Na EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS da FUNDAÇÂO CALOUSTE GULBENKIAN, 1957, na SNBA, de 7 a 31 de Dezembro de 1957 (levada depois ao Porto), as participações de António Quadros (n.1933) e de Eduardo Luiz (n. 1932), "artistas do Porto", causaram alguma perturbação.
Para além das obras, importa analisar as notas biográficas.
1
2
3
René Bertholo (n. 1935), José Escada (n.1934), João Vieira (n.1934) participam tb na mm exp. - e João Cutileiro (1937), que tem um outro itinerário bem individualizado. É um mesmo grupo geracional, e o primeiro a afirmar-se como tal após as aparições do imediato pós-guerra. Encontram-se brevemente na Galeria Pórtico em 56 e 57 (A.Q.), e são já favorecidos pela acção da FCG e pelas suas bolsas para o estrangeiro.
#
O quadro de António Quadros (que julgo lembrar-me ter visto em criança em casa do arq Rui Pimentel) não voltou a ser exposto (nem reproduzido, nem mencionado!!) na retrospectiva de 2001 - e ignoro se foi mostrado depois de 1957. Onde estará? Não parece ser uma obra irrelevante.
No caso de Eduardo Luiz, o Prémio da Jovem Pintura, atribuído na Galeria de Março de J.A. França, por votação do público, em 1953, nunca foi digerido pelo historiador-galerista/crítico, mas a presença na II Bienal de São Paulo ocorreu nesse mesmo ano no âmbito de uma representação muito alargada (tb a neo-realistas), alcançada pelo SNI apenas nessa ocasião, graças a mediações de Diogo de Macedo e Galeria de Março.
Em 1956 participa pela 1ª vez na EGAP (a X e última) e tb na exp. do SNI "30 anos de Cultura Portuguesa", que incluiu muitas presenças involuntárias. É muito significativa a colaboração como cenógrafo com o Teatro Experimental do Porto e com António Pedro (1952-57?), e em especial os cenários e a sua movimentação em cena aberta na peça "Guerras do Alecrim e da Mangerona" são uma das minhas mais antigas e mais fortes memórias teatrais (1956?, ou 57?, com dez anos). (Também vi o "Quanto Importa ser Leal", do Oscar Wilde...)
Em 1958 fixou-se em Paris (bolseiro da FCG). A. Quadros terá partido no mesmo ano para Paris, com bolsa (certa ou prometida?) mas a estadia foi atribulada e abreviada: diz-se que estudou gravura e fresco na Escola de Belas Artes de Paris em 58-59 (noutras biografias a data desses estudos seria 52/54, o que é inviável). Tb em 1958, Lourdes Castro, Bertholo, Costa Pinheiro e Gonçalo Duarte partem para Paris e Munique.
A. Quadros fixou-se em Lourenço Marques em 1964 - até 84.
Nenhum deles dois participou na II Exposição Gulbenkian de 1961 (e certamente não concorreram)
É também curioso que nenhum dos dois pintores seja incluído no Roteiro da Colecção do CAM, na edição de 2004 (!!!), embora participassem nas montagens, ou nos roteiros iniciais do Centro. Tb não foram objecto de atenção na mostra-inquérito "50 anos de arte portuguesa", FCG, 2007, dedicada aos bolseiros - e ambos o foram. (Ignorâncias lisboetas, velhas querelas, provincianismos da colecção.) Mas no novo site da Colecção, A.Q. tem 4 desenhos, uma pintura de 1956 e duas gravuras (estas não reprod.); E.L. tem três telas e uma serigrafia.
EL, 1932-1988
AQ, 1933-1994: ver FBAUP http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1005984
Enfim, desde o início, ambos artistas de digestão difícil (as presenças no SNI não ajudaram).
O mercado não concorda!
Posted by: AB | 07/22/2010 at 20:51
Os difíceis (ou alguns deles) são os mais interessantes. Descontando os que são apenas chatos insuportáveis. E trata-se de ir conhecendo melhor as zonas proibidas, ou pelo menos esquecidas sob o manto de um unitário e sempre vencedor oposicionismo. Por agora estou à procura de um desaparecido manifesto do chamado "grupo de Paris", e foram cinco com o René, a Lourdes e o Nuno Siqueira (informa sem informar o J.A.França, num volumezinho da antiga Ática, de 1960, pág. 212). Com resposta assinada por três dezenas, também pública, em ano do Delgado ou já na ressaca, 1958 ou 59?, nas vésperas dos Novíssimos e da I Bienal de Paris (refere-o o Adolfo Casais Monteiro num jornal brasileiro).
Posted by: AP | 07/23/2010 at 00:31
Viva!
Agradeço este pequeno apontamento sobre António Quadros… o desinteresse sobre a sua obra continua a arrasar-me, fico feliz cada vez que vejo nem que seja apenas uma imagem a preto e branco…
As obras de António Quadros que exponho de momento na minha galeria também não são de todo obras irrelevantes, não obstante não suscitaram o interesse que eu supunha… supus mal é evidente! Mesmo tendo em conta que a exposição é em Bragança, (o que para quem vive para lá do Marão é quase o mesmo que dizer na ilha mais remota dos Bijagós;), pensei que eventualmente uma ou duas pessoas no território nacional quisessem saber que obras tenho, de que datas, em que técnicas… eu preparei-me para responder a tudo isso, fiz o inventário detalhado pensei longamente acerca da melhor forma de expor a colecção… valeu sobretudo para mim que desfrutei do trabalho e sobretudo das obras…
entro na última semana de exposição com a sensação que fiz o que estava ao meu alcance para contribuir para a divulgação da obra deste autor ainda hoje claramente desprezado… lamento que o meu alcance seja tão curto :)
Posted by: emilia | 07/29/2010 at 16:52