Como se costuma dizer, gostava de ter escrito isto. E não sei quem foi.
O governo de Sócrates e a comunicação social
SÁBADO, 6 DE FEVEREIRO DE 2010
de http://nikadas.blogspot.com
Pode acrescentar-se uma apreciação sobre cronistas.
Os comentadores concorrem entre si para propor as visões mais catastróficas, negativistas e dissolventes ou deletérias. É essa prosa agressiva que dá notoriedade e que mais conta (e mais paga) no mercado das crónicas. Trata-se apenas de dizer mal, ser do contra e ir descendo cada vez mais baixo. Para isso vale tudo e é preciso abdicar do rigor intelectual e da prudência moral. Na tradição jornalística, arvorando anarquismos de esquerda e direita, diz-se "há poder, sou contra". Os jornalistas com crónicas confundem os dois papéis, a informação e a manipulação. Não há nada, nenhum país, a construir, trata-se só de ocupar um lugar social e de mercado, de ir facturando. Há excepções, claro.
Mas esta actuação não tem compensado em termos políticos (eleitorais) nem em termos de sustentabilidade da Imprensa (a escrita, pelo menos). Há aqui um óbvio equívoco, ou estranhos interesses aparentemente suicidas.
Para quem lê jornais noutras línguas, cada vez mais necessários, é fácil observar que não é esse estilo de cronista que em geral adquire mais notoriedade. A autoridade ou respeitabilidade ganham-se com outros critérios de intervenção, mesmo quando são os do humor.
Sobre a "independência" dos orgãos de CS
O facto de os jornais não serem expressamente de direita ou esquerda, de não clarificarem as suas opções políticas e eleitorais, contribui certamente para o clima de irresponsabilidade opinativa que grassa por aí. É sobre uma alegada independência ou isenção políticas (são todos imparciais) que se ergue o activismo jornalístico, nas suas modalidades associadas ou não (os cronistas, os "opinion makers", os críticos) a critérios de deontologia profissional. O esquema prolonga-se na só alegada e realmente oportunística independência dos jornalistas: declaram-se alheios à intervenção política, sem partido, sem opção ideológica, mas a coberto dessa suposta distância prestam-se ao trabalho sujo, ora à direita ora à esquerda, conforme a cor do governo. Por aí se escorrega até à ausência de princípios.
É uma marca da imprensa portuguesa em parte herdada do "fascismo" temperado que tivemos, quando os jornalistas de esquerda povoavam os jornais de direita, explorando os compromissos possíveis, prestando-se aos fretes necessários e/ou arriscando alguma oposição. Alguma clareza na identificação ideológica e partidária das publicações, alguma coerência e fidelidade ideológica nas diferentes redacções pareciam poder travar a tendência que vai do jogo duplo ao jogo sujo.
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