Chegou o "Dominique Makondé, Mozambique - La Réunion", o catálogo de uma exposição apresentada no Museu Histórico de Saint-Gilles-les-Hauts, em 2006-07. Demorou dois meses, desde a Clarke's Bookshop de Cape Town, mas chegou. Com as xilogravuras de Matias Ntundu, apresentadas por Alda Costa; as cerâmicas de Reinata e também José Cabral, com as fotografias de Mueda 1998.
Depois de "Art Makondé / Tradition et Modernité" (Paris, 1989), é um nova e diferente aproximação ao povo do planalto de Cabo Delgado, a pretexto do trânsito de escravos para a ilha de Reunião, e nomeando um em particular, "cafre, cinquante-neuf ans, gardien, estimé mille francs".
Gianfranco Gandolfo volta a escrever sobre a escultura maconde, a "antiga" e a moderna, de estilos vindos da Tanzânia, e também sobre a escultora-ceramista Reinata Sadimba. (Uma interesse recente, outros trabalhos...) E por agora é o portfolio de José Cabral que me interessa referir, bem apresentado por um texto breve do jornalista Fernando Manuel e ampliando o que conhecia de outras publicações, como a revista "Camões" de Julho-Setembro de 1999, Nº 6, em "A Cama de Cambala (Viagem a Mueda)", com texto de Júlio Carrilho, e concepção de Feliciano de Mira. Seria um livro, e extenso, pelo que se vai conhecendo. O trabalho de natureza documental não se detém na informação e suspende o comentário, interrompe a tradição jornalística do miserabilismo, da retórica sentimental alimentada pela anedota formal: se a arte não é uma causa afirmada (para quê?), também a reportagem não se deixa apropriar pela razão ilustrativa ou por intenções discursivas. É a dignidade das personagens que sustenta o olhar, a recusa do exotismo que abre espaço a uma intimidade serena e calorosa, onde o retrato é sempre um exercício de discrição tanto ou mais que de descrição. Não é de imediato que o olhar se prende a cada imagem, porque faltam as regras habituais da facilidade sentimental, porque é sem efeitos que elas se oferecem ao olhar e resistem à palavra. O seu vagar é sempre mais próximo das figuras fotografadas do que do conforto voyeurista de que observa à distância.
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