O Museu de Arte Popular terá estado encerrado ao público desde 2003, mas vêem-se escritas outras desencontradas datas, entre 1999 e 2006 (quando uma ministra dita da Cultura anunciou outros usos para o edifício). As portas tinham-se encerrado porque no interior e nas coberturas decorriam obras, certamente desde 2000, com vista à requalificação do seu espaço, e não devido a qualquer decisão de pôr fim ao museu inaugurado em 1948.
1ª fase das obras do MAP, c. 2000
De facto, ía-se lá pouco e quase ninguém terá dado conta do fechar das portas. A decadência instalara-se sobre o silêncio, a ignorância e a hostilidade que eram há muito o seu meio ambiente "natural". Desde sempre, se virmos a imediata crítica do etnólogo Luís Chaves (por sinal, o autor do Roteiro do Centro Regional da Exposição do Mundo Português...) que se publicou na revista "Panorama", por sinal também propriedade do Secretariado Nacional de Informação, à época da respectiva inauguração. (O Museu do regime criticado pelo regime?!)
Com o Dia dos Museus, no próximo dia 18, volta a haver possibilidade de passar as portas do MAP - atenção aos desenhos gravados nos vidros da entrada, magníficos e de autor não identificado. Fazem parte do programa arquitectónico-decorativo dirigido entre 1944 e 48 por Jorge Segurado, mas não se sabe quem os concebeu. Terá sido Sebastião Rodrigues, que c. 1948 começara a trabalhar para o SNI? E que em 1972 assinava o belíssimo cartaz para o MAP e o seu "Mercado da Primavera" (a que sucedeu o "Mercado do Povo", até aos anos 80). É só uma hipótese.
Cartaz de Sebastião Rodrigues com boneco de Rosa Ramalho
Não haverá ainda museu reinstalado, e o principal motivo de interesse, para além da evocação de uma campanha cívica que se espera vir a ser vitoriosa, concentra-se por isso mesmo na possibilidade de observar o património decorativo do edifício (uma antecipação notória da concepção de museu-espectáculo que se implantara com a Exposição de Paris de 1937 e que viria nos últimos anos a ter nova actualidade, nomeadamente no Museu do Quai Branly, em Paris). Em especial, poderão ver-se, já quase restauradas, as grandes pinturas murais que estiveram em risco de ser destruídas ou pelo menos ocultadas pelas decisões ministeriais.
É altura de reparar que nunca as pinturas murais tinham sido fotografadas nem objecto de atenção, apesar de serem da autoria de artistas respeitados ou respeitáveis, mesmo que não se trate de inquestionáveis obras-primas. É provável que tenham sido as primeiras fotografias divulgadas das decorações (feitas por José Pessoa em 2007 e incluídas em 2008 na base de dados MatrizPix do próprio Ministério da Cultura, certamente à revelia da tutela) que tenham salvo o edifício e o MAP.
A mesma história da arte que condenava a destruição, no Porto, por ordem do Governo Civil, de um grande fresco que também se pintou em 1947-48 (e seguia a temática popular das festas de São João), ignorou com sobranceria as pinturas murais da mesma data e também de temas populares (diversamente explorados) da autoria de Carlos Botelho, Eduardo Anahory, Tomáz de Mello (Tom), Estrela Faria e Manuel Lapa. E preparava-se para lhes ditar o mesmo destino - mais por ignorância do que vontade censória, certamente.
O Minho, de Tomaz de Mello e Manuel Lapa (à frente, desenhos adaptados de peças de fogo de artifício)
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