Este terá sido o primeiro cartaz turístico português, publicado pela SOCIEDADE PROPAGANDA DE PORTUGAL, em 1907:
Não está na exposição "Viajar". Em baixo, Postal ilustrado do IV Congresso Internacional de Turismo (o 1º em Portugal) da autoria de Raúl Lino (1879-1974), que foi um influente membro da Sociedade Propaganda de Portugal, 1911:
reproduzido a preto e branco na exposição e no catálogo (!) da exposição "Viajar", org. do Centenário da República.
( de http://oeiraslocal.blogspot.com/2008/04/portugal-o-turismo-no-sculo-xx.html , reproduzido de PORTUGAL - O Turismo no Século XX, Paulo Pina )
#
Temos agora uma nova maneira de fazer exposições: digitalizam-se ilustrações (fotografias, folhetos, cartazes, estampas, páginas de revistas), pagina-se com espaço para legendas e pequenos textos de informação (ou propaganda), como se se tratasse de um desdobrável ou de um catálogo, e no fim imprime-se à escala do painel, da parede, ou do corredor. Acrescentam-se uns elementos cenográficos para criar ambiente. Chama-se design de exposição e dá para encher a Cordoaria, as galerias dos Ministérios e, se for preciso, todo o Terreiro Paço... (Faziam-se assim as exposições didácticas, antes, nas escolas e agremiações com poucos meios: uns recortes das revistas, umas fotocópias, e boa vontade. A diferença é o scanner e a impressão digital - sai nos vários tamanhos necessários: na parede, no desdobrável e no catálogo. Fácil. Mas não sei se é barato...)
Para os museus é a solução ideal para os tempos de crise. Para quê recolher quadros e pagar seguros? Tanto faz Picasso, como impressionistas, ou Miguel Ângelo, basta copiar!
Quem viu a exp. do Museu da Presidência nos Museus da Politécnica sobre a participação de Portugal na 1ª Guerra sabe distinguir o que é uma boa exposição histórica e os exercícios preguiçosos de paginação expositiva (?) a que a comissão do Centenário da República se tem dedicado. Outro exemplo disponível é o da exp. sobre as invasões napoleónicas que se pode e deve ir ver a Ciudad Rodrigo.
#
Esperava que esta fosse a oportunidade para se reunir informação sobre a Sociedade de Propaganda de Portugal, uma entidade associativa criada em 1906 e de longa vida, de orientação apolítica e que reuniu monárquicos e republicanos, católicos conservadores e dirigentes da Maçonaria, onde se expressaram com nitidez os interesses das elites nacionais, ultrapassando em muito o âmbito da promoção do turismo.
A SPP era uma "emanação" não partidária das elites do país, visando «promover, pela sua acção própria, pela intervenção junto dos poderes públicos e administrações locais, pela colaboração com este e com todas as forças vivas da nação, e pelas relações internacionais que possa estabelecer, o desenvolvimento intelectual, moral e material do país e, principalmente, esforçar-se por que ele seja visitado e amado por nacionais e estrangeiros». "Colocar o país no mapa do turismo do mundo e criar os meios de defender e propagandear o bom nome de Portugal, lá fora" - segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - cuja entrada parece ser a mais importante, ou quase única, informação sobre a SPP (não figura no Diccionário de História do Estado Novo, ou na actualização do de História de Portugal !!).
Em 1906, Leonildo de Mendonça e Costa (tb fundador e director da Gazeta dos Caminhos de Ferro) terá reunido cem sócios fundadores, de que se destacam Magalhães Lima (1850-1928), grão mestre da Maçonaria em 1907, e o 1º Conde de Penha Garcia (1872-1940), ministro da monarquia, e com longa carreira posterior (animador do Grémio Português de Fotografia e seu presidente em 1938, se não se tratar já de um 2º Conde). Em 1925 os sócios seriam 16 mil, mais os residentes fora do pais - a Enciclopédia fala de um grande movimento nacional e refere que seriam 75 mil sócios pouco depois.
