A exp. de "Lisboa 'Cidade Triste e Alegre'"na Galeria Divulgação, Porto:
a partir de 2 Dez. 1958 - a foto, do espólio dos arquitectos, foi publicada na pág 281 da História da Imagem Fotográfica em Portugal - 1839-1977, de António Sena, Porto Editora (1998)
e antes na Gal. Diário de Notícias, 21 a 28 de Out. 58, vendo-se Costa Martins sentado ao centro (foto mostrada na exp. "Lisboa tem histórias", Museu da Cidade, até 3 Abr.
São os mesmos painéis "paginados", com uma diferente disposição por o espaço ser menor.
Quando do lançamento recente da reedição de Lisboa Cidade triste e Alegre (Pierre von Kleist , 2009 ) foram expostos em vitrines alguns documentos certamente inéditos sobre a edição de 1958-59.
Numa carta ao director da página literária do Diário de Notícias (rascunho), V.P. escrevia: trata-se de "não mais um livro documental ou 'folclórico', mas de uma tentativa de retrato plástico usando meios fotográficos"
Nos convites da exp. anunciava-se um "conjunto de fotografias extraídas de um livro a publicar" / "de um álbum sobre Lisboa". E num anúncio então publicado:
"Exposição e livro / Lisboa poema gráfico / um álbum de fotografia e poesia sobre a cidade"
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No manuscrito de uma entrevista redigida por Victor Palla (com o título "A fotografia: uma arte?"), lia-se
"estas fotografias não existem por si, fazem parte dum livro. Considerá-las isoladamente seria quase tão grave como admirar um a um os rectangulosinhos da (de?) película duma fita de cinema, ou como ler isoladamente cada estância dum poema"
A oposição à fotografia de exposição que então se via nos salões (e que hoje se vê por toda a parte com novas características técnicas), levava V.P. a um excesso de radicalismo que não é alheio ao silêncio em que se isolou a sua geração de fotógrafos modernos. A extensa informação que demonstram no Ìndice do seu livro justificaria uma posição mais equilibrada, apesar de esse ser o tom da contraposição francesa entre a fotografia "humanista" e a "fotografia de arte" (ou "de exposição"). *
De facto, V.P. e Costa Martins nunca terão pensado interromper a arquitectura para se dedicar à fotografia, tal como aconteceu com a confortável tertúlia de Sena da Silva, Afonso Dias, Castello Lopes, etc. Existiu para toda essa geração moderna uma posição de diletantismo cultural e de aristocrática recusa dos canais de exibição da fotografia que eram próprios do tempo, que impediu o surgimento de um processo "reformista" nas associações de amadores e na prática dos profissionais informados correspondente ao que se verificou em Espanha, sob a égida da revista Afal, publicada em Almería. (ver Portugal-e-a-afal )
Ao contrário do que se diz habitualmente, era possível fotografar a cidade (apesar da Pide), era possível expor e publicar, e era possível chegar aos grandes meios de informação. Embora tivessem sobrado fascículos, a iniciativa não foi votada ao fracasso.
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"A nossa imagem final é a imagem impressa". "Somos artesãos que fornecem às revistas ilustradas a sua matéria prima. E felizmente a velocidade da tomada de vistas afasta-nos de fazer arte" Cartier Bresson , Photo-France mai 1951 e Images à la sauvette, 1952.
Em 50 Paul Sonthonnax (ex-Photo-Monde): "A fotografia só é arte se se entende esta palavra em sentido lato, que vai da arte do fabricante de tamancos (savetier) à arte médica passando pela arte de fritar batatas." (in Marie de Thézy, La Photographie humaniste", Contrejour, Paris, 1992)
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