Em 2009 discutia-se vivamente o plano (e o projecto arquitectónico) do novo Museu dos Coches (da iniciativa do ex-ministro da Economia Manuel Pinho e a pagar pelo Casino de Lisboa, via Frente Tejo) e também uma anunciada troca de espaços que iria transferir para a Cordoaria o Museu de Arqueologia, crescendo no seu respectivo lugar de sempre o vizinho Museu da Marinha. Ao mesmo tempo pairava a ameaça de extinguir o Museu de Arte Popular e de instalar no seu espaço, desfigurando-o, um anunciado Museu da Língua. As decisões ministeriais eram, pelo menos, muito pouco consensuais quer entre os próprios membros do Governo e também nos seus serviços técnicos, quer entre os profissionais dos museus e largos sectores da opinião. Poderia falar-se de uma imensa confusão que teve consequências na perda de relevo político e autoridade dos dois anteriores ministros da Cultura.
Agora, há novos nomes no Governo, e foi anunciado para a área dos Museus um Plano Estratégico ("Museus para o Séc. XXI") com reconhecíveis qualidades, numa conferência de Imprensa a 19 de Jan., por sinal no MAP, em que o Ministério e o Instituto dos Museus abriram a porta, publicamente, à reconsideração de todos os temas que têm penalizado este sector, no que diz respeito aos museus tutelados pelo Estado central. Foi anunciado que o Museu de Arte Popular irá reabrir em 2010, mas classificou-se o chamado novo Museu dos Coches como uma herança irreversível (uma decisão "herdada" que "não foi possível reavaliar", disse o prof. João Brigola), o que traduziu a discordância dos novos rersponsáveis - e a 1ª pedra lá caiu em Belém dias depois. Aí se disse também que Arqueologia iria certamente para a Cordoaria (há estudos prévios em curso), reavivando o contencioso que pairava sobre esta área da cidade e dos museus nacionais.
A plataforma para Belém é uma necessidade estratégica; o alargamento imediato a Lisboa inteira de uma entidade que não chegou a concretizar-se é um erro. A criação de um modelo prático de articulação entre os museus de Belém/Ajuda, que explore as virtualidade do Plano Estratégico do IMC, é uma oportunidade para a acção imediata, que não se pode conter numa reunião de directores. Seria grave que esse plano se desvirtuasse com outras ambições corporativas (do ICOM, nomeadamente), e que, por exemplo, se instrumentalizasse esta dinâmica de longa duração para apoiar lutas pontuais.É neste contexto, onde há novos dados francamente positivos e persistem legítimas inquietações (e mesmo a aberta condenação da "herança" dos Coches), que surge a reunião anunciada para dia 9, no Museu Colecção Berardo, para a qual se retoma a ideia de uma plataforma conjunta a estabelecer entre os Museus e equipamentos culturais de Belém/Ajuda, com vista a potenciar os seus meios, mas onde esse projecto surge agora ampliado - ou desviado - para toda a cidade de Lisboa, e acompanhado por uma "Carta de Intenções" que é pelo menos insólita e prematura.
2010, 9 Fev.
"Projeto para aliar cultura e turismo em Lisboa vai divulgar carta de intenções"
(© LUSA, já segundo o acordo ortográfico)
Lisboa, 06 fev (de Ana Goulão, Lusa) - A criação de um plano estratégico que alie a
cultura e o turismo, com a participação ativa de museus, monumentos e
outros espaços culturais, é o objetivo de um projeto que vai ser
apresentado terça feira, em Lisboa.
Iniciativa conjunta do comité português do Conselho Internacional de Museus (ICOM PT), Museu Colecção Berardo e a INDUSCRIA_Plataforma Para a Indústrias Criativas, o
encontro, que decorrerá a 09 de fevereiro no Museu Colecção Berardo, é composto por uma reunião de trabalho e uma conferência aberta ao público.
