Para mudar de assunto, outras sérias considerações (categoria "dietas"). Que o êxito fotográfico/facebookeano do Ensopado de Enguias...
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Para mudar de assunto, outras sérias considerações (categoria "dietas"). Que o êxito fotográfico/facebookeano do Ensopado de Enguias...
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O "Buala" é um projecto atraente: "sítio da associação cultural Buala, (...) o primeiro portal multidisciplinar de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas em língua portuguesa, com produção de textos e traduções em francês e inglês." Óptimo.
Depois, logo a seguir, começa por ser dada publicidade a um texto de uma das criadoras do projecto, obviamente anterior a este, que vem à partida afectar a eficácia e a credibilidade daquilo que se põe em marcha: http://www.buala.org/pt/a-ler/a-lusofonia-e-uma-bolha. A expressão “bolha lusófona”, ouvida num congresso de literatura pós-colonial, pode ser a "metáfora certa" (como se diz) para estabelecer cumplicidades académico-políticas, mas não é operacional para entrar agora no terreno prático das relações entre leitores e agentes culturais maioritariamente lusófonos. Este projecto não pode fundamentar-se nem construir a rede de apoios e participações de que carece com a infeliz afirmação de que o espaço linguístico comum é, afinal, "uma coisa pequenina que protege, sem arestas, inflamada e pronta a rebentar a qualquer momento. Fechada para o seu umbigo, não querendo ver nada mais, assim é a lusofonia."
Na capa, "O Infante D. Henrique, iniciador do descobrimento scientífico do planeta e da obra de colonização europeia". Ilustração de José Tagarro
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"Em cada sala do museu podemos observar pinturas murais que retratam as tradições e as gentes das regiões que dão o tema aos espaços do Museu de Arte Popular. As pinturas murais do MAP revelam o homem rural, simples e corajoso, bom pai de família trabalhador e honesto."
tags: pinturas_murais
Isto - sic - diz-se num blog do Sapo dedicado ao MAP que certamente não é oficial, nem aí se identifica como Fonte a Direcção do Museu, como noutros casos sucede. Ainda bem. Já não ouvia falar assim há muito tempo, e garanto que não foi para isto que eu e outros defendemos a continuidade do MAP, e com ele a complexa memória do António Ferro.
(Até agora tinha evitado ler. Foi uma tentação que me deu... Vou espreitar mais, devagar, para dar tempo a que se corrijam.)
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Outra fotografia roubada, esta da Rua Andrade Corvo. Para chatear o pessoal das artes manhosas vale a pena sugerir que o lenço que cobre a cara parece sugerido pelos tricots da Joana Vasconcelos. Eles ainda se confrontaram com a exposição quando fabricavam a sua, e referem-na como "incrível" junto de uma série de fotografias no respectivo blog (estamos mais habituados aos camaradas com dor de corno).
No caso da exp. deles no CCB / B de Berardo e de Belém, vale a pena reconhecer como aquele espaço enorme e vertiginoso da galeria que ocupam é por si mesmo um sentido ou estímulo para a respectiva programação, em especial no caso de Peter Kogler, em 2009, e tb de Alexandre Perigot, em 2008, que me interessou menos.
Posted at 00:09 in 2010, CCB, cidade, Lisboa, Museu Berardo | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
A foto é apropriada, e a pintura mural (graffiti?) é apropriada ao espaço urbano - e efémera, como convém quase sempre. Falta saber como aparece este trabalho nas paredes que conservaram por muito tempo (de propósito) um muito degradado envolvimento publicitário do candidato Santana Lopes. Ao lado de outra intervenção de Os gémeos e, parece, de Blu - a minha informação é escassa.
Também tem graça que isto cresça na indiferença dos informadores artísticos (sites, fbs e etc) como a Artecapital, o L+Artes, o adormecido Infinito ao Espelho e por aí fora). O quer está perto não interessa, o que não pertence ao respectivo pequeno nicho e pelo contrário tem visibilidade no espaço público e atravessa categorias diferentes e públicos diversos ignora-se ou é deliberadamente silenciado. Tem de ser tudo previsível, pré-digerido, traduzido dos noticiários alheios.
Posted at 23:49 in 2010, CCB, cidade, Lisboa, Museu Berardo | Permalink | Comments (4) | TrackBack (0)
Posted at 15:08 in Museu Arte Popular | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Tags: Thomaz de Mello, TOM
1ª exp. individual em 1988; em 1995, "Oriente Ocidente", com produção Ether e Fundação do Oriente, com comissariado de Jorge Calado. 1ªs colectivas: 1989, 1ª Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (1º prémio, secção retrato); 1990, European Kodak Award (Portugal), Les Rencontres d’Arles; 1991, "Regards Inquiets" – Portugal 1890-1990, Europáli'91, Antuérpia.
Livros: East West, 1995/ Peepshow, 1999 / Lotus, 2001 / Fotografias Recicladas, 2001/ Agosto, 2003/ António Júlio Duarte, 2006
outros catálogos: Almofala (com Valter Vinagre), 1990; Still (CNB), 2000
http://www.antoniojulioduarte.com/
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*Os lugares da Luz ("Oriente Ocidente"), "Revista - Expresso", 13.05.95
*Enfim nós (Encontros de Coimbra, col.), "Revista - Expresso", 16.11.96
*De Viagem ("Peep show"; 4 fotógrafos), "Cartaz - Expresso", 6.10.99
*Macau, luzes e sombras ("Lotus" - com Paulo Nozolino), "Expresso", 10.03.2001
*Lugares de passagem ("We can’t go home again"), "Expresso", 10.07.04
*"Do Natural", Módulo, 2007
Colecção em viagem, in "Expresso", 12.10.02
50 fotógrafos, in "Expresso", 14.12.02
*Coimbra, Centro Artes Visuais, in "Expresso", 08.03.03
Cruzamentos Peninsulares, in "Expresso", 19.06.04
Arte em jogo, in "Expresso", 03.07.04
XXX (1975-2005), in "Expresso", 21.05.05
*Imagens Privadas/Plataforma Revolver, in "Expresso", 28.05.05
*As cidades de Madrid (PhotoEspaña), in "Expresso", 09.07.05
Prémio BES escolhe fotógrafos, in "Expresso", 30.07.05
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1995, "Os lugares da luz", Expresso Revista, 13 Maio - Exp. "Oriente Ocidente", Lagar de Azeite, Oeiras - ver_artigo
e tb notas a 6 e 20 Maio + notas a 7 e 21 Out., por ocasião da mm exp. no Arquivo Fotográfico Municipal
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Tags: António Júlio Duarte
DOSSIER MAP 2 (Dia dos Museus)
(1 - Porque tenho responsabilidades no processo de defesa do "velho" MAP e porque o destino do "novo"(?) MAP é incerto e preocupante; 2 - e porque sou nomeado ou referido em alguns artigos de imprensa, aqui se coligem documentos, antes de outras eventuais intervenções.)
