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de uns tais Faile: "FAILE (Pronounced "fail") is a Brooklyn-based artistic collaboration between Patrick McNeil (b. 1975, Edmonton, CA) and Patrick Miller (b. 1976, Minneapolis, MN). Since its inception in 1999, FAILE has attained global recognition for their pioneering use of wheatpasting in the increasingly established arena of street art, and for their explorations of duality through a fragmented style of appropriation and collage."
de http://en.wikipedia.org/wiki/Faile_(artist_collective)
a street art scene ( a cena da arte da rua ) também tem os seus cromos.
Greenberg tentou distinguir vanguarda e kitsch, mas o curso da arte inviabilizou cada vez mais a operacionalidade e a eficácia teórica dessa distinção. A vanguarda (metáfora guerreira e leninista) felizmente desapareceu, ou subsiste enquanto provocação sob a fórmula "a vanguarda é o mercado". É tudo arte ( ou Arte, tanto faz), alguma melhor outra pior - mas tem sido habitual nos últimos tempo o museu (ou Museu), além de assimilar tudo, combater a possibilidade de distinguir, ou avaliar. A diferença, reduzida à expressão mais simples, e sem qualquer demonstração valorativa, sem qualquer legitimação estética e judicativa dotada de respeitabilidade, é que há coisas que o "meio da arte" coopta e de que fala e outras coisas que cala ou ignora. Umas coisas são arte séria e outras coisas não, mas a fronteira é apenas institucional, ou social, e pode mudar de um momento para outro sem aviso nem argumentação suficiente.
De vez em quando, como agora, o meio institucional da arte (ou as margens desse meio, no caso a Fundação EDP e sector cultural da CML) desorienta-se - e não trava as intromissões exteriores a tempo. É, em especial no caso da chamada "arte pública" do Portugalarte, uma situação pungente em termos de gestão da cidade, é certamente uma situação cultural desprestigiante para o país (pelo menos do ponto de vista do meio da arte "séria"), é talvez um caso de lesa-património urbano, mas é igualmente um valioso problema prático-teórico para a crítica de arte, se esta ainda existe no espaço da informação pública.
Acho que os turistas estão tão admirados quando nós... ou talvez tenham sido previamente avisados da bienal, através da Up (a revista de bordo da Tap).
Está uma bienal feita ao nível dos resorts de luxo na República Dominicana - só para turistas, com obras de dimensão considerável e igualmente com pouco interesse em envolver a comunidade "autóctone" aos locais, onde a bienal está presente.
Há muitas questões, que me fazem pensar em tudo isto:
* não se entende qual foi o critério de selecção (se algum houve) dos artistas e/ou obras;
* não há qualquer comunicação esclarecedora sobre o evento (a Bienal apareceu e um dia desaperecerá, da mesma forma);
* salvo algumas excepções não houve qualquer interactividade com a comunidade artística do país, nem grande envolvimento (para além do necessário envolvimento financeiro);
* não se entende a dispersão geográfica do evento, mas curiosamente este ano o Allgarve não contou com a participação de Serralves (mas existe a Bienal em Vila Real de Sto António);
* não se sabe em que regime os trabalhos foram comissionados, mas sabe-se que muitos - senão a maioria é "Made in Portugal" (1);
* não se sabe qual será o destino das obras de arte em exposição, mas visto que foram pagos por dinheiros públicos (desde a entidade corporativa, EDP, que irá ser privatizada em breve às autarquias que apoiaram o evento).
À parte das polémicas que estas questões levantam, é interessante ver esculturas espalhadas pela cidade, em locais onde menos se espera; ou então perceber-se que estão nos lugares mais óbvios (talvez para poupar na comunicação - nem umas bandeiras presas aos candeeiros tem direito).
Pensei que a escultura do "homem-estátua", no Chiado, nem fazia parte da Bienal, mas sim da iniciativa "Chiado em Festa", como monumento ao artista de rua... afinal enganei-me.
É também igualmente interessante perceber que colocar esculturas em praças onde já existiam esculturas não é uma grande ideia, em especial, quando desenquadradas de todo o pesado contexo.
Como já alguém referiu aqui http://artforum.com/diary/id=26081 é um conceito de bienal OVNI. Talvez um modelo a seguir, quando recentemente se começou a debater o próprio conceito de bienal, numa altura em que as bienais crescem como cogumelos pelo mundo fora e estão em competição aberta com as grandes feiras de arte.
(1) Segundo o que se poderá ler em http://www.cityhallnews.com/newyork/article-586-lawn-art-melting-sculptures-in-city-hall-park.html acerca das esculturas figurativas do Robert Melee (as mesmas, ou semelhantes às que estão nos Restauradores): "Melee made the City Hall Park sculptures in a foundry in Portugal." Será essa fundação, em Grândola?...
Posted by: Pedro | 08/06/2010 at 16:47
Obrigado, Pedro. Fui hoje finalmente à Bib. Camões ler o texto do Celso Martins no Actual/Expresso (24 Jul.), que me tinha escapado. É um texto crítico (e certamente o único que saiu) e não a investigação que os jornais tinham a obrigação de fazer (o Público parece ter feito silêncio absoluto, e não admira - é um jornal que, em especial na área da cultura, se faz de de campanhas e promoções, não de notícias e pesquisa).
Desde o princípio (a inauguração, a volta pela cidade, com fotos no Flickr) que acho que o mais importante seria investigar o que há de oculto nesta história: os dois coleccionadores-directores, o proprietário em Grândola/Comporta, a indústria da chamada escultura pública, de que você confirma uma pista (coisas made in China, coisas feitas cá, etc), a falsa Associação Portugal Arte (!?),o subsídio megalómano do Mexia da EDP (negócios privados ou públicos?).
Caso de polícia, certamente (é maneira de dizer, porque arte e negócios é um casamento habitual ou natural), mas também uma oportunidade para romper os estrangulamentos culturais-corporativos e comissariais do costume (é bom que não tenham todas as bienais a marca Delfim-Sardo, para trazer alguma imprevisibilidade ao sistema). Ou seja, este é um acidente inesperado e intrigante num mercado demasiado regulado, a que eu pus a hipótese de chamar uma bienal democrática. Para o povo, sem povo (para além das fotos feitas com as esculturas de rua, por turistas e crianças...)
É um caso de puro comércio, em que só espanta a implantação numa capital europeia em Lisboa, onde se esperaria que os conselheiros tivessem a capacidade de filtrar os aventureiros sem créditos - e caíram a CML e a EDP, envolveram o chamado Pavilhão de Portugal, perseguiram-se já à beira da data de abrir artistas estrangeiros e portugueses que abrilhantassem o rol dos desconhecidos (e alguns deixaram-se enganar), etc.
Posted by: AP | 08/06/2010 at 19:16