Manuela Júdice, vereadora responsável pelos projectos "Lisboa, Encruzilhada de Culturas", recordou a génese da ideia de expor arte africana no Terreiro do Paço, quando conversou com o presidente da Câmara sobre o assunto. "Havia já o projecto de expor a colecção de Eduardo Néry e surgiu a possibilidade de se prosseguir com a colecção de José Guimarães; então, o António Costa disse-me que já sabia da existência de outra colecção, a de Joe Berardo; perguntei-lhe se poderíamos avançar com uma exposição por ano e ele respondeu-me: e porque não as três em sequência?". A vereadora lembrou também as críticas que então recebeu, de alguns vereadores e jornais, questionando o dinheiro que se gastaria, para concluir com o balanço: "uma galeria de exposições ganha para a cidade, em pleno Terreiro do Paço, devidamente infra-estruturada, e três exposições únicas, talvez de oportunidade irrepetível".
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Trata-se de "animação" do Terreiro de Paço em obras, paga por dinheiros vindos do Casino, e não de um diálogo intercultural que assim se instrumentaliza e confunde. E é de negociatas ou acordos eleitorais que se se trata (a inclusão das "cidadãs" por Lisboa, na maioria, a 8 Setembro 2008).
A arte "negra", "tribal", "primitiva" ou "primeira" que se mostra no Páteo da Galé pode satisfazer um nicho do mercado cultural mas não tem nada a ver com a inclusão social e a interculturalidade ( "as cidades, como os indivíduos, são portadoras de identidades múltiplas, plurais e híbridas e a diversidade de culturas, de expressões, de práticas, linguagens e conteúdos artísticos e culturais deve ser um bem essencial a preservar e a promover nas várias dimensões das políticas de cidade" do programa do PS à CML). Também não serve a criação de novas formas de relacionamento (póscolonial) com os países de origem das comunidades africanas residentes e o entendimento das possibilidades e responsabilidades de ordem geo-estratégica que cabem a Portugal. Pelo contrário.
A exposição de arte contemporânea de origem ou refrerências africanas que o África.Cont anuncia para o mesmo local também não.
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(Anexo): A agenda insólita do África.Cont de José António Fernandes Dias:
Caro Alexandre Pomar ou a quem tiver respostas,
Qual é a exposição que o Africa.cont anuncia para o local?
Em que ponto desses "calendário insólito" estamos nós?
O que é interculturalidade do ponto de vista dos autores deste projecto?
O que é inclusão social quando grande parte dos artistas africanos de expressão lusófona ou da diáspora nada sabem sobre este projecto? o que é inclusão social quando grande parte dos africanos residentes ou descendentes não estão incluídos nem têm tido acesso a cargos no poder seja no poder político, dos media, contam-se pelos dedos os jornalistas (ou seria preciso cortar os dedos!), vereadores, ... e permanecem sem qualquer visibilidade na obscuridade negra semelhante a este edíficio.
Gosta-se do exoticismo cá adora-se e parece que isso continua a vender....a Baker cá está para ficar eternamente.
Posted by: serexótico | 03/18/2010 at 02:25