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Dia Internacional dos Museus
"A nova vida do Museu de Arte Popular"
por MARIA JOÃO CAETANO
Diário de Notícias, 18 de Maio 2010
http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1572487
"Celebrar o Dia Internacional dos Museus é o objectivo da reabertura, hoje, por apenas um dia, do Museu de Arte Popular (em Belém), cujas portas reabrem definitivamente mais tarde, ainda este ano. Muitos outros museus nacionais têm programação especial para assinalar este dia.
Nos andaimes, uma equipa de restauradores ocupa-se dos murais na sala do Alentejo. Nas Beiras, uma empregada lava o chão. Em Trás-os-Montes, arrastam-se móveis. Cheira a detergente e pelas janelas abertas entra o sol e vê-se o Tejo. Fechado desde 2003 e com morte oficialmente anunciada, o Museu de Arte Popular (MAP) renasce das cinzas, lentamente, pelas mãos da arquitecta Andreia Galvão, a enérgica directora convidada em Outubro para pôr de pé o novo MAP - vai reabrir "até ao final do ano", isso é certo, mas, hoje, Dia Internacional dos Museus, quem quiser pode lá ir ver o que se passa. A ideia é mesmo essa: "Abrir as portas à comunidade" e "mostrar um museu em construção".
Ainda sem colecção - o espólio, guardado no Museu de Etnologia, está agora a ser estudado e limpo - mas já com muito para mostrar: o edifício, em Belém, resultado da adaptação de alguns dos antigos Pavilhões da Vida Popular projectados pelos arquitectos António Maria Veloso Reis Camelo e João Simões, integrados no conjunto construído para a Exposição do Mundo Português de 1940. Os murais de TOM, Paulo Ferreira, Manuel Lapa, Eduardo Anahory, Carlos Botelho ou Estrela Faria, Tomáz de Mello* e Manuel Lapa, e as esculturas de Júlio de Sousa. O mobiliário original (cadeiras, expositores, manequins nus mas que antes vestiam as roupas tradicionais portuguesas). E algumas preciosidades encontradas durante as arrumações (bilhetes, roteiros, fotografias antigas). * //TOM e Thomaz de Mello são a mesma pessoa//*
Para visitar e imaginar como foi e como vai ser. O MAP teve uma vida atribulada, desde a inauguração em 1948 e, sobretudo, após o 25 de Abril. Em 2000 iniciaram-se obras de requalificação do museu que tinha entrado em decadência e que levariam ao encerramento do espaço em 2003. "Mal amado e incompreendido, o museu foi abandonado, mas isso acabou por ser uma vantagem, porque se manteve praticamente intacto. É, ele próprio, um objecto museográfico, representativo da sua época", explica Andreia Galvão.
Em 2006, a então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, anunciou que o MAP iria ser transformado em Museu da Língua Portuguesa. Mas nem todos gostaram das notícias. O movimento pela reabertura do MAP incluiu a criação de um blogue* e de uma petição online que reuniu mais de três mil assinaturas**. O crítico de arte Alexandre Pomar, a empresária Catarina Portas, a artesã Rosa Pomar, a historiadora Raquel Henriques da Silva e a artista plástica Joana Vasconcelos foram alguns dos rostos desta campanha que levou a uma mudança de planos. Em Dezembro, a nova ministra, Gabriela Canavilhas, anunciou que o museu "é para se manter tal como estava (…), dedicado à arte popular portuguesa". //*http://museuartepopular.blogspot.com/ * - ** mais de 4500 (hoje 4669)//**
E é isso que Andreia Galvão se propõe fazer ali. "Não quero fazer um museu tiro-liro-liro. Mas também não pode ser um museu de arte contemporânea", diz a directora. Há que conseguir um equilíbrio. Existe uma série de temas que podem ser tratados, da importância e da evolução desta zona beira-rio, o que foi a Exposição do Mundo Português, a identidade das diferentes regiões, as tradições que se perdem e as que estão a ser recuperadas. Ter um "museu vivo" implica pensar em novas estratégias para mostrar o espólio que se enquadrem na divisão por salas regionais mas que não se limitem a isso."
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RÁDIO RENASCENÇA, http://www.rr.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=96&did=104561
Inserido em 18-05-2010 10:32
"Museu de Arte Popular reabre portas"
LEGENDA: O espaço, com arquitectura do Estado Novo, guarda obras de Tomaz de Mello, Carlos Botelho, Eduardo Anahory, Manuel Lapa.
Encerrado há mais de uma década, o Museu Nacional de Arte Popular regressa à vida. O espaço, situado em Belém, reabre portas ao público hoje, Dia Internacional dos Museus.
Para já, ainda sem estarem expostas as 15 mil peças do espólio, o museu dá a conhecer o seu edifício restaurado. Há quatro anos ditaram-lhe a “morte” para dar lugar ao Museu da Língua, mas a contestação devolveu-o à vida. O espaço guarda pinturas decorativas dos artistas Tomaz de Mello, Carlos Botelho, Eduardo Anahory, Manuel Lapa, entre outros. A partir de hoje, as pessoas “podem marcar grupos, com entrada gratuita”, explicou Andreia Galvão, directora do Museu Nacional de Arte Popular.
Depois de ter passado por um período conturbado após o 25 de Abril, a história parece ter mudado. “Este museu passou, a seguir ao 25 de Abril, por um período muito difícil, pela falta de distância relativamente a produção do Estado Novo. Hoje em dia, vejo que a história virou e o próprio distanciamento permite ver a qualidade desta arquitectura e desta colecção”.
A reabertura simbólica deste espaço, à beira Tejo plantado, faz-se, por enquanto, sem as 15 mil peças do espólio expostas. Em Outubro, vão ficar disponíveis aos olhos alheios peças que incluem cerâmica, ourivesaria, trajes e alfaias agrícolas.
