Hoje há futebol e feira de arte. Segundo a informação divulgada pela segunda, vai haver inauguração com hora marcada e com a presença da mulher do PR, da ministra da Cultura e da vereadora da mesma na CML (pelo menos para reflexão sobre as quotas, convém que apareça o director-geral das Artes) - às 18h. É um bom começo, porque tem sido costume abrirem-se as portas sem o conveniente aparato, e sem se saber quem vai, nem quando, e por isso mesmo sem o momento poder chegar a entrar nas agendas das redacções. Em anos anteriores nem a direcção da feira conseguia convencer e reunir as presenças oficiais, nem as oficialidades se dignavam corresponder a tais formalidades mercantis e mundanas. Figuras oficiais trazem a televisão, e uma pequena comitiva (ou uma pequena manifestação) já é noticia onde ela importa: nos noticiários. A inauguração de uma feira de arte é um evento social onde convém estar, ou querer estar. Não interessa enviar um crítico, mas sim um repórter, ou muitos.
Há sempre um défice de comunicação quanto a esta feira, e distribuir mais cartazes não basta (felizmente não se voltou a usar o antológico motivo da casca de banana). A culpa não é só da organização, porque quando se abre o Público vê-se que a chamada comunicação social prefere palavras a imagens, o que tratando-se de arte é um contra-senso - se a AIP-FIL-AL não as envia, pedem-se às galerias e depois é muito interessante saber que (ou quais) se venderam. Em vez de se acompanhar (criar) um acontecimento, publica-se um inquérito sobre o meio da arte que poderia sair um mês antes. Aliás, os agentes da feira e da imprensa parecem dirigir-se sempre mais ao meio do que aos seus públicos possíveis. Falam entre si.
Percebe-se mal que a identidade da feira se reforce com uma não-atracção com o nome "Project Rooms", em inglês e tudo (são uns espaços individuais com artistas escolhidos por um comissário de serviço, que em geral reforçam ou gratificam certas galerias). E também que o programa dos "eventos" se reduza a um Ciclo de debates em três episódios que se inicia com o tema "Residências artísticas: “Oásis” para a criação?". Torna-se evidente que se está a jogar para dentro e mesmo, aliás, para quem faz gala em desvalorizar esta feira, sempre em nome de outra de um país ideal, central e rico. E fica aqui a hipótese de esta feira permanecer refém de um grupo "indisciplinado" de galerias que gostaria de ser pago para existir, e que não quer esta feira-feira mas uma feira por convites e com compras asseguradas à cabeça para as colecções institucionais. Se esse grupo coincide com a direcção da associação de galerias, e com os ausentes no Conselho Consultivo da Arte Lisboa, algo vai mal, tão mal como o que ocorre em entidades que se chamaram SNBA, AICA, etc (acabam os colectivos, os interesses comuns e passa a ser apenas a selva - que se saiba e preparemono-nos para isso).
Perdeu-se talvez demasiado tempo a negociar com esse grupo, que por sua vez andava sempre ocupado a tentar negociar com o Ministério, e vai-se assim perdendo a iniciativa. Não vêm à feira? Não vão ao Arco? Preferem ir a Vigo, a uma pequena feira para iniciados (com um director-comissário-crítico-editor-etc), tal como já costumam ir passear a Cáceres? Que importa. Também a Frieze perdeu 36 das suas presenças habituais e andou para a frente.
Afinal, esta feira é em Lisboa uma feira ibérica, como o Arco é, em Madrid, uma feira ibérica, esta da 1ª e aquela da 2ª divisão, como é lógico. Além das muitas galerias espanholas (galegas, andaluzas, catalãs, etc), quase metade, haverá a tal secção dos "Project Rooms", com responsável e obras vindas de Espanha, o que por si mesmo e com um nome apelativo podia ser objecto de alguma promoção. OSCAR ALONSO MOLINA (Madrid, 1971), é crítico de arte e comissário independente de exposições, e professor de “Proyectos” e “Debates artísticos de la modernidad” no Centro de Estudios Superiores Felipe II de Aranjuez, Universidad Complutense de Madrid. Tinha um artigo inteligente no úlimo ABC Cultural.
Pelo que se anuncia, chamou à sua selecção "¡LUZES, CÂMARA, ACÇÃO! Até onde o fio do conto nos levar", o que aponta para o regresso ao ficcional depois do vazio purista de algum modernismo tardio (mas o moderno nunca foi só puro e chato - a literatice é que o fez assim); diz ele: "O teatral, o literário, podiam então ser introduzidos de novo no plano – por exemplo – da pintura. Por conseguinte, a biografia, a fábula, o conto seriam susceptíveis de voltar a formar parte do tecido semântico da obra de arte." ¡LUZES, CÂMARA, ACÇÃO! é um bom título que não vejo ser usado por ninguém. Não se descobre uma imagem no site http://www.artelisboa.fil.pt/por/projects.htm (só o comissário!? - já sabemos que os comissários se compram, mas não essa imagem que importa).
Alguma coisa ou alguém gripou na promoção da Arte Lisboa (ou houve sempre gripe?). Na "Time Out", a possível página sobre a feira aparece ocupada por uma (2ª!!) sessão do leilão do Correio Velho: acertada a escolha de obras! No "I" a feira é resolvida com a boa ideia gráfica (são sempre excelentes!) de um jogo de iniciação ao coleccionismo. Interesse parece haver, mas também neste rectos (FIL, APGA, etc) há muita dependência de facilidades instaladas, muita inércia.
# outra opinião:
http://infinitoaoespelho.blogspot.com/2009/11/vem-ai-feira.html
VEM AÍ A FEIRA
(...)
Voltando à feira, acredito mum modelo mais internacional. Acreditaria mais numa feira que desse condições excepcionais a uma dúzia de galerias novas que trouxesse de todos os cantos do planeta as mais recentes práticas no nosso meio. Acredito num sistema em que todos os anos uma instituição portuguesa fizesse um grande projecto na feira. Imagino que se dessem um bom espaço para um projecto individual de um artista como o Mike Kelley, muitos seriam aqueles que viajariam de propósito à feira. E acredito que umas boas festas não fariam mal a ninguém.
Também acredito que se fizessem alguns comentários podíamos chegar a uma solução a apresentar. Talvez para uma outra feira, desta feita no Porto?"
HUGO CANOILAS (SÁBADO, 14 DE NOVEMBRO DE 2009)
(ver "categoria" Arte Lisboa)
Comments