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05/27/2010

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marta lança

Permita-me esclarer e responder em relação a algumas questões que levanta aqui e num email sobre o texto "A lusofonia é uma bolha". Para contextualizar, escrevi-o quando cheguei de uma longa temporada em África, e me deparei com a desadequação do discurso da lusofonia produzido em Portugal às realidades africanas.Cabo Verde, Angola e Moçambique são os países onde tenho trabalhado na cultura, educação e informação, com as pessoas de lá e sem mordomias de expatriados. Agora estou a viver no Rio de Janeiro. Esta mini biografia para explicar que este texto decorre mais da experiência e da realidade, das opiniões e vivências de amigos, do que dos 'bancos da escola e papers académicos', que não são de todo a minha praia (não sou académica nem pretendo ser).
Se acha que é desonesto intelectualmente colar o colonialismo à direita de facto temos um problema de base. Do lado português não sei muito, a não ser a memória compreensivelmente ferida dos refugiados de 75, e algumas coisas muito interessantes na urbanização das cidades africanas, assim como de projectos artisticos e de altos indices na indústria do café e algodão, etc. mas sei bem o que as pessoas africanas contam por lá. São histórias de má memória, a falta de bases, de educação e opressão que esse regime e o colono deixaram. E sei bem o que estão os portugueses hoje em dia a fazer em Angola e a indústria de desenvolvimento em Moçambique. Acredite que a maioria não tem qualquer interesse naquilo para além da sua carreira e de fazer dinheiro.
Se acha que encontrar outras formas de pôr estas pessoas em diálogo (como pretendemos fazer com o Buala) sem ser pelo discurso, reverberador do passado sim, da lusofonia a partir de Portugal (reitero que refiro enquanto discurso nao como a realidade da partilha da língua) é incoerente, também não temos um entendimento.
Que fique claro: antes de avançar com o projecto online apresentei o BUALA a entidades, artistas e intervenientes africanos, em Maputo e Luanda, consultei pessoas da cultura e professores em Cabo Verde e do Brasil, para ver se fazia sentido e se tinha pernas para andar, se tinhamos colaboradores destes países. O primeiro apoio e voto de confiança proveio sintomaticamente aqui do Brasil, país onde se acredita nas ideias.
Muita gente circula neste espaço, temos uma língua comum e realidades que se tocam, sinto-me em casa em qualquer um destes países, mas de facto não há um grande conhecimento mútuo nem uma interessante promoção entre si - com acções e discurso muitas vezes decrépitos e anacrónicos da diplomacia portuguesa, que não comunicam com a dinâmica dos lugares onde trabalham (com válidas excepções).
O facto de ter uma visão geral destes países - dos seus rancores e irritações, das tendências, dependências e vontades, das práticas culturais e figuras, e precisamente por acreditar que há uma nova geração que consegue viver estas realidades trazendo outros elementos e ter um olhar descolonizado, em todos os lás e em todos os cás, fez com que se achasse proveitoso pôr em diálogo as várias perspectivas no interesse da partilha.
É com estas novas visões e novos topos que nos interessa trabalhar, de forma descomplexada, para lá do pós-colonial mas também com ele em tudo o que comporta de análise das relações do passado para entender as do presente.
Reconheço que este texto esteja datado e pode parecer desadequado quando inauguramos uma plataforma que tem colaboradores de toda a CPLP. mas introduziu-o precisamente para nao se confundir o Buala com uma celebração da lusofonia, para ser outra coisa a inventar entre todos.
Porque, e disso tenho a certeza, o discurso da lusofonia interessa muito mais a Portugal do que ao Brasil ou a Angola, que têm outro tipo de argumentos, pretensões e mútuas influências. Muito nos liga entre nós, e é também a nossa diferença que faz a curiosidade, mas não é uma união firmada numa construção harmoniosa e horizontal. É-o muito mais por passados violentos e dinâmicas actuais que deles provêm e os subvertem noutra relação de poderes (o que está a acontecer actualmente com a nova soberba capitalista angolana e que muito irrita alguns angolanos "então só agora que temos dinheiro é que nos respeitam em Portugal, depois de tanta humilhação?").
E se se quer de facto implementar um projecto lusófono que acompanhe a realidade 'lusófona' não se pode esquecer as condições de vida das pessoas, os vários tipos e interesses dos migrantes actuais, certos discursos políticos e diplomáticos, a falta de investimento numa boa difusão cultural e de circulação de estudantes, os estereotipos, os racismos etc. Temos de questionar qual é de facto esse projecto, quem dá a cara por ele, o instrumentaliza ou o faz render.
Sinceramente não percebo onde está o interesse em falar sobre e com África sem ponderar todos estes e muitos mais pontos de vista, sobretudo a partir de uma África real, que deixe de ser fantasiosa e sublimada por mentes europeias.
Espero que o BUALA sirva para minorizar esse tipo de equívocos e que haja mais gente a manifestar-se nos vários lugares de enunciação 'lusófonos' sem o vínculo da lusofonia.

AP

Espero que (se) perceba que tento distinguir o discurso que a academia impõe e administra (a partir do centro, como um novo imperialismo que se legitimaria pela autoridade do saber), e o que o Buala e as suas criadoras querem fazer.

Na intervenção escrita ou prática (também é prática...) que pretendo ter não me ocupo dos discursos da lusofonia como sua legitimação ou seu propósito; isso é para a diplomacia. Mas também não me interessa começar por atacá-la, o que resultaria apenas em fechar portas. E seria amalgamar planos de intervenção.

Quando introduzo o tema do colonialismo de esquerda (desde logo o da antiga tradição e depois oposição republicana e democrática) é para complicar a boa consciência distraída do pessoal, para aprofundar a crítica do colonialismo (sem o alibi dele vir da direita), e porque há que situar a análise das políticas concretas, dos discursos e das ciências no seu tempo ou contexto próprios.

É errado considerar que o discurso político (todo ele) que se ocupa do espaço lusófono (o qual "resulta da experiência imperial e colonial" - pois é, ele não "nos"? saiu na lotaria...), prolonga "as relações de dominação provindas do tempo colonial". Podemos usá-lo sem complexos, e ir passando-o por um exame crítico atento e descomplexado, sem deitar fora o bebé com a roupa suja.

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