A BOLA, http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=206004
Museu Nacional de Arte Popular reabre uma década depois
Por Redacção
- 18-05-2010
O Dia Internacional dos Museus, que acontece esta terça-feira, serve para a reabertura ao público do Museu Nacional de Arte Popular. O edifício, que fica em Belém, Lisboa, esteve encerrado durante uma década e foi entretanto restaurado.
O espaço está em vias de ser classificado pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico. As 15 mil peças do espólio – que inclui pinturas de Tomaz de Mello, Carlos Botelho ou Eduardo Anahory – ainda não estão expostas.
«Diz-se que a história precisa de 20 anos para ser feita. De facto este museu passou, a seguir ao 25 de Abril, por um período muito difícil pela falta de distância relativamente a produção do Estado Novo», explicou a directora do MNAP, citada pela Renascença.
«Hoje em dia, vejo que a história virou e o próprio distanciamento permite ver a qualidade desta arquitectura e desta colecção», acrescentou Andreia Galvão. Com esta reabertura simbólica, começam também as marcações de grupos, com entrada gratuita.
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"Reaberto Museu Nacional de Arte Popular"
Inserido em 18-05-2010 20:06
RÁDIO RENASCENÇA
"Directora diz que começa hoje uma segunda vida do museu.
Está reaberto o Museu Nacional de Arte Popular, em Belém. O edifício marcado pela arquitectura do Estado Novo voltou a abrir as portas ao público esta tarde, Dia Internacional dos Museus.
A cerimónia que decorreu ao som do tradicional fado português, marca o inicio da segunda vida deste museu fechado durante mais de uma década.
A directora Andreia Galvão diz que este é o primeiro dia da segunda vida do museu.
A ministra da Cultura percorreu as regiões e disse que o museu reabriu empurrado pela vontade de um movimento popular. E é de povo que se faz este espaço da arte popular."
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Público, 17 Maio 2010 (DOSSIER MAP - ver nota abaixo)
http://jornal.publico.pt/noticia/17-05-2010/o-regresso-do-museu-que-se-recusou-a-morrer-19399287.htm
pp. 4 e 5"O regresso do museu que se recusou a morrer"
Criado no Estado Novo, mal-amado quase desde o início, pior amado depois do 25 de Abril, o Museu de Arte Popular fechou, esteve para acabar e transformar-se no Museu da Língua. Afinal, voltou como Arte Popular. Amanhã abre as portas por um dia para mostrar porque é valeu a pena ter sobrevivido. Por Alexandra Prado Coelho (texto) e Daniel Rocha (fotografias)
Há quatro anos, estávamos nesta sala a assistir ao fim do Museu de Arte Popular (MAP). A então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, chamou os jornalistas e comunicou-lhes que o espaço, que se encontrava encerrado, iria ser transformado no novo Museu do Mar da Língua.
Havia já um projecto de arquitectura que previa que as pinturas murais fossem emparedadas - quem quisesse vê-las teria que se encolher e espreitar por detrás das paredes falsas. Dificilmente alguém acreditaria que aquele não era o fim do museu inaugurado em 1948 por António Ferro, director do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN *à data já SNI, ...de Informação*) e com que o Estado Novo quisera celebrar a cultura popular.
Mas, contra tudo e contra todos, o museu conseguiu expulsar a Língua e as paredes falsas (*n.1), e reabre agora as portas para uma inauguração antecipada de um dia. Só será verdadeiramente inaugurado no último trimestre do ano, mas, amanhã, Dia dos Museus, o MAP vai mostrar-se de novo à cidade (entre as 10h e as 18h, com visitas guiadas, oficinas de artesanato e teatro).
Estamos de volta à mesma sala e o que se vê são técnicas da Fundação Ricardo Espírito Santo, no cimo de andaimes, a trabalhar no restauro das pinturas murais. Afastada a ameaça de emparedamento, os grandes painéis que decoram as paredes das várias salas são, num museu que ainda não recuperou a sua colecção (guardada temporariamente no Museu de Etnologia, mas pronta a regressar), o centro das atenções.
Há o painel de Lisboa, em tons de amarelo e azul, com peixeiras, manjericos, Santo António e fado (pintura de Paulo Ferreira, 1948), há, do mesmo autor, Terra Saloia, permanente romaria da Estremadura, Ribatejo, arte popular da bravura, e Nazaré, ex-voto do Mar Português. Tomás de Mello (Tom) e Manuel Lapa pintaram, logo na primeira sala, Minho, caixa de brinquedos de Portugal. As Beiras couberam a Carlos Botelho, o Alentejo a Estrela Faria, Trás-os-Montes a Eduardo Anahory, a Tom e a Manuel Lapa, e o Algarve novamente aos dois últimos.
"Como é que passou pela cabeça de alguém que era possível ocultar estas pinturas?", indigna-se o crítico de arte Alexandre Pomar, um dos activos defensores da continuação do MAP (juntamente com a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, a empresária Catarina Portas, e as artistas Joana Vasconcelos e Rosa Pomar, que chegaram a ir bordar para a porta do museu como protesto), e que no seu blogue (alexandrepomar.typepad.com) tem reunido uma enorme quantidade de informação sobre a história do museu.
"Não têm a componente política de serem artistas da oposição, mas não são menos valiosos por isso", defende, referindo-se à equipa de pintores modernistas reunida por Ferro. "São representantes de um compromisso dos pintores modernistas, uma modernidade pacificada. Este é o momento que melhor sobreviveu do trabalho dessa equipa que se destacou na Exposição do Mundo Português em 1940 (para a qual foi construído o primeiro pavilhão, o da Vida Popular, que viria a ser adaptado para o MAP pelo arquitecto Jorge Segurado) e em exposições internacionais", como a das Artes e Técnicas da Vida Moderna, em 1937, em Paris.
O capitão Henrique Galvão (que viria a celebrizar-se pelo afastamento do regime e o assalto ao paquete "Santa Maria") "atacou ferozmente aqueles pintores, acusando-os de um cosmopolitismo europeu quando a arte portuguesa devia desenvolver a sua relação com o Ultramar", explica Pomar.
"Esse apelo que Ferro faz à estética modernista em conjunto com a valorização da arte popular tem muito a ver com o seu contacto, logo desde os anos 20, com o movimento modernista, nomeadamente na Semana da Arte Moderna, em 1922 em São Paulo", sublinha Vera Marques Alves, antropóloga e autora da tese "Camponeses Estetas" no Estado Novo.
