Para memória futura e para "contextualizar" a inauguração de hoje (todos ao Pavilhão de Portugal às 19h!) recuperam-se documentos históricos de grande importância para a arte em Portugal (ou documentos artísticos de grande importância para a história de Portugal). Duas fotografias de 2009, do anúncio público da bienal de Lisboa e Grândola. Na Central Tejo.
Foto 1:
e Foto 2:
Encontram-se no site da CML: " Bienal Portugal Arte 2010 - Uma grande manifestação de arte pública, de nível internacional, está prometida para Lisboa e Grândola, em 2010, numa parceria que junta as autarquias das duas cidades, a EDP e a Associação Portugal Arte." [2009-09-17]
O canhão é uma "obra" de Chris Burden, um ex-famoso performer norte-americano. Fechou-se o Tejo e fez plof. Foi uma cena triste que a imprensa especializada silenciou por (des)pudor. "A apresentação do evento decorreu no Museu da Electricidade, no dia 17 de Setembro, no final do Colóquio "Os Museus e a Cidade Contemporânea", que reuniu curadores de museus, arquitectos e artistas de diversos países." (sic) De facto não houve colóquio e os reunidos disseram-se ludibriados, mas em privado. Vários deles, de cá e lá de fora não sabiam que vinham para uma sessão pública e para o anúncio da dita bienal.
O tal Chris Burden não se deu ao trabalho de cá vir (afinal veio e está na foto 1 - é o primeiro à esq. - ver comentário abaixo) e ignoro se o empresário-coleccionador Miguel Carvalho (produtor de arte pública?) é quem aponta para o canhão (não é). Os outros são conhecidos (será o patrão António Mexia o que aponta para o canhão? - o tal que terá "investido" um milhão de euros nesta história) e alguns também se terão deixado enganar, ou perceberam tarde demais.
Nos bons tempos das neo-vanguardas, o Chris Burden* ficou famoso por uma acção em que um assistente disparou uma arma sobre o seu braço. Continua a apreciar tiros, agora de canhão, e o presidente da CML teve uma trabalheira para mandar interromper o trânsito no rio. Tudo isto foi confidencial e rídículo como sucede com imensos programas públicos de arte contemporânea. Entretanto, convém precisar que o caso vem do tempo da anterior vereação, num contexto mais obscuro.
#
O Site do Portugalarte conserva um registo da sessão de 2009 e o nome do "all-star curatorial advisory team": ver http://www.portugalarte.org/?page_id=47
"Curators Conference 2009 / Curatorial Council / It is our hope that Portugal not only becomes a center of global contemporary art but also the hub for hosting and discussing global contemporary art initiatives. With an all-star curatorial advisory team, we hope to support many initiatives that will take place all over the world supported and initiated by conversations and actions that occur in Portugal."
Curatorial Council Members: Daniel Baumann, Yilmaz Dziewior, Philipp Kaiser, Lauri Firstenburg, João Ribas, Beatrix Ruf, Paul Schimmel, Hans Ulrich Obrist, Marc-Olivier Wahler.
Alguns deles são bem conhecidos e sumiram-se depois. Não sei se é um caso de conto do vigário, mas o certo é que apenas permaneceu o nome de Lauri Firstenberg (the founder and Director/Curator of LA><ART – the leading independent nonprofit contemporary art space in Los Angeles committed to the production of experimental exhibitions, public art initiatives and emerging artist publications. )
Para o referido pseudo-colóquio intitulado "Os Museus e a Cidade Contemporânea" foram anunciado dez nomes, oito curadores e dois arquitectos, quatro portugueses e seis estrangeiros, gente do Palais de Tokyo, do MUSAC, da Kunstahle Zurich, etc. As figuras nacionais foram João Fernandes (que me disse ter vindo ao enagano), Alexandre Melo, Delfim Sardo e Nuno Grande, e todos eles foram também desaparecendo.
#
À data, um leitor atento e testemunha dos factos enviou um esclarecedor comentário para este Blog que aqui se repete:
"Devia ter acudido ao divertido evento de apresentação da "bienal". Perdeu momentos inesquecíveis, só comparáveis ao lançamento, há uns anos, da Ellipse Foundation no Museu Vieira da Silva, quando o Ministro da Cultura daquela época enalteceu a importância daquela colecção para Portugal e as qualidades filantrópicas do banqueiro que a promovia. Recordo bem esse dia e a pergunta que todos faziam no final da apresentação: "O que é isto?". Os anos passaram e a duvida manteve-se, até há pouco tempo.
Ora com esta "bienal" aconteceu algo de semelhante. Depois de presenciarmos um colóquio desconexo (parece que os oradores não sabiam que iriam falar para uma plateia, pensavam que a conversa se faria em privado, entre eles!), uns abraços repetidos à exaustão entre o empresário Miguel Carvalho, o presidente da EDP, o Presidente da Câmara de Lisboa e o Presidente da Câmara de Grândola (parece que o empresário tem por lá uma propriedade), todos se interrogavam no final: "O que é isto?!".
Entretanto, para tornar a coisa ainda mais colorida, no final da apresentação meteram o Chris Burden a disparar uma bala de canhão (parece que produzido pelo empresário Miguel Carvalho) para o Tejo, aí já com a presença do Ministro da Cultura, que desta vez, não sei se por ter estado em Conselho de Ministros toda a manhã, se por opção própria (eu preferiria esta tese), veio apenas para a performance do artista.
Isto fede por todos os poros e entre os "verdadeiros artistas" da manhã não estava o pobre Burden. Mas enfim, cá no burgo já nos habituámos às trapalhadas dos negócios disfarçados de cultura, e à inabilidade confrangedora dos políticos para lidarem com estas situações. Seguimos atentos."
#
*( http://en.wikipedia.org/wiki/Chris_Burden : Burden's reputation as a performance artist started to grow in the early 1970s after he made a series of controversial performances in which the idea of personal danger as artistic expression was central. His most well-known act from that time is perhaps the 1971 performance piece Shoot, in which he was shot in his left arm by an assistant from a distance of about five meters. Burden was taken to a psychiatrist after this piece. Many interpretations have been made regarding this piece. Many saw it as a statement about both the war in Vietnam and the American right to bear arms.)
De acordo com tudo, excepto que o Chris Burden não veio. Ele é o da esquerda (de óculos escuros) na imagem de cima, para onde A. Melo está a olhar.
Posted by: Pedro C | 08/01/2010 at 12:11
Meus senhores
Para quem não sabe o famoso canhão do sr. Chris Burden, é apenas porque foi ele que deu nome à obra de arte. O canhão foi fabricado em portugal, mais concretamente em Melides numa empresa de fundição que se chama Fundiarte. O canhão tem tudo menos de Americano.
Posted by: Sónia Pereira | 08/08/2011 at 16:25