Em 1907 a SPP editou o 1º Cartaz Turístico: “Portugal the Shortest Way between América and Europe”; em 1911 promove o I Congresso Internacional do Turismo, depois a formação de comissões de turismo em cidades e vilas, uma comissão de hotéis e a regulamentação da respectiva indústria, uma pousada em Gouveia, etc.
Mas por aí passam tb as 1ªs Casas de Portugal em Paris e no Rio; a instituição da cadeira de estudos portugueses na U. de Rennes em 1921 (Encic.); a secção Amigos de Lisboa, que depois se emancipou; o Clube Os 100 à Hora (desde 1934 associa-se à SPP o nome Touring Club Português). A iniciativa dos desportos de inverno na Estrela, o incentivo do xadrez, a promoção da fotografia e do cinema; o patrocínio da agência Lusitânia, fundada em 1944 sob a sua égide (Enc.); a secção Grupo de Estudo e Propaganda do Ultramar (GEPU), uma excursão cinegética a Angola em 51, etc. Seriam os últimos anos da SPP, mas não sei como e quando se extingue.
Por vezes a SPP aparece confundida com o SPN, o Secretariado da Propaganda Nacional, criado em 1933. Em várias áreas, o regime foi oficializando e absorvendo os serviços da SPP e integrando ou fazendo coincidir as funções dos seus quadros dirigentes. Nuns casos por via da efectiva identificação de grande parte das "elites" com o regime e noutros, com especial eficácia, por via do Código Administrativo de 1936 e da integração do sector do turismo no SPN.
Magalhães Lima foi o 1º pres. da Assembleia Geral da SPP; não por acaso, o lugar era de
Marcelo Caetano em 1954. Luís Lupi foi director-secretário desde 1930 e
era director secretário geral em 1954. (Encic.)
Se a colaboração
estreita
da SPP com os governos foi uma regra desde a monarquia à República e
depois desta, ao longo da Ditadura e do Estado Novo, é notório que o
sentido dessa continuidade tem a ver com a expressão dos mesmos
interesses de classe para lá das diferenças de regimes. Talvez por
isso a informação sobre a SPP seja tão escassa.
#
O Grémio Português de Fotografia (GPF) parece ter-se constituido informalmente em 1931 (A.Sena) como secção da Sociedade de Propaganda de Portugal e organizava desde 1932 salões na sua sede, e mais tarde na Sociedade Nacional de Belas Artes e no Clube Fenianos, no Porto..
Em 1937, o Grémio Português de Fotografia tinha apenas cem sócios (pagavam 50$ anuais os de Lisboa e 30$ os da província, o que seria um preço elevado). Era um número muito baixo de sócios, como a revista Objectiva então assinala, mas só muito mais tarde aparecem novas associações: o Grupo Câmara em 1949, em Coimbra; o Foto Clube 6 x 6 em 50, Lisboa; a Associação Fotográfica do Porto em 51.
#
Não se poderia esperar das comemorações republicanas uma análise de classe ou sociológica da promoção do turismo e da respectiva associação aos diferentes "sports" de elite, incluindo entre estes a fotografia. Mas é pena ver delapidada alguma informação recolhida, por ex. o "Anúncio da Sociedade Propaganda de Portugal - Album Casas Recomendadas, Lisboa", 1911, BNP, que aparece ampliado e legível na parede da exposição (O Turismo e a República) e é reduzido a formato ilegível na pág. 58 do cat. - é um documento importante por sumariar actividades realizadas pela SPP nos 1ºs anos.
#
A mais extensa informação sobre a SPP - no âmbito do turismo - encontra-se em:
OS GUIAS DE TURISMO E A EMERGÊNCIA DO TURISMO CONTEMPORÂNEO EM PORTUGAL (DOS FINAIS DE SÉCULO XIX ÀS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX), de Ana Cardoso de Matos e Maria Luísa F.N. dos Santos (Departamento de História da Universidade de Évora. Investigadoras do CIDEHUS-UE)
ou
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-167.htm
Comments