"Ele faz essa afirmação da identidade nacional através da reinvenção da estética popular já na (revista) Ilustração Portuguesa (início dos anos 20) e em 1921 fala na criação de bailados portugueses que recuperem o folclore, ideia que mais tarde leva à criação do Grupo de Bailado Verde Gaio."
É uma alternativa à História dos grandes feitos e heróis, e "a estética contemporânea é uma forma de mostrar a arte popular como afirmação de uma nação plena de vitalidade no presente" e não a viver de glórias passadas.O que é o "popular" hoje?
O MAP "é um projecto que vem de 1936, altura em que é completamente contemporâneo", explica Vera Alves. Mas sofre atrasos e em 1948, quando abre, "já está um bocadinho fora do tempo". É sobretudo um projecto de Ferro, diz a investigadora, e "nunca é muito acarinhado pelo regime". Sofre sempre de problemas estruturais, só tem electricidade em 1952, nos anos 60 corre o risco de fechar, mas o seu exterior serve de palco, no final dessa década, ao Mercado da Primavera, que, depois do 25 de Abril, se transforma no Mercado do Povo.
Mas, ao contrário dos outros museus do seu tempo, o MAP sobreviveu, congelado, praticamente esquecido. Chegou "intacto até hoje e é isso que o torna um caso único", defende o antropólogo João Leal. "É raro encontrar exemplos de museus que tenham sobrevivido tanto ligados ao seu projecto inicial."
O que se faz hoje de um museu assim? "É importante mostrá-lo como produto de um determinado discurso que teve a sua época e que pode ser desconstruído", diz João Leal. E abri-lo às expressões das culturas populares de hoje. "Durante muito tempo, elas eram valorizadas como testemunho de um mundo em extinção. Procurava-se o que era autêntico, legítimo, o menos tocado pelas culturas urbanas."
Hoje sabe-se que nunca nada esteve nesse estado puro e que as culturas populares foram sempre híbridas e inseridas em dinâmicas históricas. É possível "pôr em diálogo o popular e o erudito", assumir a hibridização do popular, afirma Leal, lembrando as queens (rainhas) das festas do Espírito Santo, nos Açores, uma influência dos emigrantes que foram para os Estados Unidos e o Canadá.É a Andreia Galvão, directora do MAP e autora de uma tese sobre o arquitecto Segurado, que cabe a tarefa de "descongelar" o museu. Como? Primeiro, assumindo este museu-documento como uma cenografia que ele sempre foi (Segurado falava na arquitectura como cartaz, lembra Galvão), nesse conjunto "indissociável" entre arquitectura, pinturas murais (com as frases que as acompanham, que terão sido inventadas pela poeta Fernanda de Castro, mulher de Ferro) e a colecção.
Para já, o MAP, com uma equipa ainda pequena mas com um "corpo de voluntariado notável", será um "museu em obra", aberto a quem queira ver como vai nascendo - isso acontecerá no site que será apresentado amanhã, e no qual será possível marcar visitas guiadas ou fazer inscrições nos ateliers de Verão. O exterior, que está degradado, vai também ser recuperado.
Haverá núcleos de memórias. "Estamos a trabalhar com a Cinemateca, teremos filmes de época, sobre a Exposição do Mundo Português e não só, vamos recorrer a muitos documentos da época. Com o Museu do Traje estamos a estudar a possibilidade de trazer o núcleo ligado ao Grupo de Bailado do Verde Gaio", explica a directora. A colecção de fotografias do "povo português" em trajes tradicionais, que estava nas paredes do museu e foi guardada no CCB quando ele fechou, já está de volta e vai ser recuperada. A colecção só regressará do Museu de Etnologia para a reabertura definitiva, mas para já será possível ver o mobiliário expositivo da época, de Jorge Segurado e Tom, que está a ser recuperado.
Haverá também núcleos interpretativos temáticos ligados aos diferentes espaços no museu. E, claro, a ligação à contemporaneidade: "Vamos explorar o conceito de contemporâneo na arte popular, trabalhar coisas como a reutilização de materiais orgânicos ou a investigação tecnológica no ramo das técnicas tradicionais." O MAP será ainda "uma embaixada do país em Lisboa" aberto às comunidades "para mostrarem o melhor que tenham, da gastronomia às festas".
Só muito poucos acreditaram que seria possível. Mas amanhã o MAP vai provar que há museus que se recusam a morrer.
(*1) Depois do projecto de arquitectura e "conteúdos" do “Museu Mar da Língua – Centro Interpretativo das Descobertas” da ex-ministra Isabel Pires de Lima, existiram outros projectos de arquitectura (ARX Portugal... uma caixa de vidro exterior, reconstituindo a aparência do edifício em 1940, ao que parece, e ocultando as pinturas murais) e de "conteúdos" (Ydreams e Produções Fictícias) para o "Museu da Língua Portuguesa" defendido pelo seguinte ex-ministro, José António Pinto Ribeiro.
(*2)Vera Marques Alves, "Camponeses Estetas" no Estado Novo (Arte Popular e Nação na Política Folclorista do Secretariado de Propaganda Nacional. ISCTE, Departamento de Antropologia, Lisboa 2007
NOTA: DOSSIER MAP 1 (Dia dos Museus)
1 - Porque tenho responsabilidades no processo de defesa do "velho" MAP e porque o destino do "novo"(?) MAP é incerto e preocupante; 2 - e porque sou nomeado ou referido em alguns artigos de imprensa, aqui se coligem documentos, antes de outras eventuais intervenções.
Posted at 08:37 in Museu Arte Popular | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
http://www.creativeafricanetwork.com/page/18496/en
Chegaram a Maputo umas três dezenas de catálogos da mesma exposição apresentada em Lisboa, em 2009, na (antiga?) galeria P4, do Luís Trindade - e há mais para enviar quando possível...
Entretanto, fica o texto escrito para o pequeno volume que inclui, além de todas as imagens, poemas então inéditos de Luís Carlos Patraquim e um texto de apresentação:
"A fotografia em Moçambique foi uma grande aventura colectiva durante cerca de duas décadas. Ficaram a marcá-la alguns livros, que em geral prolongam exposições e gestos de cooperação internacional ("Moçambique, A Terra e os Homens", 1983; "Karingana ua Karingana", 1990; "Maputo - Desenrascar a vida", 1997; "Iluminando Vidas", 2002). Quando a fotografia feita por africanos foi descoberta na Europa, há poucos anos, Moçambique estava na primeira linha ("Africa, Africa", Copenhaga, 1993; Revue Noire, nº 15, Paris, 1994).
