Durante dois dias, na Gulbenkian, os antropólogos portugueses, ou quase todos eles, prestaram homenagem a Benjamim Pereira, último representante da equipa dirigida por Jorge Dias que fundou o Centro de Estudos de Etnologia, o Centro de Antropologia Cultural e Social e o actual Museu Nacional de Etnologia. À iniciativa, que se intitulou "Caminhos e diálogos da antropologia portuguesa - Encontro de homenagem a Benjamim Pereira", associaram-se intervenientes de outras áreas, em especial da museologia e da arquitectura, e a representação dos vários museus que em anos recentes contaram com o seu apoio e colaboração directa.
O extenso programa de comunicações não foi, neste caso, uma formalidade académica, mas o resultado de uma situação singular em que, para além de se poder evocar presencialmente na figura e na acção de Benjamim Pereira a continuação do legado da equipa de investigadores que ele integrou com Jorge DIas, Margot Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, se quis dar testemunho de uma longa e larga rede de relações de trabalho, de aprendizagem e de admiração por parte de quem se veio a situar profissionalmente nos campos da antropologia e da etnologia.
A par da obra escrita de investigação e recolha documental (fotográfica também), permanece viva, e em círculos mais amplos, a memória das exposições que montou ou ajudou a montar, desde os anos 70 até ao presente, no Museu de Etnologia e noutro locais. E, conforme se afirmou por ocasião de uma anterior homenagem prestada pelo congresso da Associação Portuguesa de Antropologia (Setembro de 2009) "as suas últimas grandes realizações – o Museu da Luz perto de Mourão e a nova galeria do Museu Abade de Baçal (inaugurada em Dezembro 2006) – constituem os testemunhos mais recentes da sua obra e mostram bem a projecção do seu trabalho." Podem acrescentar-se - depois de interrompida a colaboração regular com o Museu Nacional de Etnologia, de que se aposentou em 1990 mas onde ainda foi co-responsável pela grande exposição "O Voo do Arado", em 1996 - a acção de Benjamim Enes Pereira junto do Museu do Traje de Viana do Castelo, do Centro Cultural Raiano de Idanha-a-Nova, do Museu do Canteiro de Alcains, do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. As iniciativas de homenagem a Benjamim Pereira vão prolongar-se, nomeadamente com uma exposição no Museu do Traje dedicada às suas fotografias.
Entretanto, por diversas vezes ao longo do encontro, de modo implícito ou abertamente explícito, foi referida a situação actual de paralisia e quase inexistência pública do Museu Nacional de Etnologia. Wulf Kopke, director do Museu de Etnologia de Hamburgo, que se referiu à colaboração de Benjamim Pereira com instituições estrangeiras e descreveu a actividade do seu Museu, condenou "a tragédia que vive o MNE depois da morte de Ernesto Veiga de Oliveira e em especial desde há 7 ou 8 anos, numa decadência conternante e indigna para uma capital europeia como Lisboa e a sua população multicultural". Também Clara Saraiva, responsável pela organização do Encontro (com Jean-Yves Durand), manifestou a desejo de que o MNE "abandone um dia, e rapidamente, o marasmo e o fechamento em que se encontra e se abra ao mundo e aos cidadãos".
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