A primeira grande exposição colectiva internacional (first attempt at a compreensive view) de artistas africanos, designados pelos seus nomes e como contemporâneos, realizada na Europa, aconteceu em 1969, há 40 anos apenas:
CONTEMPORARY AFRICAN ART, Published by Studio International as the catalogue of Contemporary African Art held at the Camden Arts Centre, London, August 10 - September 8 1969 (24 x 24 cm, 40 p.)
(Num livreiro alfarrabista perto de nós)
Estiveram então representados quatro artistas de Moçambique (dados biográficos no cat., sem lista ou reprodução de obras - existe separata com lista de autores e obras):
Alberto Mabungunyana Chissano,
Munidawu Oblino Mabyaya, escultores;
Valente Malangatana (1936, n. Marracuene)
e Valente Mahumana Mankew (n. Matalana), pintores.
Nenhuma intermediação portuguesa, oficial ou privada, é referida no cat., mas Pancho Guedes (ou "a portuguese architect of international reputation, Amancio D'Alpoim Guedes") é referido como um dos patronos (ou mecenas) responsáveis pela "descoberta" ou pelo encorajamento dos artistas africanos, ao lado de outros dois nomes essenciais neste domínio e que desde o início dos anos 60 estavam em contacto com ele: Ulli Beier (então na Nigéria) e Frank McEwen (Rodésia) - três nomes, com Julian Beinart, referido por Dennis Duerden (2010).
Pancho Guedes é citado nos artigos "African art today" de Dennis Duerden e "Art in Africa" de Lionel Ngakane, para além da nota biográfica de Malangatana. Esse mesmo papel de mecenas ou mediador é sinteticamente reconhecido a Pancho Guedes (e aos dois outros referidos e a poucos mais) no livro Contemporary African Art de Sidney Littlefield Kasfir, Thames & Hudson - 1999, trad francesa de 2000.
ver Modern African Art : A Basic Reading List- http://www.sil.si.edu/SILPublications/ModernAfricanArt
Ulli Beier foi autor do livro pioneiro Contemporary Art in Africa (Pall Mall Press, London, 1968); visitou Lourenço Marques em 1961.
No cat. da exp. Pancho Guedes no Museu Berardo (CCB 2009) publica-se uma entrevista realizada por Ulli Beier em Joanesburgo em 1980, essencial para fixar a cronologia dos artistas moçambicanos, envolvendo Augusto Cabral, José Júlio, o Núcleo de Arte, Julian Beinart e o próprio Ulli Beier, fundador da revista "Black Orpheus" em 1957.
Apesar da importância do núcleo da exp. de Pancho Guedes onde se apresentou a sua colecção de obras de artistas africanos, tradicionais ou contemporâneos (de que a sua pintura luso-moçambicana faz certamente parte), ficou por sinalizar de modo mais preciso a contribuição para a construção da contemporaneidade africana, e o cat. não inclui as obras mostradas. São outras exp. e cat. que estão por fazer, reunindo a informação ainda disponível sobre um período em que coincidem a produção/identificação de uma arte africana contemporânea, a afirmação do nacionalismo africano moderno e o acesso à independência em algumas regiões. Já não seria a "Arte Negra" que tem preenchido a galeria do Pátio da Galé ao Terreiro do Paço, arrastando velhos equívocos primitivistas e coloniais (com parcial excepção da que é agora consagrada às Colecções Berardo, apesar do impróprio título "Alma Africana"), mas a descoberta da arte actual africana.
#
O catálogo de 1969 inclui igualmente textos de (selecção): Roland Penrose (mensagem);
Jacqueline Dlange (Musée de l'Homme, dep. de l'Afrique Noir) e Philip Fry (U. Paris) - Introduction;
Gerald Moor (U. Sussex), "About this exhibition";
Frank McEwen, "The Workshop School" (criador da National Gallery de Salisbury/Harare em 1957, com os seus workshops de escultura em pedra, e dinamizador do 1º International Congress of African Culture em 1962);
Albie Sachs ("Black and brown South African artists")* e os já referidos
"African art today" de Dennis Duerden e
"Art in Africa" de Lionel Ngakane
# R. Penrose alerta para o esforço de "salvar a arte africana (de hoje) da exploração do comércio turístico" (é o tema da "aeroport art" / "arte de aeroporto", segundo a expressão então criada por McEwen, e a que o pp se refere no seu texto), e para a eventual emergência de um "neo-African Style", no "difícil período de transição da arte tribal para as novas condições da vida contemporânea". A "vitalidade instintiva da arte africana" é mais do que nunca necessária para reanimar "os nossos pps esforços"
#
Albie Sachs* (viveu em Moçambique de 1977 a 1990)
* autor de Images of a revolution: mural art in Mozambique / text by Albie Sachs; photographs by Moira Forjaz and Susan Maiselas.1983* ver: Josias (A.) comp., THE ALBIE SACHS MOZAMBIQUE COLLECTION OF ART, UWC-Robben Island Mayibuye Archives, catalogue no.14. 54 pp., 4to., illus., paperback, Reprint, Cape Town, (1995) 2001. A catalogue of Albie Sachs' collection of art from Mozambique, acquired during his stay in that country and now permanently housed at the Mayibuye Centre, University of the Western Cape in Cape Town. Includes an edited interview with Albie Sachs, conducted in November 1993, in which he discusses Mozambican culture, Malangatana, the sculptors Chissano and Govane, Naftal Langa, Samate, Makonde carvings and woodcuts, and more.
* ALBIE SACHS, A Suave Vingança de um Combatente da Liberdade (trad), col. «Nosso Mundo», n.º 45, ed. Caminho* "Sachs was placed under a banning order in 1960 that restricted his movement. In 1966, unable to practise law, he spent 11 years exiled in Britain, teaching law at Southampton and Cambridge. He moved to Mozambique in 1977, two years after the country became independent, as a professor of law at Mondlane University and later as research director in the ministry of justice of the Frelimo government, the alliance that fought for independence from Portugal. In 1990, three months after the ANC was unbanned, he returned to South Africa." ( http://www.guardian.co.uk/books/2006 )
O livro circulava, na época, com o catálogo propriamente dito como encarte. Da exposição constavam oito esculturas de Chissano, quatro de Mabyaya, vinte e duas obras de Malangatana, entre desenhos e óleos, e seis desenhos de Mankew.
Nuno Salgueiro Lobo
Posted by: Nuno Salgueiro Lobo | 12/02/2009 at 19:30
Obrigado pela contribuição. Refere-se certamente ao livro de Ulli Beier, de 1968 - gostaria de saber se aí vinham já referidos e apresentados os artistas de Moçambique e se incluía reproduções das suas obras. O livro não existe na Gulbenkian nem nas bibliotecas da Porbase, embora não seja um autor ignorado. Hei-de ver em Etnologia, mas este não é o seu domínio de trabalho.
Posted by: AP | 12/02/2009 at 21:53