Com a normalização lenta da vida do país (depois da revolução e da guerra civil, depois das eleições de 1994, ou das de 99…), esse capítulo de mobilização e propaganda a que a fotografia tinha sido chamada encaminhou-se para o seu fim natural e os itinerários passaram a ter de ser individuais. Tinha havido alguns casos de excepção, como José Henriques e Silva e os Pescadores Macua (Lisboa, 1983 e 1998), Moira Forjaz e Muitipi, Ilha de Moçambique (Lisboa, 1983).
A referida aventura teve pioneiros, Ricardo Rangel e Kok Nam, que entraram muito cedo numa imprensa colonial mais liberal que a de Lisboa e construíram os modelos da transição. Mais do que uma tradição portuguesa (o Século Ilustrado?), terá contado o exemplo empolgante dos fotógrafos do magazine Drum, da África do Sul. A aventura teve depois uma sede e uma escola, a Associação Moçambicana de Fotografia e o Centro de Formação Fotográfica, no qual se fizeram dezenas de fotógrafos mais ou menos perseverantes. Teve um estilo testemunhal e militante, para responder às urgências do socialismo, da guerra, das fomes e da reconstrução. Os tempos mudaram.
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José Cabral chegou por uma via original a essa história colectiva, praticando com um pai amador de fotografia e cinema – e, por sinal, também teve um homónimo avô paterno que foi governador (1910-1938) e um parque com o seu nome na velha capital (hoje Parque dos Continuadores).
Começou pela fotografia de cinema e aliou a prática de foto-repórter a programas documentais menos determinados pela urgência. A seguir, terá sido o primeiro a distanciar-se da dinâmica jornalística, e tornou muito claro esse desafio com a escolha das obras para a exposição "Iluminando Vidas": em vez de guerra, miséria, vítimas, ruínas e promessas de reconstrução, que podem ser ainda uma outra face do exotismo, mostrou nus femininos que não tinham qualquer pretexto etnográfico. A representação acabou por ter problemas em Bamako, no Mali, sede fotográfica do continente e país de rigores islâmicos.
A sua fotografia – em especial a forma de a mostrar como trabalho de artista - tornou-se mais autobiográfica e até intimista, sempre sem pretender ser auto-referencial e narcísica. Essa é a outra luta que importava travar nas novas condições de crescimento do país, uma batalha já mais individualista para abrir espaços conviviais.
"As Linhas da Minha Mão", em 2006, por ocasião do 3º Photofesta, afirmava a dimensão pessoal de uma galeria de retratos e de lugares – encontros com pessoas, paisagens, cidades e árvores ao longo da história recente de Moçambique.
Os seus "Anjos Urbanos" são as crianças: os três e depois quatro filhos do fotógrafo e os filhos dos outros, as crianças da rua. Há diferenças de cor e de condição social que se não escondem, pelo contrário, e que tornam mais incisivo ou mais pungente o testemunho sobre as insuportáveis desigualdades.
As imagens de José Cabral são simples e belas, ternas e terríveis, mas sempre sem os cálculos de acaso, artifício ou projecto que são tantas vezes a fórmula fácil da arte fotográfica. São ao mesmo tempo directas e carregadas de emoção, sem se distanciarem da vida à procura de metáforas.
Há uma história pessoal e há muitas histórias colectivas nestas imagens de Moçambique. Uma delas associa o general Mouzinho de Albuquerque, o vencedor de Gungunhana em 1895, ao bisneto do coronel José Cabral, que tinha continuado os seus planos de vias férreas e lhe ergueu a estátua, entretanto apeada. É só uma fotografia de família, uma criança que brinca…" Cat. Anjos Urbanos / Urban Angels, ed. P4 Photography
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José Cabral (n. 1952, Lourenço Marques/Maputo) é um dos grandes fotógrafos de África, ou africanos. Depois da morte de Ricardo Rangel é o mais importante fotógrafo de Moçambique. O melhor, o mais original, etc. Foi homenageado com uma exposição pessoal - "As Linhas da Minha Mão" - no Photofesta de 2006, os III Encontros Internacionais de Fotografia de Maputo (que foram também os últimos), mas a sua obra continua por editar em condições apropriadas.
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O MatrizPix, banco de imagens digitais relativas às colecções dos Museus e Palácios Nacionais e motor de pesquisa sobre fundos fotográficos digitais em alta resolução, produzidos e geridos pela DDF/IMC (Divisão de Documentação Fotográfica do Instituto dos Museus e da Conservação) - http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/Apresentacao.aspx - continua a ampliar o seu acervo e incluiu recentemente numerosas imagens das colecções do Museu de Arte Popular:
Fotografias identificadas como "Retrato de mulher" "Vendedora de fruta" "Retrato. Camponesa" (?) "Jóias", "Retrato de camponesa", "Festa popular", "Camponesa" - Papel
montado em suporte de madeira (provas refotografadas por Luisa
Oliveira, 2008
/ Copyright:
© IMC / MC)
Autor não identificado
Foi a DDF e a divulgação das fotografias das pinturas murais feitas por José Pessoa em 2007 (já depois da condenação à morte do MAP), na MatrizPix (ao longo de 2008-09?) que salvou o Museu
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O "Público" fez hoje concentrar as atenções que acompanham o Dia Internacional dos Museus (este ano muito discretamente assinalado) sobre o Museu de Arte Popular e a sua fugaz reabertura. É também o MAP que irá visitar a ministra da Cultura, para além de outros previstos acontecimentos oficiais. Em "O regresso do museu que se recusou a morrer" (anunciado na capa do caderno como "O Museu de Arte Popular vai ter uma nova vida"), Alexandra Prado Coelho (com as fotografias de Daniel Rocha) revê bem o passado recente e as suas razões, e ouve as intenções da directora Andreia Galvão - arquitecta e autora de uma tese sobre o arquitecto Jorge Segurado (o responsável pelos projectos de interiores, acabamentos e mobiliários adoptados pelo MAP a partir de 1944 e até à inauguração em 1948).