A génese desta iniciativa deu-se no ano passado, quando, em maio, diretores de vários museus e monumentos da zona de Belém/Ajuda, se reuniram para discutir os problemas e soluções daquelas instituições, com o objetivo último de trabalhar e desenvolver iniciativas em rede."
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Sobre a 1ª reunião entre os Museus de Belém, textos de referência
2009, 19 de Maio
1. Notícia do ICOM:
Mesa-redonda - MUSEUS DE BELÉM - PERSPECTIVAS DE FUTURO
"Conforme anunciado, teve lugar em 19 de Maio passado, no Museu Colecção berardo, uma mesa-redonda que pela primeira vez reuniu todos os directores dos museus de Belém e contou ainda com a participação de diversos outros responsáveis de museus e monumentos na mesma zona e em zonas envolventes (Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Palácio Nacional da Ajuda, Museu do Oriente, Museu da Carris, etc.).
Entre a numerosa assistência, cerca de 200 pessoas, marcaram também a presença diversos responsáveis autárquicos (Presidente da Junta de Freguesia de Belém, Director do Departamento da Cultura e Vereadora da Cultura da CML, comissária na área da Cultura pela discussão do plano Estratégico Lisboa 2010-2024), membros do ICOMOS.PT, entre os quais o seu presidente, diversos políticos, entre os quais deputados, professores universitários, técnicos do turismo e de comunicação... e numerosos estudantes de museologia e património.
A Direcção do ICOM Portugal deseja expressar a todos os seus agradecimentos pela adesão que dispensaram a iniciativa e pela forma empenhada e construtiva com que apresentaram os seus pontos de vista, no que permitirá constituir um conjunto de sugestões que circularão entre os responsáveis pelos equipamentos museológicos e monumentais da zona de Belém e áreas limítrofes, permintido melhor preparar os novos encontros regulares que foi considerado útil serem organizados doravante." Pela Direcção do ICOM Portugal, Luís Raposo
2. Notícia do Público
PUBLICO, 21 de Maio de 2009, pág. 23
"Museus de Belém querem criar estratégia comum"
Alexandra Prado Coelho
"Belém é um pólo que merece uma estratégia única e equilibrada", declarou Rui Silvestre, director-geral do Museu Colecção Berardo, que propôs a criação de uma plataforma que representasse os museus "junto das tutelas e agentes culturais que intervêm na zona" e que incluem entidades como os ministérios da Cultura e da Economia, a câmara municipal, o Turismo ou a Sociedade Frente Tejo.
É precisamente um projecto gerido pela Sociedade Frente Tejo que está por detrás da actual necessidade de reflexão dos museus: a construção do novo Museu dos Coches nas antigas instalações das Oficinas Gerais do Exército (junto às actuais instalações do museu) veio agitar Belém. A agitação aumentou quando se levantou a possibilidade de o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) ser transferido do Mosteiro dos Jerónimos para a Cordoaria Nacional.
Joaquim Pais de Brito, director do Museu Nacional de Etnologia, foi na terça-feira o mais veemente crítico da ideia e defendeu mesmo a necessidade de se construir um museu de raiz para a arqueologia, porque é aí que "pode ser feita a história intelectual de um país".
Luís Raposo, director do MNA e que, enquanto presidente da comissão nacional do Conselho Internacional de Museus (ICOM) foi o organizador da iniciativa, voltou a defender que se "repense o modelo do Museu dos Coches [um projecto do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha], reprogramando-o, por exemplo, para um Museu da Viagem".
Uma crítica mais geral partiu de Diogo Gaspar, do Museu da Presidência da República, segundo o qual "o que falta discutir é a requalificação do espaço urbano e dos serviços" em Belém. Gaspar lamentou a ausência "de bons cafés e de lojas", considerando que "o serviço público que se presta ao visitante é cada vez pior".
Foram apresentadas várias propostas - desde um transporte que ligasse os vários museus, até uma articulação das programações - mas não foi tomada, para já, nenhuma decisão."
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