"Como é que passou pela cabeça de alguém que era possível ocultar estas pinturas?", perguntei eu, lembrando aliás que a ocultação e a consequente destruição a breve prazo tinham alguma correspondência com o que o chamado regime anterior tinha feito com outras pinturas murais (frescos no caso) de muito próxima data. Referia-me aos painéis do cinema Batalha, no Porto, executados em 1946-7 e destruídos em 1948 por ordem do "Governo Civil", sendo estes de Lisboa de 1947-48, ao que se julga, e constituindo o mais representativo conjunto de pinturas murais da autoria dos pintores-decoradores que trabalhavam para o SPN e o SNI nas suas diversas frentes, das exposições universais (Paris 1937, Nova Iorque 39) ao Verde Gaio, da premiação de Monsanto aos interiores das pousadas, dos salões do Palácio Foz às exposições de propaganda. Crime por crime, e ambos com (des)razão política. Agora a coberto de uma história da arte que primeiro foi militante anti-fascista e depois preguiçosa e cobarde.
Também recordei que o mesmo Estado que exige dos privados a conservação de decorações murais se permite destruir o que julga que é seu. E pode citar-se outro caso que envolveu Estrela Faria (uma das anunciadas vítimas em Belém; por extenso: Estrela da Liberdade Alves Faria, 1910 - 1976) que teve um grande painel no cinema Alvalade, de 1953, hoje conservado no mesmo edifício reconstruído (com restauro da K4). Aliás, no caso do MAP, tinha-se chegado a fazer contas aos custos da transferência das pinturas para outro local, hipótese duplamente irrealista.
Os painéis do MAP não são obras-primas e não podem ser sobrevalorizados, mas são uma componente essencial de um museu que foi concebido como um museu-espectáculo (como são os museus que se seguiram em Paris à Exposição de 1937 e voltou a ser há pouco o Quai Branly) e como uma expressão da etnologia folclorizante que era a ciência do seu tempo (algo retardado pelas carências da 2ª Guerra e as contradições internas ao regime). São também uma muito particular exemplificação do convergência ou compromisso entre modernismo e inspiração popular, que tem uma longa e complexa história com sucessivos episódios vanguardistas. Sem se poder dizer, neste caso, que elas representam esteticamente o regime de Salazar, já que essa representação é objecto de virulentas tensões opostas.
É muito citada a crítica prévia do coronel Ressano Garcia contra os modernistas de 1940, mas ignora-se em geral que António Ferro e as opções estéticas da própria Exposição do Mundo Português (de que decorre o edifício e a equipa do MAP) eram alvo de um mais directo ataque da parte de Henrique Galvão, num confronto territorial aceso entre o Centro Regional e a Secção Colonial, a curta distância, e entre o director da Emissora Nacional e o Secretário da Propaganda Nacional:
"Escreve-se à francesa, pinta-se à espanhola, constrói-se à americana - mas nem na forma nem nos motivos, isto é: nem na técnica nem na inspiração, os artistas são portugueses. A própria Arte Popular está sendo explorada - é o termo - de forma tão atrabiliária, através das chamadas estilizações, que o povo deixará de ser o seu cultor e aos artistas acabará por perguntar-se se terá valido realmente a pena estarem no alto de vinte séculos de civilização para serem pouco mais do que primários. (...)não vemos nem compreendemos uma arte portuguesa sem inspiração ultramarina, sem a intervenção das colónias. É Além-Mar que os nossos artistas hão-de encontrar os traços nacionalistas da sua arte e o cunho marcado da sua originalidade - porque da fisionomia da Nação fazem parte os elementos fundamentais da sua grandeza."
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Vera Marques Alves e João Leal (antropólogos intervenientes no colóquio às portas do MAP em 20 de Junho de 2009) são também ouvidos pelo Público, e no final a directora Andreia Galvão antecipa vários dos seus projectos para a reabertura do MAP no último trimestre - reabertura definitiva ou abertura simbólica de um "museu em obra" (A.G.) à procura do seu novo destino? Serão eventualmente projectos excessivos para o pequeno espaço do Museu, onde se deverá repor parte substancial das suas colecções próprias e mostrá-las como exemplo de uma concepção material e ideologicamente datada mas eficaz e brilhante de museologia etnológica, na sua articulação com o que foi a "política do espírito" e a "campanha do bom gosto", o compromisso modernista e a afirmação do design, a história da etnografia e a sua crítica, mediante um exercício cirúrgico de conservação, contextualização, "desconstrução" e actualização ou diálogo com o presente.
Que ampliações ou alterações espaciais são necessárias (e serão possíveis? serão convenientes?) para que caibam filmes de época e figurinos do Verde Gaio, o mobiliário expositivo da época e o novo que será indispensável, o museu-documento com a sua cenografia específica, os núcleos interpretativos temáticos e a ligação à contemporaneidade, mais a "embaixada do país em Lisboa", da gastronomia às festas, etc. O "museu em obra" deverá ser também um "museu em reflexão", com participações disciplinares distintas e complementares. O debate que antes se fez à porta do MAP encerrado deverá passar para dentro do seu espaço entreaberto. Não pode perder-se a oportunidade de pensar-se o MAP e o seu tempo para ponderar as melhores opções que devem guiar a reabertura de um museu que foi e vai continuar a ser problemático, talvez também problematizador.
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Há um ano, o dia dos Museus foi marcado por uma original (e eficaz) acção de luta - o Lenço de Namorados bordado colectivamente durante toda a tarde à porta do Museu de Arte Popular: museuartepopular.blogspot.com. Mais tarde, a 20 de Junho, realizou-se um colóquio ao ar livre onde as razões da defesa do MAP foram explicitadas a partir de diferentes abordagens, juntando a história da arte à do design e à arquitectura, a museologia e a antropologia ( imagens-do-coloquio-de-hoje ). Nunca existiu consenso em torno do Museu, pelo contrário, e logo desde o seu início, mas defenderam-se argumentos e formularam-se sugestões para o seu futuro. Além de haver razões patrimoniais relevantes (o que sucedeu noutros casos perdidos), o grupo que animou o movimento e o respectivo blog conseguiu ter a seu favor a imaginação necessária para propor iniciativas não rotineiras e o cuidado de não deixar instrumentalizar a sua causa para se tirarem dividendos em lutas alheias (o que é muito raro na generalidade dos movimentos cívicos).
O Lenço de Namorados exposto durante o colóquio de 20 de Junho de 2009
O blog http://museuartepopular.blogspot.com - "fechado em Belém mas aberto aqui" - conserva os textos e as imagens principais desta luta que começara antes e se reactivou por sua iniciativa em Março de 2009, quando o que parecia ter sido uma primeira ameaça já então esquecida (o “Museu Mar da Língua – Centro Interpretativo das Descobertas” da ex-ministra Isabel Pires de Lima, anunciado em 2006 e depois aparentemente posto de parte, ou destinado à Estação do Rossio, em 2008) ressuscitou inesperadamente e em novos moldes como um objectivo (ou cedência?, compromisso?) do seguinte ex-ministro, José António Pinto Ribeiro. Era então o "Museu da Língua Portuguesa", com já diferentes projectos de arquitectura do atelier ARX Portugal, animações Ydreams e conteúdos Produções Fictícias, numa luxuosa e absurda operação a facturar à Sociedade Frente Tejo, que nunca a terá visto com agrado - mas as sombras ficaram a pairar sobre esses devaneios.
Esse blog não está desactivado, pelo que sei, mas estará expectante quanto ao que se irá fazer ou poderá acontecer no Museu. Aguardam-se certamente mais informações antes de se poder festejar o êxito da campanha, mesmo que se tenham registado com agrado as deliberações do Conselho de Ministros que determinaram "a requalificação do edifício do Museu de Arte Popular no âmbito das acções de requalificação e reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa em curso, a realizar pela Frente Tejo, S. A., mantendo a sua concepção original de espaço dedicado à cultura popular e prosseguindo com as atribuições nas áreas da museologia, da investigação e da acção cultural, respeitando-se o seu passado histórico e a identidade que o espaço, fundado na década de 1940, ganhou ao longo dos anos. (...)"
De facto, não se trata apenas de reabrir a porta e de reinstalar o que estava, e também não se poderá tratar de apagar ou corrigir/substituir o que existia, nem de intervir com mão pesada num edifício cuja classificação se reclamou. Em termos coloquiais pode dizer-se que "aquilo" (o MAP) valia a pena defender porque estava intacto - se mexem mal (na arquitectura e na museologia) perderá o interesse todo.
Esperemos para ver, e sublinhemos o possível melindre de intervenções ou mesmo de intenções que desfigurem o que depois já não poderá ser rectificado. Esperemos, aliás, que a tutela e a direcção saibam auscultar os especialistas das diversas áreas que aí convergem e se têm de articular, porque, como se referiu antes, se trata aqui ao mesmo tempo de história de arte, de design, de arquitectura, de etnologia e de museologia, e em particular de arte popular, área de problemática definição com que as várias disciplinas e em particular a antropologia (ou algumas das suas tendências) têm lidado com grande resistência conceptual e processual (veja-se a contribuição de Jorge Dias aos volumes da Verbo...). Também com implicações efectivas em terrenos que têm a ver com a cidade, o turismo, o emprego, a animação cultural, a economia, etc.
(Continua)
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Chegou o "Dominique Makondé, Mozambique - La Réunion", o catálogo de uma exposição apresentada no Museu Histórico de Saint-Gilles-les-Hauts, em 2006-07. Demorou dois meses, desde a Clarke's Bookshop de Cape Town, mas chegou. Com as xilogravuras de Matias Ntundu, apresentadas por Alda Costa; as cerâmicas de Reinata e também José Cabral, com as fotografias de Mueda 1998.
Depois de "Art Makondé / Tradition et Modernité" (Paris, 1989), é um nova e diferente aproximação ao povo do planalto de Cabo Delgado, a pretexto do trânsito de escravos para a ilha de Reunião, e nomeando um em particular, "cafre, cinquante-neuf ans, gardien, estimé mille francs".
Gianfranco Gandolfo volta a escrever sobre a escultura maconde, a "antiga" e a moderna, de estilos vindos da Tanzânia, e também sobre a escultora-ceramista Reinata Sadimba. (Uma interesse recente, outros trabalhos...) E por agora é o portfolio de José Cabral que me interessa referir, bem apresentado por um texto breve do jornalista Fernando Manuel e ampliando o que conhecia de outras publicações, como a revista "Camões" de Julho-Setembro de 1999, Nº 6, em "A Cama de Cambala (Viagem a Mueda)", com texto de Júlio Carrilho, e concepção de Feliciano de Mira. Seria um livro, e extenso, pelo que se vai conhecendo. O trabalho de natureza documental não se detém na informação e suspende o comentário, interrompe a tradição jornalística do miserabilismo, da retórica sentimental alimentada pela anedota formal: se a arte não é uma causa afirmada (para quê?), também a reportagem não se deixa apropriar pela razão ilustrativa ou por intenções discursivas. É a dignidade das personagens que sustenta o olhar, a recusa do exotismo que abre espaço a uma intimidade serena e calorosa, onde o retrato é sempre um exercício de discrição tanto ou mais que de descrição. Não é de imediato que o olhar se prende a cada imagem, porque faltam as regras habituais da facilidade sentimental, porque é sem efeitos que elas se oferecem ao olhar e resistem à palavra. O seu vagar é sempre mais próximo das figuras fotografadas do que do conforto voyeurista de que observa à distância.
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O Museu de Arte Popular terá estado encerrado ao público desde 2003, mas vêem-se escritas outras desencontradas datas, entre 1999 e 2006 (quando uma ministra dita da Cultura anunciou outros usos para o edifício). As portas tinham-se encerrado porque no interior e nas coberturas decorriam obras, certamente desde 2000, com vista à requalificação do seu espaço, e não devido a qualquer decisão de pôr fim ao museu inaugurado em 1948.
1ª fase das obras do MAP, c. 2000
De facto, ía-se lá pouco e quase ninguém terá dado conta do fechar das portas. A decadência instalara-se sobre o silêncio, a ignorância e a hostilidade que eram há muito o seu meio ambiente "natural". Desde sempre, se virmos a imediata crítica do etnólogo Luís Chaves (por sinal, o autor do Roteiro do Centro Regional da Exposição do Mundo Português...) que se publicou na revista "Panorama", por sinal também propriedade do Secretariado Nacional de Informação, à época da respectiva inauguração. (O Museu do regime criticado pelo regime?!)
Com o Dia dos Museus, no próximo dia 18, volta a haver possibilidade de passar as portas do MAP - atenção aos desenhos gravados nos vidros da entrada, magníficos e de autor não identificado. Fazem parte do programa arquitectónico-decorativo dirigido entre 1944 e 48 por Jorge Segurado, mas não se sabe quem os concebeu. Terá sido Sebastião Rodrigues, que c. 1948 começara a trabalhar para o SNI? E que em 1972 assinava o belíssimo cartaz para o MAP e o seu "Mercado da Primavera" (a que sucedeu o "Mercado do Povo", até aos anos 80). É só uma hipótese.
Cartaz de Sebastião Rodrigues com boneco de Rosa Ramalho
Não haverá ainda museu reinstalado, e o principal motivo de interesse, para além da evocação de uma campanha cívica que se espera vir a ser vitoriosa, concentra-se por isso mesmo na possibilidade de observar o património decorativo do edifício (uma antecipação notória da concepção de museu-espectáculo que se implantara com a Exposição de Paris de 1937 e que viria nos últimos anos a ter nova actualidade, nomeadamente no Museu do Quai Branly, em Paris). Em especial, poderão ver-se, já quase restauradas, as grandes pinturas murais que estiveram em risco de ser destruídas ou pelo menos ocultadas pelas decisões ministeriais.
É altura de reparar que nunca as pinturas murais tinham sido fotografadas nem objecto de atenção, apesar de serem da autoria de artistas respeitados ou respeitáveis, mesmo que não se trate de inquestionáveis obras-primas. É provável que tenham sido as primeiras fotografias divulgadas das decorações (feitas por José Pessoa em 2007 e incluídas em 2008 na base de dados MatrizPix do próprio Ministério da Cultura, certamente à revelia da tutela) que tenham salvo o edifício e o MAP.
A mesma história da arte que condenava a destruição, no Porto, por ordem do Governo Civil, de um grande fresco que também se pintou em 1947-48 (e seguia a temática popular das festas de São João), ignorou com sobranceria as pinturas murais da mesma data e também de temas populares (diversamente explorados) da autoria de Carlos Botelho, Eduardo Anahory, Tomáz de Mello (Tom), Estrela Faria e Manuel Lapa. E preparava-se para lhes ditar o mesmo destino - mais por ignorância do que vontade censória, certamente.
O Minho, de Tomaz de Mello e Manuel Lapa (à frente, desenhos adaptados de peças de fogo de artifício)
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A fotografia de Joaquim Vital encontrei-a no registo de uma entrevista para a France 3 - "au café parisien "Le Rostand", conduzida por Olivier Barrot -, a propósito do seu livro de retratos e memórias de artistas e escritores que editara (ou tentara editar), todos eles à data já falecidos, e que ele próprio publicou em 2004 com o título "Adieu à quelquer personnages". Personagens famosíssimos quase todos, como Calder, Masson, Miró, Bacon, Deleuze, Jean Tinguely, Antonio Saura, outros mais discretos ou de audiência mais restrita, como Patrick Waldberg e Boris Souvarine, mas que foram referências essenciais no seu percurso de editor.
De facto, através dessa galeria de figuras, em geral admiradas, mas também, em casos mais raros, observadas com frieza ou repulsa, é igualmente uma autobiografia que se tece. Desde o primeiro encontro, ainda em Lisboa, do ainda adolescente com o poeta Edmundo Bettencourt, ou dos primeiros passos do jovem editor exilado em Bruxelas nos anos 60 finais (Daniel Guérin, o anarquista; Max Ernst) - encontros formadores ou falhados -, até às grandes aventuras editoriais de Paris. As vitórias e os desastres de um editor independente e quase artesanal, também poeta e tradutor do português, fundador das Éditions de la Différence em 1976 e até ao presente seu director com Colette Lambrichs, a sua mulher.
Narrador culto e excessivo, onde as razões da cumplicidade literária ou artística, mas também o cálculo de algum possível sucesso de mercado que viesse desaperter o cerco do crédito bancário, se acompanham com as minuciosas evocações de refeições de trabalho, ou a pretexto de trabalho, percorrendo os restaurantes de Paris e do mundo, anotando ementas e vinhos, ou vencendo as às vezes necessárias "maratonas etílicas" (a última do livro com uma temível Joan Mitchell, a pintora americana de Paris, que lhe diz à despedida "La vie, Joaquim, est mal faite").
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Exilado desde 1967, instalado em Paris desde 1973, Joaquim Vital morreu ontem subitamente, em Lisboa, onde viera de visita à sua mãe, como fazia com muita frequência.
Por duas vezes, com alguns anos de intervalo, passei cerca de dez dias, nos escritórios de La Différence, participando na criação de dois livros de arte - diante do computador mas como uma outra forma actualizada de trabalho manual.
Desde Lisboa é conveniente recordar que a divulgação dos escritores portugueses em França lhe deve muito.
Em 2007 Vasco Graça Moura recebeu o prémio Max Jacob estrangeiro pela sua antologia de poemas Une lettre en hiver traduzida por Joaquim Vital;
Em 2001, Sophia de Mello Breyner recebeu o prémio Max Jacob estrangeiro pela sua antologia de poemas Malgré les ruines et la mort, reunidos et traduzidos por Joaquim Vital.
Em 1990, Vergílio Ferreira recebeu o prémio Fémina estrangeiro por Matin perdu (trad. de Parcidio Gonçalves), ed. Difference.
A partir de 1986 (http://www.ladifference.fr/historique.html), como refere o histórtico da editora, "sous l’impulsion de Joaquim Vital, les Ėditions de la Différence entreprennent un travail en profondeur pour faire connaître en France la littérature portugaise": Fernão Mendes Pinto, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Maria Judite de Carvalho, Sophia de Mello Breyner, Vergilio Ferreira, Eugénio de Andrade, Urbano Tavares Rodrigues…
Entre as edições de livros de arte de Joaquim Vital contam-se mais de uma dezena de títulos sobre ou da autoria de Júlio Pomar e outros de José de Guimarães.
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sobre JV vejam-se o blog do embaixador Francisco Freitas da Costa:
http://duas-ou-tres.blogspot.com/2010/05/joaquim-vital-1948-2010.htmle em especial uma grande entrevista de Sérgio C. Andrade publicada no Público em 2007:
http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/entrevistaJoaquimVital_2007.pdf
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